ARTIGO - A MATANÇA DOS SANTOS INOCENTES

Carlos Augusto Cruz

Médico e Advogado

Relata o Livro da Lei dos cristãos, a Bíblia Sagrada, ainda no seu primeiro Evangelho, o de São Mateus, no Capítulo 2, versículos de 16 a 18, o episódio da “Matança das Crianças”; situação aquela que os diversos credos religiosos Ocidentais passaram a dar conhecimento com o nome de: “A Morte dos Santos Inocentes”.

Tal episódio deve-se a irritação do rei Herodes Antipas, Tetrarca Romano, motivado pela presença dos três Reis Magos em seu território, vindos do Oriente, para saudar a criança, e um Rei, que havia nascido nas proximidades de Jerusalém. Os três eis Magos não eram hebreus, nem romanos, acreditavam apenas nas coincidências e conjunções astrais, viram no firmamento a presença de uma estrela que indicava para os mesmos, o nascimento de um Rei que estava vindo para unificar o seu reino, e para juntar desde o mais longínquo Oriente até os mais recônditos limiares do Ocidente, as doze tribos de Israel num só povo e numa só nação: A dos filhos de Deus, que seriam remidos pela obra, ressurreição e pelo sangue do “Cordeiro”.

Herodes Antipas irritado porque os Reis Magos foram avisados, em sonho, para retornarem por outros caminhos, deixando aquele Tetrarca na espera de saber onde o Rei teria nascido, editou o tão horrendo Édito, que determinava aos soldados romanos, passarem a fio de espada, toda criança que havia nascido ha menos de dois Anos.

É lógico que, diante disso seus soldados patrocinaram uma das maiores carnificinas nas terras de Judá, que ficou conhecida como “A matança dos Santos Inocentes”.

Por incrível que pareça ainda hoje alguns grupos, estejam eles no poder ou não, aqui e ali, tentam reeditar o Decreto de Herodes, autorizando mulheres que, grávidas de um feto eugênico ou por questões políticas, tais como ser ou não ser judeu, (Hitler, na Alemanha nazista), nascer sem cérebro, (fetos anencéfalos), nascer com a cabeça menor que o normal (fetos microcefálicos), nos casos de Zica ou de outras doenças. Elas passam a ter o apoio desses grupos para abortarem.

Mais recentemente estamos vivendo uma verdadeira avalanche de crianças, adultos, homens e mulheres, mortos na travessia do Mar Egeu, como fugitivos dos horrores da guerra na Síria, dos quais o menino Yann, encontrado morto pelo próprio pai, numa praia grega, tornou-se o maior símbolo do horror dessa guerra fraticida.

E assim, de retalho em retalho, vamos tecendo o grande cobertor do horror e da morte; da morte dos mais pobres e da falta de solidariedade humanas.

Sob o ponto de vista moral, ninguém nem sequer fala. Os demais países fingem-se de cegos, surdos e mudos, enquanto a fome, a morte e a miséria, se apoderam daquela parte do planeta e ninguém, sequer, abre uma discussão a respeito.

Nenhum teórico, diante de tais fatos, tentaria definir o que seja Moral ou Ética numa hora dessas, porque se assim o fizer, correrá o risco de atingir aos governos que, indiferentes a tudo, ainda proíbem que essas pessoas se utilizem da única tábua de salvação que possuem, ou que pensam possuir, – o desembarque nos países vizinhos - E em assim procedendo, pode-se dar o silêncio como resposta, para milhares e milhares de seres humanos.

Os dois maiores teóricos da Moral Cristã Ocidental: Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, definiram Ética afirmando que “A Ética está para a Moral, assim como a musicologia está para a música. Que a Ética é a ciência da conduta. Enquanto que a  Moral é um dos aspectos do comportamento humano,  a Ética  é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”.

Pobres Santos, ninguém hoje em dia dá ouvidos para seus ensinamentos, a não ser alguns que têm um compromisso maior com a humanidade.

Para alguns grupos é muito mais fácil determinar o fim de uma vida indefesa, ainda no ventre materno, pelo fato dele ser ele um ser humano indefeso, e portador de uma eugenia qualquer. Alguns até acham que fazer o dever de casa, e diante de uma epidemia como a que estamos vivendo nos dias atuais, de dengue, chicungunha e zica, esta nova solução seja melhor que reativar a antiga SUCAM (Superintendencia de Campanhas), cujos funcionários estão por aí, cedidos a outros órgãos, sem poder fazer o que eles sabem melhor do que ninguém, que é trabalhar as campanhas, qué dar uma ordem exdrúxula dessas.

Será que com essa permissividade desses grupos, inclusive no Brasil, nós estaremos nos defrontando, dois mil anos depois, com uma nova matança dos Santos Inocentes?

Será que temos, e não é difícil que tenhamos, um novo Herodes travestido de governante na sociedade atual? Que já tivemos alguns, em outras épocas, ninguém tem dúvidas, será que mais uma vez, estribados na situação econômica do país, vamos reeditar, novamente a figura do velho Herodes Antipas, e do seu Édito da Matança dos Santos Inocentes?