Desinformação: “É como entrar no esgoto das redes todos os dias”

Se você fica cansado de tanto ver notícias falsas na internet, imagine como é a rotina do jornalista Daniel Bramatti. Todos os dias, por força do ofício, ele e sua equipe passam horas procurando, dissecando e desmentindo boatos, teorias conspiratórias, fake news e outras formas de desinformação em massa que circulam pelas plataformas digitais.

“As pessoas que trabalham nessa atividade, realmente, precisam ter uma espécie de carapaça, porque é como entrar no esgoto das redes todos os dias”, relata ele.

Bramatti é o editor do Estadão Verifica, um serviço de fact-checking (checagem de informações) do jornal O Estado de S. Paulo, criado em 2018 para combater a desinformação nas eleições daquele ano. Hoje o serviço funciona com uma equipe de 25 profissionais, checando conteúdos que são enviados por leitores ou que eles mesmos detectam nas redes sociais, ou que são apontados como suspeitos pelas plataformas digitais parceiras (Facebook, WhatsApp, TikTok e Telegram). Juntando tudo, são cerca de 200 a 250 checagens por dia, segundo ele. Algumas dessas verificações são publicadas no site do Estadão Verifica e enviadas por WhatsApp a assinantes cadastrados; outras são submetidas como um relatório às plataformas, para que elas possam ajustar seus algoritmos de modo a reduzir a visibilidade desses conteúdos, marcá-los com algum tipo de aviso ou até mesmo tirá-los de circulação.

Também editor do Estadão Dados e ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Bramatti participou de um evento no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, em 24 de agosto, que discutiu a atuação do jornalismo brasileiro na última década. “Qual é o papel do jornalista? Uma resposta fácil seria: o papel do jornalista é informar. Mas hoje, o que a gente vê é que o público não está mais interessado na informação e nos fatos”, afirmou ele. No cenário atual de comunicação digital, quem está se saindo melhor “é quem monetizou o ódio e a desinformação”, e não quem faz jornalismo sério ou advoga por causas nobres, completou ele.

Nos dias seguintes ao evento, Bramatti conversou com o Jornal da USP sobre o problema da desinformação. A entrevista abaixo se soma a uma série de reportagens especiais que o jornal vem publicando sobre esse tema desde o início de julho, chamada Desconstruindo a Desinformação.

Jornal da USP