"Os ônibus escolares nem sempre estão em bom estado, tanto é que muitas mães reclamam. Ele estava com problema no freio", diz monitor

O monitor do ônibus que capotou e caiu em uma ribanceira, na tarde da última quarta-feira (23), no município de Chã Grande, Zona da Mata de Pernambuco, divulgou um detalhe importante sobre o incidente.

Ele e mais duas crianças, de 7 e 10 anos, tiveram alta hospitalar, na madrugada desta quinta (24), do Hospital da Restauração. O monitor Guilherme dos Santos, de 22 anos ,concedeu uma entrevista exclusiva à reportagem da Folha de Pernambuco.

O funcionário da Escola Laerte Pedrosa disse que o coletivo que levava, além dele e o motorista, 15 alunos da rede municipal apresentou problemas no freio, ainda na manhã de ontem. Além de atuar no ônibus com as crianças, ele também auxilia os alunos na instituição de ensino.

"Os ônibus nem sempre estão em bom estado, tanto é que muitas mães e outras pessoas reclamam. Mas, sempre que possível, tem algum ajuste no ônibus quando está com problemas. Tanto é que no dia [do incidente], o ônibus estava querendo dar defeitos. Logo cedo, pela manhã, ele estava com problema no freio, aí ajeitou, tudo direitinho e estava funcionando normal", revelou.

O funcionário afirma que o veículo passou por um conserto na garagem da Prefeitura, e que ele presenciou o momento do reparo. Ele pontua ainda que isso não quer dizer, necessariamente, que seja o motivo do acidente.

Guilherme aproveitou o espaço para contar outros detalhes sobre o incidente. Ele afirma que, durante a viagem, o veículo subia uma espécie de ladeira, que não era tão íngreme, mas a estrutura da pista era do tipo rampa. No momento em que tudo aconteceu, o monitor estava dando assistência às crianças.

"Para ser sincero, foi algo realmente muito rápido. Tipo, eu estava de costas, porque eu estava olhando as crianças, aí eu não olhei pro caminho. Quando eu fui perceber, o pneu já tinha saído do caminho. Eu estava doido para reagir, mas o ônibus começou a girar, girar... Quando eu fui ver, fui jogado [para fora] do ônibus, não sei como. Depois eu me levantei e ajudei quem eu pude e fui subindo", afirmou.

No final da entrevista, Guilherme foi questionado se havia tido contato com alguma das crianças que tiveram alta médica do Hospital da Restauração. Ele disse que recebeu notícias de duas delas.

"Uma mãe mandou um áudio com a filha falando e também, quando eu estava vindo, na ambulância, um pequeno que teve alta veio comigo" finalizou.

O que diz a Prefeitura de Chã Grande?
A reportagem tentou contato com a gestão de Chã Grande, mas não recebeu retorno e nem teve as ligações atendidas. O espaço para resposta segue aberto.

A Polícia Civil de Pernambuco afirma que as investigações foram iniciadas e seguem até esclarecimento do caso.

O coletivo que capotou levava, além do motorista e do monitor, de 22 anos, 15 alunos da rede municipal de Chã Grande, de 3 a 12 anos. O SAMU informou que a ocorrência foi registrada por volta do meio-dia, na região do Sítio dos Macacos, Zona Rural do município.

O número de vítimas, inicialmente, segundo a própria Prefeitura de Chã Grande era de 14 alunos que se dirigiam à Escola Laerte Pedrosa, porém, pelas 16h, o número foi atualizado para 15, além do motorista e monitor.

Logo depois do acidente, o motorista do ônibus passou por testes de alcoolemia, feitos pela Polícia Militar. O resultado apresentou negativo para o consumo de álcool.

Assim que atendidas pelo SAMU, as vítimas foram levadas para um hospital local. Após os primeiros socorros, cinco alunos e o monitor foram levados para o Hospital da Restauração. Mas, para realização de exames específicos, as outras vítimas foram transferidas para o HR.

Um levantamento feito pelo Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE) verificou que 99% dos ônibus escolares pernambucanos não possuem condições mínimas de funcionamento. Os dados foram divulgados em abril deste ano. Do total, 96% não possuíam o selo de inspeção emitido pelo Departamento de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE). A operação fiscalizadora observou a qualidade do serviço do transporte escolar oferecido aos alunos de escolas públicas municipais do Estado.

Na época, foram inspecionados 831 veículos dos 183 municípios de Pernambuco, exceto o Recife. Nos dados divulgados, 62% dos condutores não possuíam curso para condução de ônibus escolares, 22% apresentavam irregularidades com habilitação, 67% dos veículos tinham problemas nos cintos de segurança, 78% dos coletivos possuíam irregularidades no tacógrafo e 30% dos veículos tinham pneus carecas.

Confira abaixo os dados divulgados em abril pelo TCE-PE:
Irregularidades em cintos de segurança - 67% 
Condutores sem curso para condução de ônibus escolar - 62%
Veículos sem selo de inspeção do DETRAN - 96%
Veículos com pneu careca - 30%
Condutores com habilitação irregular - 22%
Veículos com irregularidades no tacógrafo - 78%

Idade dos veículos: 
0 a 5 anos: 184 (22,72%)
6 a 10 anos: 217 (26,79%)
11 a 15 anos: 248 (30,62%)
16 a 20 anos: 56 (7%)
21 a 30 anos: 83 (10%)
Mais de 30 anos: 22 (3%)

Folha PE Foto Reprodução TV Globo