Consórcio Nordeste rebate declarações separatistas do Governador de Minas Gerais

O Consórcio Nordeste reagiu às falas do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que defendeu maior protagonismo econômico e político dos estados do Sul e Sudeste, numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no último sábado (5). Zema também defende uma frente das siglas de direita do Sul e Sudeste para aprovação de pautas no Congresso, e sobretudo, para a próxima disputa eleitoral em 2026.

O consórcio, presidido pelo governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), em nota, afirma que a fala de Zema representa “um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste” e destaca que esses estados vêm sendo “penalizadas ao longo das últimas décadas” nos projetos nacionais de desenvolvimento.

Diz, ainda, que o Consórcio Nordeste nega “qualquer tipo de lampejo separatista” e que isso, inclusive, está explícito no próprio slogan do grupo: O Brasil que cresce unido. “Já passou da hora de o Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais”, prossegue a nota.

O grupo procura desfazer quaisquer tentativas de se considerar que a união dos estados em consórcio seja um combate aos outros. “É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento”, esclarece a nota.

As declarações de Zema, recebidas como xenófobas, racistas e separatistas, não geraram indignação só do Consórcio Nordeste. Elas desagradaram políticos e figuras públicas da direita liberal à esquerda. Até o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) criticou a postura do governador. Em nota, Neves afirmou que a fala de Zema estabelece "alvos" e discrimina regiões do país. "Minas nunca foi antagônico às regiões mais pobres do país, até porque fazemos parte delas, muito menos imaginou liderar esse antagonismo", acrescentou o parlamentar.

As falas de Zema foram recebidas como uma afronta ao tratar da reforma tributária, já que o governador mineiro defende que o Sudeste e o Sul precisam ir além do protagonismo econômico e garantir também o protagonismo político sobre o restante do país, desrespeitando, inclusive, o federalismo.

O governador de Minas Gerais chegou a comparar o Nordeste, o Centro-Oeste e o Norte com "vaquinhas que produzem pouco", mas recebem "tratamento bom". Já o Sul e o Sudeste, segundo ele, são as que "produzem muito" e não teriam o mesmo tratamento.

Como de costume, Zema não trouxe qualquer dado científico para embasar as ideias dele, nem o básico sobre a pobreza e fome no Brasil, do relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra que o cenário é mais alarmante nas regiões Norte e Nordeste. “A incidência da pobreza nessas regiões atingiu mais de 40% de suas populações em 2021”, aponta o relatório.

Veja a íntegra da nota:

"O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.

O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.

Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”.

Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais.

É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.

Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.

interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.

Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura."

Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023. 

JOÃO AZEVÊDO – Presidente do Consórcio Nordeste

Folha PE