Jogador de futebol baleado em ação policial na BA tem medo de perder oportunidade de jogar fora do Brasil: 'não sei o que vai acontecer'

O jogador de futebol de 24 anos que foi baleado na perna durante uma ação policial no bairro de Itinga, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, contou que tem medo de perder a oportunidade de assinar contrato com um time do Líbano, no Oriente Médio.

O caso aconteceu na segunda-feira (31). Além de Alessandro Miranda Santos, conhecido como "Pantico", um amigo do atleta foi ferido após os disparos de arma de fogo.

Alessandro Miranda Santos contou que esperava o visto de trabalho para assinar com o time de futebol. O empresário que intermediou a negociação tem perguntado sobre o tempo de recuperação do atleta e se ele vai chegar bem.

Segundo o jogador, ele assistia televisão com a mãe, quando decidiu pegar um copo de café e conversar com amigos na porta de casa. Nesse momento, policiais militares teriam chegado na localidade atirando.

"Veio uma viatura deflagrando tiros contra a gente. Saí correndo para me proteger, mas logo em seguida, tinha uma viatura na outra rua. Fui baleado e fiquei caído no chão", relatou o jogador.

Alessandro Miranda, que já atuou por times da Bahia e Piauí, contou que ele e o amigo só foram socorridos pelos policiais cerca de 40 minutos depois de serem atingidos.

"A bala entrou e saiu, mas graças a Deus não atingiu os ossos daminha perna. Fui atendido no Menandro de Farias e levado para a 23ª delegacia", afirmou.

O jovem foi baleado apenas sete dias após o menino Gabriel, de 10 anos, ser atingido em outra ação policial e morrer na mesma cidade.

O jogador de futebol informou que, na unidade, foi coagido a assumir que era o dono de armas e drogas que teriam sido apreendidas na ação policial.

"Ela perguntou se as drogas e a arma eram minhas, que os policias tinham dito que eram minhas. Só falei que não era minha, me apresentei como atleta profissional. Ela entendeu e disse os policiais queriam que eu ficasse preso em flagrante", disse Alessandro Miranda.

"Queriam que eu assumisse a arma e a droga", ressaltou.

O atleta não soube explicar o motivo dele ter sido liberado. "Certamente ela percebeu que eu uma pessoa inocente".

Alessandro Miranda detalhou que nunca tinha visto o material apreendido pelos PMs.

"Eu nunca tinha tocado naquela arma e nem na droga. Eu nem sabia, porque no local não tinha arma e droga, mas quando cheguei na delegacia, os policiais chegaram com elas", contou.
A advogada do jogador, Jéssica Oliveira, detalhou que Alessandro Miranda foi levado para a delegacia, onde foi ouvido e liberado, depois foi encaminhado para o hospital, e teve que retornar para a unidade policial.

As drogas só teriam aparecido neste segundo momento. O jogador disse ainda que, também na segunda passagem pela delegacia, no dia, encontrou outros vizinhos detidos.

"Eu estava no local no momento dos tiros e não vi ninguém com arma, ninguém com drogas. Quando fui baleado, algumas pessoas ficaram sentadas ao meu lado e não tinha drogas e nem armas".

O que diz PM e Civil
Conforme foi informado pela Polícia Militar, os PMs faziam rondas em Itinga na noite de segunda-feira, quando foram informados sobre homens armados na localidade de Jardim Jaraguá. Ao chegar no local, os agentes teriam sido recebidos com tiros e, durante o confronto, Alessandro e outro homem foram baleados.

Inicialmente, a Polícia Civil informou que, com os dois baleados, foram encontradas armas e drogas. No entanto, retificou a informação na noite de quarta-feira (2) e disse, através de nota, que apenas um dos baleados foi autuado em flagrante após ter sido encontrado com as armas e entorpecentes. Entretanto, não foi informado se essa pessoa era Alessandro.

A polícia ainda contou que os dois feridos foram levados imediatamente para o Hospital Menandro de Faria, o que é rebatido pela defesa de Alessandro. Segundo o próprio atleta, ele esperou por cerca de 40 minutos até ser socorrido.

A advogada ainda contou que o celular de Alessandro foi apreendido pela polícia, informação que não foi divulgada pela corporação. Segundo a defesa, mesmo após a apresentação da nota fiscal do aparelho, o celular não foi liberado na delegacia.

Em nota, a polícia ainda informou que na mesma localidade, na segunda-feira, três suspeitos de adulterar documentos de um carro e uma moto foram presos. A 23ª delegacia investiga os casos.

g1 Ba Foto reprodução