ARTIGO - Solidariedade

“Nenhum homem é uma Ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Os sinos dobram por ti”. 

A clássica assertiva de John Donne, poeta inglês do século XVII, aponta para a solidariedade como um dos traços fundamentais da condição humana. O que significa dizer que todos somos responsáveis uns pelos outros.

Isso implica a capacidade de ver e sentir o que se passa no entorno; de olhar para além do próprio umbigo; de sair da área de conforto e ir ao encontro do outro.

Consiste em não apenas ensinar o caminho, mas pegar na mão do outro e levá-lo até o caminho; não apenas ensinar a pescar, mas também pegar no anzol e ajudar o outro a pescar. É, no dizer de Guimarães Rosa, colocar “o coração na miséria alheia”. Ou, como magistralmente ensina o Papa Francisco, “sair de si mesmo rumo ao outro". 

Solidarizar-se, portanto, é ir junto, fazer junto, incomodar-se junto, resistir junto, lutar junto, celebrar junto...

Carregamos em nós infinitas possibilidades, entre elas a de superar o individualismo tacanho que nos avilta e distancia do nosso papel enquanto membros de uma comunidade de semelhantes. Carregamos em nós, igualmente, a disposição para práticas concretas de altruísmo ao serviço da causa humana, bem como do ambiente em que vivemos, nele incluídos outros seres vivos – além da terra, do mar, do ar, dos rios, das florestas.

Só a solidariedade, como valor universal e intrínseco à natureza humana, será capaz de conceber relações verdadeiramente saudáveis, superando toda sorte de egoísmo e proporcionando espaços de efetiva promoção da vida em toda a sua plenitude.

Mas primeiro, conforme pontificou nosso mestre Paulo Freire, “a solidariedade tem de ser construída em nossos corpos, em nossos comportamentos, em nossas convicções”.

José Gonçalves do Nascimento
Escritor

Da Redação RedeGN