Projeto visa potabilizar água de chuva para consumo

O mês de junho é marcado pelas fortes chuvas que atingem o Estado de Pernambuco. E para além de uma água de drenagem pluvial, a chuva, se coletada e potabilizada antes de atingir o solo, cria uma gama de possibilidades para a população.

É possível transformar a água de chuva em água própria para o consumo e minimizar, assim, a demanda dos recursos hídricos para abastecimento. Com base nesse conceito, a mentora da Pluvi Ambiental e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Sávia Gavazza, venceu o Prêmio Bayer de Empoderamento Feminino 2023. 

O Prêmio tem como objetivo acelerar o negócio de mulheres empreendedoras. A startup Pluvi competiu no segmento saúde. “Se você não tem água de qualidade, você não tem saúde. A criança tem seu desenvolvimento intelectual comprometido, os pais faltam trabalho, enfim, toda a parte de desenvolvimento econômico e nutricional pode ficar comprometido. Água é a base da nutrição, por isso que a gente concorreu nesse prêmio na temática de saúde”, disse Sávia.

Com 981 iniciativas do mundo inteiro participando, Sávia conquistou o prêmio após um longo processo de avaliação. No final de agosto, a professora receberá a premiação em um evento no Rio de Janeiro. Após isso, a Pluvi terá uma mentoria focada nos maiores desafios da empresa. 

De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 35 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada no Brasil. No País, segundo Sávia, existem várias legislações que tratam sobre o uso da água de chuva, mas não para fins potáveis. 

“O conceito é captar essa água de chuva antes que ela atinja o solo. A gente coleta a água antes que ela chegue no sistema de drenagem. Então, a qualidade da água de chuva é excelente, especialmente se comparada com as águas que temos nos mananciais brasileiros. É muito mais fácil você tratar e potabilizar a água da chuva.”, destacou. 

A professora pontuou que a água de chuva é uma fonte alternativa de água complementar ao sistema convencional. Dificilmente, o recurso vai poder ser utilizado como única fonte de água. Ela é uma fonte complementar, exceto em regiões como a região Amazônica, por exemplo, em que chove praticamente todos os dias.

Com base no conceito de ter água de chuva como matriz hídrica e possibilitar a promoção de segurança e dignidade para a população, nasceu o sistema de aproveitamento pluvial PluGoW, iniciativa das empresas Aqualito S/A e Pluvi Ambiental. O sistema traz um novo conceito para captação, armazenamento, tratamento e distribuição segura de água da chuva.

O sistema tubular em formato de cálice pode ser utilizado para armazenamento de água do sistema convencional (público) ou de fontes alternativas (chuva ou poço) ao mesmo tempo. Diferentemente dos sistemas convencionais, ele é compacto, pesando apenas 50 kg e possui múltiplas funções. 

“A gente capta a água da chuva, separa o primeiro milímetro, esse primeiro milímetro que de fato lava a atmosfera e a superfície de captação, reservamos e a água de chuva de melhor qualidade vai ser encaminhada a um reservatório no nível do terreno. Desse reservatório a gente bombeia a água para o reservatório Aqualito e do Aqualito essa água desce, passa por um sistema de tratamento e você tem água potável dentro da sua casa, na sua torneira”, apontou Sávia. 

As empresas realizam todo o acompanhamento em relação a água que está sendo consumida. “São feitas coletas de água periodicamente e analisadas em laboratório para conferirmos essa questão da potabilidade da água e, assim, garantir que esteja completamente livre de qualquer impureza”, afirmou o fundador da Aqualito, Felipe Lucas.

De acordo com Felipe, o projeto quebra o paradigma de que a água de chuva não pode ser potável. “A tecnologia vem para suprir a necessidade de você conseguir fazer com que a água de chuva seja utilizada para fins potáveis”, pontuou. 

Na zona rural, a água de chuva para fins potáveis tem cobertura legal, por meio de um decreto federal (9606/2018). Já para o uso potável na zona urbana, não há legislação.

“Está em análise o Projeto de Lei 1397/2023 na Câmara dos Deputados em Brasília para permitir que a água da chuva seja utilizada para fins potáveis também na zona urbana. É o conceito do negócio, não é somente um produto, é um conceito que a gente está trazendo que é uma quebra de paradigma na questão da água de chuva. A cada dia que passa a gente está vendo uma deterioração da qualidade dos recursos hídricos e a gente tem um recurso hídrico em abundância em alguns locais, que é a água de chuva, e que é pouco utilizada”, comentou Felipe. O Projeto de Lei é da deputada federal Iza Arruda do MDB.

Com o intuito de aplicar os conhecimentos adquiridos no Sertão na zona urbana do Recife, a professora Sávia Gavazza estimulou seus alunos a abrirem a Pluvi Ambiental. A startup nasceu como uma empresa incubada no Polo Tecnológico e Criativo da UFPE.  

“A gente trouxe esse conhecimento e percebemos que na zona urbana, em algumas áreas de morro, por exemplo, as pessoas também não tomam banho de chuveiro, assim como o sertanejo, porque não tem água todos os dias”, disse.

Como as áreas de morro, muitas vezes, não comportam um reservatório convencional, a Pluvi resolveu fazer uma parceria com a Aqualito e levar, também para a zona urbana, a dignidade do banho de chuveiro para todos. 

Folha Pe Foto Reprodução