Músicos preservam cultura da sanfona de 8 baixos, símbolo de resistência do forró

“A verdadeira sanfona é aquele instrumento menor, de oito baixos, onde abrindo o fole é uma nota e fechando é outra, ensinada de pai para filho, conhecido no interior do nordeste como pé-de-bode ou concertina, e no sul como gaita-ponto”. (Osvaldinho do Acordeon)

Por trás das músicas envolventes de festa junina está um instrumento tão importante que é considerado um dos "pais" do forró: a sanfona de 8 baixos.

Foi com esse instrumento que o lendário Luiz Gonzaga começou a tocar, anos antes de fazer história na música brasileira. Luiz Gonzaga sempre fazia questão de falar de seu respeito e gratidão pela sanfona de 8 baixos. Mas, sem o interesse de novas gerações, esse instrumento está entrando em processo de "extinção", segundo os maiores músicos da modalidade.

O Globo Rural foi até Pernambuco e Paraíba para entender como diferentes gerações lutam para evitar que o legado nordestino desapareça. O programa contou com a participação do cantor e sanfoneiro Joquinha Gonzaga, do pesquisador, produtor cultural, Anselmo Alves, pesquisador Diviol Lira, do advogado e sanfoneiro Jaiminho Alencar.

Um dos momentos mais emocionantes é a participação de um dos poucos afinadores de sanfona de 8 Baixos, o Artur Simião, considerado Guardião Mestre da cultura.. O programa foi exibido em rede nacional, através da TV Globo neste domingo, 25.

Uma das pessoas que luta pela preservação do instrumento é Luizinho Calixto, um dos maiores músicos do Brasil e o principal instrumentista da sanfona em atividade se emocionou ao falar do futuro da sanfona de 8 Baixos.

Luizinho Calixto criou o primeiro método de ensino da sanfona de 8 baixos, que ele aplica em suas aulas na Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande (PB). No Teatro Municipal da cidade, a reportagem acompanhou uma homenagem emocionante a Calixto.

Outro músico de expressão que aparece conserva a tradição do instrumento é Joquinha Gonzaga, sobrinho do sanfoneiro Luiz Gonzaga, o "Rei do Baião".

Os nordestinos também são pioneiros na cidade de Santa Cruz do Capibaribe (PE), onde existe a única orquestra do mundo formada exclusivamente por tocadores da sanfona de 8 baixos.

O pesquisador Leo Rugero, em sua tese de mestrado afirma que é preciso continuar a respeitar a sanfona pe de bode, e que o "ensino da sanfona brasileira, de norte a sul do país, é eminentemente oral. O aprendizado normalmente é transmitido de pai para filho, e os sanfoneiros são em sua maior parte músicos que tocam “de ouvido”, isto é, músicos que não tiveram uma instrução teórica ou educação musical formal. Deste modo, a música da Sanfona de 8 baixos brasileira tem sido registrada através da memória dos instrumentistas e das gravações existentes, sendo então necessário uma maior valorização do ensino do instrumento para que ele não morra". 

LUIZINHO CALIXTO: A Sanfona de 8 Baixos possui toda uma tradição musical, sendo fundamental para a música nordestina e brasileira. “No Nordeste do Brasil, ela adquiriu características de afinação próprias que a tornaram diferente, detentora de um sotaque próprio, representativo da nossa cultura. Representa, além de uma tradição musical, um saber único, um jeito de conviver e festejar muito nosso, bem nordestino, e por isso, bem brasileiro também.

"É o instrumento mais difícil de tocar entre os de fole porque quando fecha uma tecla faz um som e quando abre, a mesma tecla faz outro som. É difícil encontrar quem toque a sanfoninha, mas ela foi responsável por disseminar o forró no Nordeste", explica, o sanfoneiro Luizinho Calixto, membro de uma família com tradição na música brasileira e que já escreveu dois manuais ensinando a tocar o fole pé de bode.

"Quem sabe tocar sanfona de oito baixos hoje está ficando velho, morrendo. É preciso renovar, buscar novos talentos, para a tradição não morrer". Essa é preocupação do sanfoneiro paraibano Luizinho Calixto, que percorre o País, iniciando através de palestras e oficinas crianças, jovens e adultos no instrumento, famoso nas mãos de Januário, pai de Luiz Gonzaga. 

O músico desenvolveu uma didática para facilitar o ensino, que carece de professores em todo o Nordeste. Uma dessas oficinas aconteceu em Exu, Pernambuco. A foto é uma apresentação durante o Encontro Nacional dos Gonzagueanos realizado em 2017 em Caruaru, Pernambuco.

"A sanfona de oito baixos veio da Europa com uma afinação diatônica. Quando chegou aqui no Nordeste, alguém transportou, não se sabe o porquê nem baseado em quê, a afinação para o dó-ré, que é única no mundo todo", explicou Luizinho Calixto.

Esta falta de informação sobre a sanfona de oito baixos foi um desafio que o músico teve que vencer para poder elaborar a oficina de iniciação. "Diziam que só tocava quem tinha dom ou um parente na família para ensinar. Mas criei um sistema onde cada tecla é um número. Se a tecla está pintada de vermelho, é para fechar. De azul, para abrir. Assim, os meninos olham e pronto, já saem praticando sozinhos", disse. O método foi batizado de tablatura.
 

Redação redegn Foto redes sociais