Artigo: Potencialidades do Semiárido para a agricultura brasileira

O Semiárido brasileiro tem características muito desafiadoras. A maioria dos seus municípios apresenta pluviosidade inferior a 800 mm anuais. A evapotranspiração é, em média, de 2000 mm ao ano, superando a precipitação em praticamente três vezes. Nessa perspectiva, é possível analisar o tamanho do desafio que é promover o desenvolvimento da agropecuária na região.

O compromisso de contribuir para uma realidade produtiva que permita evolução nos indicadores socioeconômicos atuais impulsiona a pesquisa para o desenvolvimento de soluções tecnológicas adaptadas à condição local, gerando incrementos de produtividade e oportunidade de renda.

Na região, convivem duas agropecuárias: uma tipicamente dependente de chuva e outra que utiliza a irrigação das águas do Rio São Francisco como motor que impulsiona a economia e o desenvolvimento social. Nesses dois espaços, há diferentes atividades sendo desenvolvidas e atendendo ao público diverso do Semiárido.

Para as áreas dependentes de chuva, a pecuária é um elemento importante, sendo a caprinovinocultura sua atividade principal. Cerca de 30% do rebanho caprino nacional está localizado no Semiárido, a maior parte em propriedades de agricultores familiares. Há também microrregiões que têm uma pecuária bovina de bastante relevância e bacias leiteiras consolidadas, que movimentam a economia, em especial, no limite entre o Semiárido e o litoral - o Agreste. Nestas microrregiões, onde a precipitação pluviométrica é relativamente maior, instalou-se e vem crescendo a agroindústria de produtos derivados de leite.

No segundo contexto, a agricultura irrigada trouxe a possibilidade de desenvolvimento de uma fruticultura sólida, em que os avanços tecnológicos notavelmente promovem a evolução contínua das cadeias produtivas, com destaque para três delas: melão, uva e manga. A dimensão dessa realidade, amparada pela irrigação e pelas tecnologias que lhe são associadas, é estimada quando se constata seu crescimento em poucas décadas. Os avanços ressaltam a diversificação da produção, que tornou a fruticultura do Semiárido competitiva diante do mercado nacional e internacional, trazendo um crescimento fantástico para alguns pólos de irrigação no Nordeste.

Hoje, a fruticultura irrigada está consolidada no Vale do São Francisco, em Petrolina (PE), Juazeiro (BA) e municípios do entorno; no pólo Assu-Mossoró, no Rio Grande do Norte, e também em polos do Ceará e de outras microrregiões da Bahia. O mundo reconhece a qualidade da fruta brasileira que é exportada, sendo um diferencial da capacidade produtiva da região Nordeste. Isso tudo apresenta o amplo potencial para aprimorar, crescer e tornar o Semiárido ainda mais importante para a economia nacional.

Mesmo nas regiões dependentes de chuva, tem-se uma agricultura dinâmica e, ao mesmo tempo, limitada pelos ciclos de chuva. O principal desafio, nesse caso, é a própria indisponibilidade de água, que impõe o planejamento da produção e a necessidade de adoção de estratégias de armazenamento e de uso dessa água para torná-la disponível por mais tempo.

São, dessa forma, desafios que têm escalas diferentes quando se considera as atividades da agricultura irrigada e os trabalhos desenvolvidos para a agricultura dependente de chuva, em que o fator água é o determinante de sucesso para a produção. Para que o período de disponibilidade dessa água possa ser estendido, é preciso planejar e atrelar tecnologias de captação para suplementar as limitações hídricas ao longo da produção, em culturas como o feijão-caupi, milho, mandioca e outras que refletem a diversidade de alimentos que a região Nordeste é capaz de produzir e disponibilizar para o resto do país.

O risco de perda de safras, em função da ocorrência de ciclos de seca da região, é altíssimo, mas, com estratégias e com políticas adequadas é possível amenizá-los e ampliar a importância da região para agricultura brasileira nas suas diferentes possibilidades e extratos sociais, fortalecendo as unidades familiares e as empresas absorvedoras de mão-de-obra.

Maria Auxiliadora Coêlho, Chefe-geral da Embrapa Semiárido