Novo comandante assume "desbolsonarização" do Exército

A primeira missão do novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, foi cumprida com mais facilidade do que previa o próprio governo. Ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid não vai mais assumir a chefia do 1º Batalhão de Ação de Comandos, em Goiânia. Ontem, ele encaminhou um pedido ao general Paiva solicitando o adiamento de sua designação por causa da investigação aberta por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) nas contas de assessores de Bolsonaro por suspeita de caixa 2.

A dificuldade que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, encontrou para barrar a nomeação de Mauro Cid foi apenas o estopim da demissão do então comandante, general Júlio César Arruda, que ficou menos de um mês no cargo. Ontem, o ministro comentou as suspeitas que pairam sobre o ex-auxiliar de Bolsonaro, mas disse que é preciso aguardar as investigações.

"Eu estava com muita dificuldade de tratar desse assunto com o comando do Exército. Muita dificuldade. Há um espírito de corpo muito forte, há um ambiente político muito forte", afirmou José Múcio. "Primeiro, a gente precisa ter acesso a isso (às provas). O presidente foi o primeiro a dizer: 'Olha, essa história de condenar por condenar, eu já fui vítima disso. Vamos averiguar o que é que tem'. Precisa ver ao que vamos ter acesso nesse inquérito, ou nessas denúncias, porque não tem nem inquérito", completou.

O 1º Batalhão de Ação de Comandos, em Goiânia, é considerado estratégico porque tem autorização para atuar em operações de emergência em Brasília. A mudança de Mauro Cid estava prevista desde o primeiro semestre do ano passado, quando saiu a lista de promoções do Exército. O adiamento da promoção do tenente-coronel não o impede, porém, de se habilitar a cargos compatíveis com sua patente, mas o próprio militar informou ao comandante que vai esperar a conclusão das apurações em torno das denúncias de uso de caixa 2 por assessores de Bolsonaro antes de fazer nova solicitação.

O veto à promoção do ex-ajudante de ordens do Palácio do Planalto partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está empenhado em desmilitarizar o Palácio do Planalto e afastar os auxiliares mais ligados a Bolsonaro. Dar solução para o caso era a primeira incumbência do novo comandante da Força. A iniciativa de Mauro Cid significou um problema a menos na mesa do general que, ontem, reuniu-se pela primeira vez com o Alto-Comando do Exército, em Brasília. O governo espera que o novo líder da instituição faça valer a sua autoridade para recolocar o Exército no trilho de suas atribuições constitucionais.

A reunião do Alto-Comando foi presencial e contou com 16 generais de quatro estrelas, posto mais alto da corporação. A expectativa do governo é de que, com a troca do comandante, haja a identificação de militares da ativa e da reserva que participaram dos atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília, com a consequente punição de quem apoiou o quebra-quebra na Praça dos Três Poderes.

Correio Braziliense