Número de divórcios cai em 2022, após bater recorde durante o período mais crítico da pandemia

Depois de bater recorde durante o período mais crítico da pandemia, caiu o número de divórcios no Brasil. Em uma festa inesquecível, o casal disse sim para vida inteira, mas não imaginava que seriam 24 horas por dia, como no período crítico da pandemia.

“A gente brigou por coisas que antes a gente nunca teria brigado”, diz a dona de casa Lucía Mendes Vieira. “Coisas fora do lugar, que eu sou muito certinho, com bagunça da casa”, conta o gerente financeiro Carlos Alberto Mendes Vieira.

“A questão óbvia é que o convívio no mesmo teto 24 horas por dia se tornou insuportável, algo que as pessoas não estavam vivendo”, explica a psicanalista Dora Tognolli.

Repórter: Passou pela cabeça de vocês o divórcio?
Carlos: Não.
Lucía: Jamais.

Carlos e Lucía resistiram à uma crise universal das relações, e agora não estão sozinhos na decisão de continuar casados.

“Me parece que a diminuição dos divórcios está mais ligada ao fim da pandemia e ao retorno da vida em sociedade. As pessoas mesmo tendo grande facilidade para fazer o divórcio em cartório de Notas na plataforma do e-notariado, esse número deve ter diminuído justamente por conta do fim da pandemia”, diz o diretor do Colégio Notarial do Brasil, Ubiratan Guimarães.
A intimidade dos casais, que já imaginávamos, mas agora os dados parecem confirmar, foi fortemente impactada pela pandemia. Depois de um recorde em 2021, houve queda no número de divórcios neste ano sem restrições e isolamento social. Foram 76.671 divórcios em 2021, e 68.703 de janeiro a novembro de 2022. E essa história pode ainda não ter terminado.

Olhando de perto as crises conjugais durante todo esse período, a psicanalista Dora Tognolli diz que é cedo para conhecer todas as consequências das ondas de Covid sobre a vida íntima.

“Eu acho que a gente vai precisar esperar para ver como isso se acomoda e talvez acompanhar essa curva quando a pandemia já tiver arrefecido e a gente puder olhar como podemos viver juntos, porque a grande pergunta é essa: como vivemos juntos nesses moldes atuais? Como é possível o convívio? Como é possível a troca de afeto? Se a gente tem capacidade de repactuar situações. Isso também exige energia psíquica. Não é fácil você fazer novos pactos”, afirma a psicanalista Dora Tognolli.

“Eu acho que o dia que a gente decidiu: vamos casar, vamos formar uma família, esse dia a gente fez um pacto de que a gente nunca ia desistir um do outro. Então, tem dias que eu sou difícil? Nossa, deve ter um milhão, mas esse dia eu preciso que você não desista de mim, que você me lembre que vale a pena. E a mesma coisa o contrário. Tem dias que ele é muito difícil. Então esse é o dia que eu não desisto, que eu lembro a ele que vale a pena. Eu acho que isso é o que faz da gente quem a gente é”, afirma Lucía Mendes Vieira.

JN