Investigação detecta comércio ilegal de peças de onça-pintada na internet

O maior felino das Américas está enfrentando uma ameaça generalizada, que já é detectável até em plataformas online. Investigação revela que, entre 2009 e 2019, foram detectadas pelo menos 230 postagens – em redes sociais e mercados online – de comércio ilegal de onça-pintada (Panthera Onca).

Deste número, 71 apresentavam imagens que foram verificadas e confirmadas como sendo de partes do felino. O Brasil, por sua vez, está entre os países que tiveram a maior incidência de anúncios de venda ilegal. 

Com o apoio do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos (USFWS, da sigla em inglês), o estudo foi desenvolvido por mais de 20 pesquisadores da Wild Conservation Society (WCS), e teve os resultados publicados em préprint no bioRxiv, repositório internacional de pré-publicações. Para a WCS, o cenário representa uma ameaça emergente às populações de onças-pintadas em toda a sua área de ocorrência. 

No total, a investigação examinou registros de 19 países e cobriu sete idiomas (espanhol, português, inglês, holandês, francês, chinês e vietnamita). Quanto às plataformas online, 31 foram analisadas, incluindo mercados online e redes sociais. Para a busca, foram utilizados termos e metodologias padronizadas.

Entre as 230 postagens detectadas de comércio ilegal do felino, uma triagem de imagens confirmou que, no mínimo, 71 delas continham imagens de diferentes partes de onça-pintada. Exibindo 125 peças no total, essas 71 postagens foram detectadas em 12 plataformas diferentes, sendo a maior parte em redes sociais (74,6%), e estavam em quatro idiomas: espanhol (50,7%), português (25,4%), chinês (22,5%) e francês (1,4%). 

A parte do corpo do animal mais detectada nas postagem foram os dentes. No total, são 156 postagens, que ofereceram pelo menos 367 dentes. Destes números, 42 postagens também tinham imagens, que exibiram, pelo menos, 95 dentes, confirmados visualmente por especialistas como sendo de onça. 

Entre os países que mais ofereceram dentes do felino, verificados visualmente para a venda, estão México (19 dentes), China (18), Bolívia (12) e Brasil (9). A segunda peça mais negociada da onça-pintada foi a pele, que incluiu postagens avaliadas como vinculadas à América do Sul.

A publicação está sendo divulgada às vésperas da 19ª Conferência das Partes da Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES CoP19), que, entre 14 e 25 de novembro deste ano, reúne diversas nações na cidade do Panamá. 

A expectativa é que a produção incentive países a considerarem a onça-pintada como um felino prioritário nas operações de fiscalização, medidas e controles para combater o crime contra a vida selvagem. Isto porque este é justamente o assunto que deve ser discutido entre as partes presentes no encontro. 

“Nossa equipe tem o prazer de compartilhar este estudo na esperança de que ele fortaleça os esforços para interromper o atual comércio ilegal de partes de onças-pintadas. A metodologia padronizada que desenvolvemos já foi aplicada de forma produtiva para documentar o comércio online visível e combater o tráfico de vida selvagem em vários táxons na região”, destaca John Polisar, o principal autor do estudo.

De acordo com a WCS, a pesquisa apresenta um panorama do comércio online de onça-pintada e métodos que podem ser úteis para muitas espécies que também são comercializadas na internet. A organização explica que o estudo foi feito para auxiliar a aplicação da lei nos países anfitriões e identificar o potencial comércio ilegal online de forma mais eficiente.

A reportagem é de autoria de Michael Esquer-Jornalista em formação pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), texto publicado no site Eco Jornalismo Ambiental

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