Testes iniciais identificam composto com propriedade anti-inflamatória no óleo de copaíba

Testes em laboratório na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP identificaram um composto com propriedades anti-inflamatórias no óleo de copaíba. Responsável pelo estudo, o farmacêutico Guilherme Venâncio Símaro explica que a oleorresina tem vários compostos, por isso o estudo comparou as propriedades do óleo e de um composto separadamente, o ácido hardwíckiico, que é o componente predominante na oleorresina da árvore Copaifera pubiflora.

Em testes com células no laboratório (in vitro) tanto a oleorresina quanto o ácido hardwíckiico apresentaram efeito anti-inflamatório, antinociceptivo (capaz de anular a percepção de dor) e não se mostraram tóxicos às células. Os experimentos, feitos na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, são preliminares, e uma possível aplicação medicamentosa demanda outras pesquisas, incluindo testes em pessoas, os chamados ensaios clínicos.

Na ação anti-inflamatória, há bloqueio do chamado “fator de transcrição do NF-κB (lê-se “NF kappa B”). Isso significa que a oleorresina e o ácido podem impedir que o organismo produza proteínas chamadas citocinas, que regulam a inflamação. Ao bloquear esse processo, há a redução também dos sintomas que “denunciam” o problema, como dor e febre. O pesquisador exemplifica com um quadro de infecção de garganta, em que existe dor, febre e sensibilidade aumentada na garganta. “Quando a gente bloqueia essas proteínas, por consequência, o processo inflamatório é reduzido”, acrescenta.

Além da ação anti-inflamatória, Símaro esteve atento à atividade citotóxica da oleorresina e do ácido, ou seja, observou se eles causavam danos ou matavam células, sejam elas normais ou tumorais. De acordo com o pesquisador, a citotoxicidade não necessariamente é uma coisa ruim, “quando você tem um tumor, você quer matar aquela célula tumoral; se você testa um composto que mata as células tumorais isso seria bem interessante”, assinala o pesquisador. 

Os testes não encontraram nenhum tipo de citotoxicidade, entretanto, Símaro deixa claro que são respostas ainda preliminares que demandam muitas outras etapas de pesquisas para verificar se o óleo extraído da planta pode ser utilizado como composto de medicamentos.

Além dos estudos toxicológicos, o pesquisador destaca a importância das pesquisas farmacocinéticas, aquelas que estudam como e por quais vias os compostos da planta são absorvidos pelo organismo. “Qual é a biodisponibilidade do composto da planta? Ele chega com uma quantidade suficiente ao sangue, ou não? Ele tem perda? Qual é a melhor via de administração? Isso tudo teria que ser verificado.”

Jairo Kenupp Bastos, orientador do estudo e professor da FCFRP, conta que, pelas propriedades anti-inflamatórias, a copaíba tem potencial medicinal, mas também de uso cosmético e industrial. Diz que o Brasil produz cerca de 600 toneladas por ano da oleorresina, que são comercializadas para o mundo inteiro para produção de diversos produtos. Ainda segundo Bastos, a parte mais volátil desse óleo também é usada como resina para a solubilização de aromas, tintas, verniz, além dos próprios cosméticos.

A pesquisa Avaliação das atividades citotóxica, anti-inflamatória e antinociceptiva da oleorresina de Copaifera pubiflora Benth e de seu metabólito majoritário ácido ent-hardwíckiico foi defendida em maio de 2021 como tese de doutorado de Guilherme Venâncio Símaro, sob orientação do professor Jairo Kenupp Bastos

Jornal da USP