RedeGN - Candidatos aos governos do Nordeste recebem recomendações para enfrentar crise climática

Candidatos aos governos do Nordeste recebem recomendações para enfrentar crise climática

Como subsídio para que os futuros governadores do estados brasileiros tenham as informações necessárias e voltem os olhares para medidas de mitigação aos efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global, o Centro Brasil no Clima (CBC) preparou propostas para os planos de governo de estados nas cinco regiões brasileiras. 

Para os estados do Nordeste, o documento entregue aos candidatos aos governos inclui orientações cruciais como:

Expandir fontes de energias renováveis
Investir no potencial do hidrogênio verde para a descarbonização
Restaurar a Bacia do Rio São Francisco
Aliar produtividade à segurança alimentar e ao desenvolvimento sustentável
Gerar benefícios socioeconômicos para populações tradicionais e governos locais
Prevenir desastres naturais e gestão de riscos
Saneamento básico e gestão de resíduos
Combate ao desmatamento e às queimadas
Conservar a Caatinga e suas especificidades
Aprofundamento dos critérios para ICMS ecológico
Elaborar planos de adaptação e mitigação climática
Promover a governança regional integrada
Criar canais de articulação para captação de investimentos internacionais através da governança subnacional climática.

De acordo com Guilherme Syrkis, diretor executivo do CBC, esta é uma proposta que consegue criar uma convergência muito grande, tanto com a pauta da esquerda quanto com a pauta da direita.  No documento, o CBC reforça o alto potencial do Nordeste em produzir energia a fontes solar e eólica, sendo líder em capacidade instalada dessas modalidades de geração de energia.

Em 2020, essas fontes somavam 45,5% na matriz de geração nordestina. Esse percentual vem permitindo que a região deixe de ser importadora e se torne exportadora líquida de energia elétrica. O Nordeste, que computava déficits de geração de 21% em 2000 e de 3% em 2019, passará a ter um superávit de 12% em 2024.

Guilherme Syrkis, reforça que é importante dar atenção à produção de hidrogênio verde no Nordeste, alternativa que possui grande potencial de produção internacional. O diretor destaca que outro ponto importante é a questão do Rio São Francisco: “é um rio  de extrema importância, que está com um problema muito grande de assoreamento e que precisa ser resolvido principalmente para que possa também possibilitar, não só o uso múltiplo das águas, mas também manter as nossas hidrelétricas que são tão importantes para o nosso sistema elétrico e para a expansão das energias renováveis, como a eólica”.

Além das recomendações, o documento também traz números importantes que ajudam a reconhecer a urgência  de agir com relação ao meio ambiente e às mudanças climáticas: cerca de 20% de todas as áreas de risco do Brasil estão no Nordeste, suscetíveis a inundações, enxurradas e movimentos de massa com potencial de ocorrência de desastres.

Além disso, apenas 26% dos municípios da região fazem monitoramento de dados hidrológicos e 79% não possuem mapeamento de áreas de risco. Somente 9% contam com sistemas de alertas de risco. Os dados apontam que a maior parte dos municípios não se prepara adequadamente frente aos riscos existentes.

Em paralelo com as ações propostas aos candidatos a governadores, o CBC está desenvolvendo o Laboratório de Economia Regenerativa do São Francisco, nas divisas entre os Estados de Alagoas, Bahia, Sergipe e Pernambuco. A iniciativa se insere no âmbito do Projeto HidroSinergia, que se propõe a interligar políticas públicas, conhecimentos, ideias e investimentos no Nordeste brasileiro, por meio de conceitos como Descarbonização, Economia Regeneradora e Inclusão Sociocultural, a partir da construção de processos colaborativos.

O Centro Brasil no Clima ressalta a importância de levar em consideração o  aquecimento global e os efeitos da crise climática no contexto eleitoral no Brasil. Segundo uma pesquisa do Ibope, feita em 2021, 61% dos brasileiros afirmam se preocupar “muito” com a questão. Além disso, mais de 2/3 dos estados relataram que já estão enfrentando graves riscos climáticos, segundo dados de 2020.

No Brasil, embora nos últimos anos a urgência em agir para mitigar os efeitos da crise climática venha sendo negligenciada pelo governo federal, os estados vêm assumindo o protagonismo na questão. Neste contexto, foi criada a coalizão Governadores pelo Clima, que reúne 24 estados brasileiros mobilizados para combater e minimizar os impactos da emergência climática.

A ideia é que os Governadores pelo Clima representem o principal  instrumento de governança subnacional climática no Brasil com ampla capacidade de articulação nacional e internacional, atraindo oportunidades de financiamento climático e investimento internacional.

Nesta interação entre os estados articulada pelo CBC, foram construídos canais paradiplomáticos com a União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos. Além disso, a iniciativa teve como desdobramento o lançamento do Consórcio Brasil Verde, um instrumento de governança subnacional destinado a viabilizar e concretizar o financiamento internacional em projetos dos estados brasileiros. O Consórcio Brasil Verde terá destaque na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27), a ser realizada de 6 a 18 de novembro de 2022, em Sharm El Sheikh, Egito, principal fórum internacional de discussão das mudanças climáticas.

Instituto Eco Nordeste/Alice Sales