RedeGN - Sistema Bioágua Familiar de reúso de águas cinzas domiciliares vem sendo testado no Semiárido brasileiro

Sistema Bioágua Familiar de reúso de águas cinzas domiciliares vem sendo testado no Semiárido brasileiro

Desenvolvido por meio de parceria entre a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), a ONG Atos e famílias de agricultores, o sistema Bioágua Familiar de reúso de águas cinzas domiciliares vem sendo testado no Semiárido brasileiro.

Um estudo realizado pela Embrapa Semiárido (PE), apontou que a solução é capaz de dobrar o volume de produção em comparação com plantios que utilizam água da companhia de abastecimento local. 

Com uma unidade para tratamento de água residuária doméstica, o Bioágua Familiar realiza uma filtragem antes de encaminhar o líquido para o sistema de irrigação. Segundo a pesquisadora Roseli Melo, o filtro, que possui cinco camadas, é considerado a parte principal do sistema.

O equipamento, utilizado para amenizar os impactos das secas e da irregularidade das chuvas, necessita de cuidados simples como a cobertura com tela para evitar a entrada de insetos e outros animais e manutenção entre seis a oito meses.

Para avaliar a eficiência, o Campo Experimental da Caatinga implantou um experimento com espécies forrageiras, como palma, leucena, gliricídia e moringa. Para tal, o sistema gerou cerca de 1,5 mil litros de água gerados por semana, volume que corresponde ao consumo médio de uma família de cinco pessoas. Com essa quantidade, é possível irrigar cerca de 1,26 mil plantas de palma forrageira.

Durante sete meses de cultivo, as plantas que receberam a água da companhia de abastecimento produziram uma média de 6,3 raquetes, enquanto as que foram irrigadas pela água de reuso atingiram uma média de 12,33 raquetes. Segundo a pesquisa, após passar pelo tratamento no biofiltro a água apresenta maior concentração de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, essenciais para o desenvolvimento das plantas.

De acordo com Paula Tereza de Souza e Silva, a pesquisadora responsável, os resultados são promissores. “Observamos que o tratamento das águas cinzas é bastante promissor, pois remove uma quantidade significativa de matéria orgânica. Isso é muito bom para a agricultura porque você já tem uma água enriquecida com esses nutrientes, que são essenciais para o desenvolvimento das plantas, e com isso aumenta a produção e reduz a necessidade de outra fonte de fertilizante”, explicou.

A agricultora Antônia Andrade de Araújo, da Comunidade Indígena Coelho Atikum Jurema, em Petrolina (PE), avalia o sistema de forma positiva. “[Com a implantação há cerca de um ano,] mudou tudo pra mim. Agora minha água é certa, não vou mais carregar. Se não chover, tudo bem e se chover, tudo bem também. Agora, as plantas ficaram mais bonitas, cresceram mais, mudaram de folha. Coisa linda demais, pra mim é maravilhoso,” afirmou.

Para o produtor Rinaldo de Lima, morador do Sítio Coelho, em Petrolina, a maior segurança hídrica permitiu o investimento em outras culturas. “Botei pitaia, limão tahiti, macaxeira, banana, batata, melancia... de tudo tem um pouquinho. Lá em casa eu ia comprar [esses alimentos] e já não estou comprando, que tudo eu tenho produzindo. Meu plano é produzir pra conseguir fazer minha feira aqui de dentro, e trabalhar agora para daqui a um ano ter retorno daquilo que eu apliquei”, planejou.

O pesquisador da Embrapa, João Ricardo Ferreira de Lima, detalha a viabilidade econômica do sistema. “Com um investimento de implantação de aproximadamente R$ 6,5 mil, essa água, que antes seria descartada, pode ser tratada, armazenada e utilizada para irrigação, de forma a aumentar a produtividade das lavouras existentes e fazer o produtor economizar, a cada sete meses, cerca de R$ 3 mil com a compra de raquetes de palma para alimentação dos animais, ou obter uma receita desse mesmo montante, caso decida comercializar”, informou. 

Redação redeGN com informações Ufersa