Inserção de estátua do 'Cachorro Trigueiro' em obra construída em 1973 gera polêmica em Serrita

Ontem domingo (24), foi realizada a 52ª edição da Missa do Vaqueiro de Serrita, no Sertão de Pernambuco. Uma celebração que eterniza a história do vaqueiro Raimundo Jacó, assassinado em 1954. O tradicional evento, criado por Luiz Gonzaga e o padre João Câncio, este ano ganhou uma polêmica, por causa da construção da estátua de um cachorro ao lado da estátua de Raimundo Jacó.

O cachorro Trigueiro era o fiel escudeiro de Raimundo Jacó. O problema, é que a imagem do cachorro foi inserida recentemente, durante uma revitalização do monumento. Mas, o artista plástico Jota Mildes, autor da estátua original, diz não ter sido consultado e que os direitos autorais dele não foram respeitados.

A lei de direitos autorais, número 9.610, de 1998, prevê “que pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou assim como o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra. O autor também pode repudiar as alterações feitas sem o seu consentimento”. São esses os direitos que Jota Mildes espera que sejam respeitados.

“O artista, conforme é reconhecido pela própria lei, ele coloca um pouco da sua alma, do seu ser, naquela obra que ele está fazendo”, diz.

LUIZ GONZAGA: A história conta que Raimundo Jacó foi assassinado por um outro vaqueiro. O crime, que até hoje não foi solucionado, teria sido motivado por inveja. E, em memória da vítima, foi criada a Missa do Vaqueiro de Serrita, uma iniciativa de Luiz Gonzaga, que era primo de Jacó, e do padre João Câncio. A primeira missa foi celebrada em 1971.

“A obra foi encomendada pelo padre João Câncio e pelo próprio Luiz Gonzaga, que era primo do Raimundo Jacó, que foi a figura central homenageada do monumento”, conta Jota Mildes. A estátua ficou pronta em 1973.

Na mesma época,  Segundo Mildes, foi pedido que também fosse confeccionada uma estátua do cachorro de Jacó, um fiel companheiro. Segundo as histórias do município, o animal ficou no túmulo do vaqueiro até morrer de sede e fome. O artista informou que não daria tempo de completar a obra até o dia da missa, mas que concluiria o trabalho depois. O tempo passou e, Jota Mildes conta que nunca foi procurado para terminar a obra.

“49 anos e todo ano eu venho procurando a diretoria da Associação para a gente fazer o trabalho de restauração da estátua, e aproveitaria também para fazer o cachorro, que era uma das partes de complementação. Mas, sempre sob a alegação de falta de verba, o trabalho não foi feito até agora”, diz o artista.

O prefeito de Serrita, Aleudo Benedito, disse que a atual revitalização do monumento apenas atendeu ao pedido da população. “Foi sentado com a secretaria de cultura, com nossa secretaria de infraestrutura e também com nossa assessoria jurídica” diz o prefeito, reforçando:

“O que a gente foi fazer foi o melhor, aquilo que era um clamor do povo: ‘cadê o carro Trigueiro?’. Então, para valorizar ainda mais a festa, a cultura e valoriza toda a história que retrata o que é Raimundo Jacó e como aconteceu o fato, a gente inseriu. Não teve nenhum problema quanto a isso, não está tendo nenhuma discussão da nossa parte em relação a isso”.

O gestor afirma ainda que até o momento o artista plástico não entrou em contato com a prefeitura. “Até o momento, não teve nada, não recebemos nada em relação a esse fato”, garante.

Jota Mildes rebate e diz que o advogado dele enviou uma carta para a prefeitura relatando o problema. “Não é uma atitude que a gente está tomando com nenhuma outra finalidade. Tem a finalidade de defender o direito autoral, que justamente é garantido por lei”.

Mesmo com a polêmica da estátua do cachorro, fiel companheiro de Raimundo Jacó, o significado da realização da Missa do Vaqueiro de Serrita persiste nos corações do povo sertanejo, há 52 anos.

G1 Bahia Foto Reprodução redes sociais