Ex-pacientes de maternidade onde anestesista estuprador atuava se dizem estarrecidas

Medo, estacerrimento e horror. Essas foram algumas das sensações que ex-pacientes do Hospital da Mulher Heloneida Studart sentiram ao saber do caso do anestesista que estuprava mulheres durante cesarianas.

O caso foi divulgado na segunda-feira (11), após Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos, ser filmado abusando de uma pacientes, e ser preso e autuado em flagrante, na unidade que fica em São João de Meriti, município na Baixada Fluminense, e é referência na região.

"Passei por uma cesariana há dois meses, no dia 26 de abril. Aliás, tive meus dois filhos lá. Fui anestesiada, não lembro de muita coisa, mas sei que o plantão do meu parto foi tranquilo. Mas só consegui pensar que poderia ter sido comigo. Pensar com quantas mulheres ele fez isso? ", contou ao g1, a cuidadora de idosos Lorrane Guimarães, de 30 anos.

Lorrane contou ainda que foi acompanhada o tempo pelo marido, Luiz Carlos, durante o nascimento do filho José Luiz. "Só espero que a Justiça seja feita agora, diz.

A manicure Andressa Silva, de 28 anos, ficou apavorada ao saber do caso. Além de ter dado à luz no Hospital da Mulher, ela tem um encaminhamento para fazer uma laqueadura de trompas no mesmo lugar.

"Eu fiz uma cesariana, mas minha anestesia local não pegou e precisei de anestesia geral. Mas sei que não aconteceu nada comigo porque o meu anestesista era um senhor. Não era esse homem. Apesar de saber que ele já foi preso, a gente sempre fica com medo. Esse hospital é de referência, fui muito bem tratada lá e a gente nunca espera que uma coisa dessas vá acontecer", diz.

A costureira Daiana Ribeiro, de 31 anos, se mostrou estarrecida com a situação. Ela deu à luz há dois meses no Heloneida Stuart de parto normal. Conta que foi muito bem tratada no local e que todas as pacientes são acompanhadas.

"Fiquei sem reação porque, o tratamento que tive no hospital, a gente não imagina que isso vá acontecer. Todas as mães que vão dar à luz tem acompanhante, seja na cesárea ou no parto normal. Só não tem acompanhente no SPA, que é uma sala de primeiro socorros e de internação rápida. Mesmo depois do parto, você segue tendo acompanhante até a alta. Fiquei lá cinco dias e a equipe foi ótima comigo", elogia.

"Fiquei chocada com a notícia e espero que a justiça seja feita para as vítimas dele. Esse tipo de gente que estraga a imagem do hospital, mas é uma ótima maternidade", diz.

A dona de casa Elaine Landi, de 39 anos, também teve o Théo via parto normal. Mesmo assim, na segunda-feira (11), após a divulgação do caso, não parava de pensar nas mulheres que passaram pela violência em um dos momentos mais importantes de suas vidas.

"Eu me senti muito triste, pois eu fiquei imaginado se tivesse acontecido comigo. Minha intenção, inclusive, era fazer cesariana. Acabou que não precisou. Mas é tudo muito triste", lamenta

O caso veio à tona depois que um grupo de funcionários do Hospital da Mulher Heloneida Studart decidiu gravar a terceira cesárea para qual o anestesista Giovanni Quintella estava escalado no domingo (10) depois de notar, nas duas cirurgias anteriores, um comportamento estranho dele.

Uma das funcionárias relatou à polícia que: “Giovanni ficava sempre à frente do pescoço e da cabeça da paciente, obstruindo o campo de visão de qualquer pessoa” na sala de cirurgia.

Ela e outros funcionários pegaram um celular e o posicionaram em um armário com portas de vidro, mas não acompanharam o procedimento e só viram o flagrante quando pegaram o telefone — razão pela qual não puderam interromper o crime.

A funcionária também contou, em depoimento, que o anestesista sedava “de maneira demasiada” e que “as pacientes nem sequer conseguiam segurar os seus bebês” após o parto.

Na segunda operação do domingo, segundo a funcionária, “Giovanni usou um capote aberto nele próprio, alargando sua silhueta, e se posicionou de uma maneira que também impedia que qualquer pessoa pudesse ver a paciente do pescoço para cima”.

“Giovanni, ainda posicionado na direção do pescoço e da cabeça da paciente, iniciou, com o braço esquerdo curvado, movimentos lentos para frente e para trás”, disse a testemunha.

“Pelo movimento e pela curvatura do braço, pareceu que estava segurando a cabeça da paciente em direção à sua região pélvica.”

O ACUSADO: Giovanni atuou em pelo menos 10 hospitais públicos e privados, segundo o próprio. O preso tem 32 anos e se formou em 2017 pelo Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), no Sul Fluminense, . Ele concluiu a especialização em anestesia no início de abril.

Vaidoso, postava fotos com vestimentas das unidades e chegou a publicar um “Vocês ainda vão ouvir falar de mim, esperem”. Em outra postagem, Giovanni afirmou fazer o que gosta: “Estou aqui colhendo os frutos”.

Mas o comportamento estranho do médico chamou a atenção das mulheres da equipe do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em Vilar dos Teles. Elas começaram a estranhar a quantidade de sedativo que o anestesista aplicava e a forma como ele se movimentava atrás do lençol que separava a equipe.

O médico demonstrou surpresa ao receber voz de prisão da delegada Bárbara Lomba e ao tomar conhecimento de que tinha sido gravado abusando da paciente. O anestesista Giovanni foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de reclusão.

A defesa do anestesista afirmou que ainda não obteve acesso na íntegra aos depoimentos e elementos de provas que foram produzidos durante a lavratura do auto de prisão em flagrante. A defesa informou também que, após ter acesso a sua integralidade, se manifestará sobre a acusação.

ENTIDADES REAGEM: O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu nesta segunda-feira (11) um processo para expulsar Giovanni.

Clovis Bersot Munhoz, presidente do Cremerj, disse que “as cenas são absurdas”.

A Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Saúde, a que o Hospital da Mulher de Vilar dos Teles, em São João de Meriti, está subordinado, repudiaram em nota a conduta do médico anestesista.

“Informamos que será aberta uma sindicância interna para tomar as medidas administrativas, além de notificação ao Cremerj. A equipe do Hospital da Mulher está prestando todo apoio à vítima e à sua família”, afirmaram.

“Esse comportamento, além de merecer nosso repúdio, constitui-se em crime, que deve ser punido de acordo com a legislação em vigor”, emendaram.

G1