Desalojados da transposição do Rio São Francisco estão há cinco anos sem água

As 18 agrovilas no Nordeste que passaram a receber famílias reassentadas a partir de 2015 por causa da construção dos canais da transposição do rio São Francisco estão até hoje sem água para irrigação. O fornecimento após a inauguração dos primeiros canais estava previsto no contrato assinado para saída delas da área onde hoje estão os dois eixos da obra.

Passados mais de cinco anos da entrega do primeiro canal —o eixo leste, em março de 2017—, moradores dessa área em Pernambuco e Paraíba ainda não contam com água da transposição. O mesmo ocorre em agrovilas na extensão do eixo norte (que inclui também o Ceará), concluída em fevereiro de 2022.

As informações são do UOL, reportagem do jornalista Carlos Madeiro.

Em contato com a coluna, o MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional) confirmou que nenhuma das vilas tem sistema de irrigação, mas garantiu que os projetos estão sendo feitos.

Para a construção dos canais, o governo ergueu as vilas produtivas rurais com o objetivo de receber 848 famílias que moravam na área por onde o sistema de transposição passa hoje. Como elas não eram proprietárias das terras, foram reassentadas. Outras 2.553 indenizações foram pagas a quem tinha posse dos terrenos.

O governo federal investiu R$ 208 milhões nessas agrovilas, e cada família beneficiária teve direito a um terreno de cinco hectares, sendo garantido um deles irrigado. Cada lote tem uma casa com 99 m².

Em 2017, na semana da inauguração do eixo leste, o UOL visitou uma dessas agrovilas, em Sertânia (PE), e ouviu relatos de moradores reclamando dos valores pagos e da falta de água.

SEM ÁGUA E PLANTAÇÃO: Como estão em uma região semiárida, as agrovilas sofrem com a escassez de água por conta das frequentes estiagens.

Helielma Ferreira Cardoso, 40, mora há sete anos na agrovila Salão, em Sertânia (PE), uma das primeiras inauguradas pelo projeto.

Ela conta que todos no local têm limitações para manter a produção em função da falta de irrigação. "A gente tem dificuldade. Só temos água de poço, mas não é muita, só dá mesmo para o consumo diário da casa", diz.

“A gente até hoje não recebeu uma previsão de quando haverá a instalação da área irrigada. A gente assina um contrato anual até eles fazerem essa ligação, só que, até agora, não tem água nem previsão”.

O contrato que ela cita, no caso, é o que garante um salário mínimo do governo federal até que o beneficiário receba a irrigação, como prevê o documento assinado.

No outro lado da divisa, Luciano dos Santos, 27, que mora na agrovila Lafayette, em Monteiro (PB), também só tem água para consumo humano —e, nesse caso, o abastecimento só passou a ser feito após o MPF (Ministério Público Federal) da Paraíba interceder e conseguir que a Cagepa (Companhia de Água e Esgotos da Paraíba) se comprometesse com o fornecimento.

"A gente até tenta criar alguns animais no lote cerqueiro [aquele com cerca, destinado à criação de animais], nos 4 hectares que temos, mas que também não tem água. Não é fácil. E plantamos no quintal da casa. Tentamos sempre plantar alguma coisa, [a gente] se vira como pode", relata.

A agrovila é a única no trecho do eixo leste na Paraíba e foi inaugurada em 1º de dezembro de 2015. As famílias chegaram para morar em março de 2016. Apenas agora é que o governo federal chegou para dar início ao processo de instalação do sistema de irrigação.

"Já houve a limpeza dos lotes, e a empresa [responsável pela instalação] está aqui só aguardando as ordens para montar a encanação e colocar os kits de irrigação. A nossa associação vai fazer o trabalho da rede elétrica", conta o presidente da associação de moradores da agrovila, Agnaldo Freitas da Silva.

Confira aqui a íntegra da reportagem assinada pelo colunista Carlos Madeiro.

Uol Carlos Madeiro-Colunista