Frente Parlamentar quer transformar Dia da Caatinga em Patrimônio Cultural

O dia 28 de abril foi escolhido como o Dia da Caatinga como homenagem ao ecólogo pernambucano Vasconcelos Sobrinho. Ele foi um pioneiro no estudo do bioma que mostrou que o sertão não é só seca e miséria como muitos imaginavam, ele guarda um patrimônio biológico único no mundo que deve ser explorado de forma sustentável. 

Entre as espécies que só existem na caatinga estão umbu, licuri e cambuí, que além de servirem como alimento têm um valioso potencial medicinal, explicou a pesquisadora Márcia Vanusa da Silva.

Exposições na Câmara dos Deputados mostram as riquezas da Caatinga, as ameaças ao ecossistema semiárido e os esforços de reconhecimento do bioma como Patrimônio Nacional. Os eventos fazem parte das comemorações de 28 de abril, Dia Nacional da Caatinga – criado por meio de um decreto federal (Decreto 9.959/03).

Até esse dia, quem visitar a Câmara, em Brasilia,  poderá conferir a exposição “Riquezas da Caatinga: potencialidades e possibilidades do bioma 100% brasileiro”, montada no Espaço Mário Covas com fotos e produtos da região. Entidades socioambientais também apresentam ações bem-sucedidas de produção sustentável, sobretudo por meio da agricultura familiar.

BIOMA CAATINGA: Apesar de a caatinga ser um bioma exclusivamente brasileiro e ocupar 11% do nosso território, é um dos menos protegidos no país. Segundo um monitoramento do Ministério do Meio Ambiente, mais de 46% da vegetação original da caatinga já foi desmatada e a região Nordeste do Brasil pode perder um terço da sua economia — dezenas de bilhões de reais —  até o final do século pelos efeitos do aquecimento global e da desertificação que se agrava com o desmatamento. 

De acordo com especialistas, é necessário não só pensar na preservação da vegetação original que temos hoje, como também aplicar estratégias para restaurar parte do que foi perdido, além de entender o que se pode extrair do bioma de forma sustentável.

A caatinga é um bioma com clima semiárido de uma rica biodiversidade. A vegetação é composta por plantas xerófitas, adaptadas a esse tipo de clima por armazenarem grande volume de água e possuírem poucas folhas (para diminuir a área de evaporação) e raízes longas para alcançar água em um nível mais profundo do solo. Xique-xique, mandacaru outras espécies de cactos são exemplos comuns da paisagem, além de grandes árvores como o umbuzeiro. A fauna também é diversificada: ararinha-azul, macaco-prego, onça-parda e jacaré-de-papo-amarelo são exemplos de vertebrados que encontramos na caatinga, sem contar 40 espécies de lagartos e 45 de serpentes catalogadas.

O desmatamento acelerado e a falta de medidas eficazes de conservação por parte do governo federal estão cada vez mais extinguindo a biodiversidade quase inexplorada da caatinga e também provocando mudanças no clima de forma muito rápida. É isso que afirma a climatóloga Francis Lacerda, que observou um aumento sistemático da temperatura somado à diminuição da ocorrência de chuva. “Em dois locais de Pernambuco, Caruaru e Araripina, a gente achou um padrão diferente: a temperatura máxima aumentando e a temperatura mínima diminuindo, o que é um sinal de clima desértico. Ou seja, nesses dois lugares existe um sinal claro de um processo de desertificação acelerada”. 

A diminuição da ocorrência da chuva também é um fator preocupante, e lugares como Araripe, município do Ceará, registram uma queda de dez milímetros por ano. Nesse ritmo, em 50 anos o índice anual terá caído pela metade. “Na região do Araripe a gente encontrou quase um grau por década de aumento. Tem áreas ali em que [o aumento] chega quase 5°C em 50 anos. É um aumento muito alto de temperatura e de redução da precipitação em todos os locais que a gente estudou”, conta Lacerda. 

O uso intensivo dos recursos naturais sem medidas sustentáveis também cria um ciclo de exploração e pobreza que aumenta a vulnerabilidade dos pequenos produtores rurais e diminui a renda com a perda de diversidade. Entre mais de 28 milhões de pessoas vivendo no semiárido nordestino (14,5% da população brasileira), a maioria faz parte da comunidade rural pobre. 

Redação redeGN Foto Ilustrativa