Álbum Alceu Valença e Paulo Rafael é lançado e ressalta a perfeita conexão entre os arranjos e solos 

Ainda é difícil acreditar que Paulo, ou Paulinho, Rafael, como os amigos o chamavam, não esteja mais entre nós. Mas a arte transcende à morte. Asserção meio clichê, porém ratificada em Alceu Valença e Paulo Rafael, título do disco que aterrissa nas plataformas de música para streaming, como selo Deck.

O álbum foi um dos projetos ensejados por Alceu Valença durante a pandemia, e é o melhor deles, ao menos, dos que chegaram ao público. A gravação foi realizada em 2021, no estúdio da Deck, no Rio, com produção de Rafael Ramos e de Alceu.

A capa assinada por J.Borges combina com o disco, cujo repertório flui despretensiosamente, como se os dois tirassem um som na sala da casa de Alceu em Olinda. Um álbum com canções bem conhecidas, e outras um pouco menos, além da inédita Fada Lusitana, composta por Alceu em Portugal. No álbum ele só não assina Sabiá (Zé Dantas/Luiz Gonzaga), e em Eu Vou Fazer Voar (tem como parceiro Herbert Azul).

Alceu Valença foi um dos artistas brasileiros que melhor aproveitou a quarentena determinada pela pandemia covid 19, ao trabalhar na produção de uma série de discos de sonoridade acústica, gravados com voz e violão. No mais recente, ele celebra o legado de uma das mais duradouras e prolíficas parcerias: a que estabeleceu em mais de 40 anos com o guitarrista Paulo Rafael.

O álbum Alceu Valença e Paulo Rafael, que acaba de ser lançado pelo selo Deck, ressalta a perfeita conexão entre os arranjos e solos do instrumentista e a obra do cantor e compositor pernambucano. Nas 11 faixas foram reunidas releituras de canções que se tornaram marcantes na trajetória do cantor originário de São Bento do Una, entre as quais os clássicos Anunciação, Cavalo de pau, Girassol e Na primeira manhã.

Mas o repertório traz também outras composições valencianas menos conhecidas pelo grande público como Amor que vai, Eu vou fazer você voar, Sete desejos e Sino de ouro. A elas se juntam a inédita Fada lusitana, composta entre as muitas idas e vindas de Alceu a Portugal; e a recriação de Sabiá, pinçada do legado de Luiz Gonzaga e Zé Dantas — referências importantíssimas no trabalho de Alceu. O CD traz ainda na capa uma xilogravura do consagrado artista plástico pernambucano J. Borges.

Natural de Caruaru, ex-integrante de grupos seminais da psicodelia pernambucana, como Tamarineira Village e Ave Sangria, Paulo Rafael, que morreu em agosto do ano passado, integrou a banda de Alceu desde 1975; e foi produtor dos discos do cantor a partir da década de 1980.

"Grande amigo, Paulo Rafael tocou comigo durante 46 anos, sem nenhuma desavença. Falávamos todos os dias, mas ele nunca fazia comentários sobre a gravidade da doença que o vitimou. Para levantar o astral, o convidei para uma turnê por Portugal, que, obviamente, acabou não ocorrendo. Mas ele veio ao Rio de Janeiro e ainda pudemos fazer juntos este álbum de despedida", comenta Alceu, em tom nostálgico.

Ascom Foto Divulgação