Presidente Bolsonaro defende golpe de 64 e Daniel Silveira e ataca ministros do STF

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a defender o golpe militar de 1964 e citou o deputado federal Daniel Silveira (PTB), que responde a um processo por ameaças aos ministros do Supremo e à democracia, para dizer que havia liberdade de “ir e vir” durante o regime militar. No mesmo evento, o presidente também atacou ministros do Supremo Tribunal Federal.

A fala ocorreu nesta quinta-feira (31), durante um evento que marcou a troca de ministros do governo, no Palácio do Planalto.

Em seu discurso, Bolsonaro voltou a levantar questionamentos quanto às urnas eletrônicas e criticou indiretamente, sem citar o nome, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, responsável pelas investigações dos chamados atos antidemocráticos e dos ataques feitos ao tribunal.

“Um ministro que não tem o que fazer, deve ser um desocupado, fica o tempo todo me processando. Alguém que não fez nada de útil para a sociedade, de repente, processa todo dia o presidente e o deputado [Silveira] também. O que ele quer com isso?”, questionou Bolsonaro.

Moraes determinou na terça-feira (29) que Silveira voltasse a usar tornozeleira eletrônica por descumprir decisões judiciais. Mas o parlamentar vinha se recusando a cumprir a ordem. Nesta quinta-feira (31), o ministro determinou novamente o uso do equipamento.

O deputado federal assistiu à cerimônia no Palácio do Planalto, da plateia. Ele deve colocar a tornozeleira às 15h, no prédio da Polícia Federal, em Brasília.

Em outro trecho do discurso, o presidente afirmou que o Brasil tem de tudo para ser uma grande nação. “O que falta? Que alguns poucos não nos atrapalhem. Se não tem ideias, cala a boca. Bota a tua toga e fica aí. Sem encher o saco dos outros. Como atrapalham o Brasil”, disse Bolsonaro, sem fazer menção direta a nenhum magistrado.

Em outro momento, Bolsonaro criticou indiretamente a ministra Rosa Weber, que negou pedido da Procuradoria-Geral da República para arquivar inquérito contra o presidente no caso Covaxin.

“Por muitas vezes, por uma gota d’água se faz um tsunami contra o governo. Por esses dias a PF [Polícia Federal] disse que eu não tenho nada a ver com uma vacina que não foi comprada, mas uma ministra disse: ‘Não, eu não vou arquivar, é passível de detenção do presidente’. O que essas pessoas querem? O que tem na cabeça? O que essas pessoas ajudam o Brasil?”, afirmou.

Defesa do golpe militar

“Hoje são 31 de março, o que aconteceu nesse dia? Nada. A história não regista nem um presidente da República tendo perdido seu mandato neste dia”, afirmou Bolsonaro.

A data é marcada pelo golpe militar que destituiu o então presidente da República, João Goulart, que se exilou no Uruguai.

Em 2 de abril, a Presidência foi declarada “vaga”, e o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, foi empossado interinamente. O poder, entretanto, ficou nas mãos de ministros militares. A ditadura militar no Brasil, iniciada em 1964, durou 21 anos.

Ao falar do período, Bolsonaro não citou a suspensão de direitos civis e políticos no país, além de perseguição, tortura e morte de oponentes, e se dirigiu pessoalmente a Silveira.

“Todos aqui tinham o direito, deputado Daniel Silveira, de ir e vir, de sair do Brasil, de trabalhar, de constituir família, de estudar, como muitos aqui estudaram naquela época”, disse o presidente.

CNN / foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil