Prefeito do interior de SP relata que pastor pediu propina de R$ 40 mil após encontro no MEC

O prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), Manoel do Vitorinho (PP), confirmou nesta quinta-feira (24) à EPTV, afiliada da TV Globo, que o pastor Arilton Moura pediu R$ 40 mil de propina para enviar verbas do Ministério da Educação para o município, após um encontro de gestores municipais com o ministro Milton Ribeiro, em março de 2021.

A informação havia sido divulgada em reportagem de 'O Globo', na quarta-feira (23).

Arilton é um dos pastores com trânsito livre no MEC e relação próxima com o ministro Milton Ribeiro. Nesta semana, reportagem do jornal 'Folha de S. Paulo' mostrou áudio de Ribeiro, em reunião com prefeitos, dizendo que repassa verbas do MEC a municípios indicados pelos pastores a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em nota divulgada na terça (22), Ribeiro negou favorecimento a pastores e também que a prática ocorresse a pedido de Bolsonaro. O g1 não conseguiu localizar o pastor Arilton Moura para comentar a acusação do prefeito de Boa Esperança do Sul.

Pedido de propina

Em 18 de março do ano passado, José Manoel de Souza estava em Brasília (DF) para participar de um encontro promovido pelo ministro da Educação com cerca de 30 gestores municipais - o compromisso consta na agenda oficial do ministro Milton Ribeiro.

A conversa com o pastor Arilton aconteceu no restaurante de um hotel, após a reunião no MEC.

"Quando acabou a reunião eu encontrei o prefeito de Gavião Peixoto e o de Nova Europa e falei ‘acho que viemos numa furada, que reunião sem conteúdo’. Nisso veio um cara que eu não lembro o nome e perguntou se eu estava bravo, respondi que sim e ele me perguntou se eu tinha levado ofícios. Depois de protocolar, ele convidou para almoçar no restaurante do hotel e disse ‘é que lá vai estar o pastor Arilton e o pastor Gilmar, eles vão falar um pouquinho sobre as demandas que vão liberar para os municípios’. Pegamos um táxi e fomos”, disse.

"Ele [Arilton] falou: 'prefeito, você sabe como as coisas funcionam, não dá pra ajudar todas as cidades, mas eu posso ajudar seu município'. Perguntei como e ele [Arilton] disse que era com uma escola profissionalizante. Respondi que isso não era uma necessidade do município e ele disse: ‘olha prefeito, eu consigo fazer um papel, um ofício agora, te libero a escola, mas em contrapartida você precisa depositar R$ 40 mil na conta da igreja evangélica'. Eu levantei, bati no ombro dele e falei ‘muito obrigado, pastor. Pra mim, dessa forma, não serve!’”, contou o prefeito à EPTV, afiliada da TV Globo.

Nojo

Souza revelou que após o pedido receber o pedido de propina, sentou com os prefeitos de Gavião Peixoto e de Nova Europa e contou o que tinha acontecido.

“Falei ‘pelo amor de Deus, que barca errada a gente veio parar em plena pandemia’. A gente acabou de almoçar rapidamente, pagamos nossa conta e fomos embora. Senti totalmente descrente”, revelou.

“Mas naquele momento que acontece com você, eu me senti totalmente enojado, descrente. Em plena pandemia, pastores roubando a educação. Foi uma sensação horrível. Nos três (prefeitos) voltamos meio que desacreditados. Se o governo federal, se os pastores estão fazendo parte, ter que pagar para você ter algo que é direito do município, foi uma sensação muito ruim”, lamentou.

Sobre não ter denunciado a situação na época e ter decidido falar agora, o prefeito afirmou que "na época havia acabado de assumir a prefeitura. Fiquei assustado com tudo isso e jurei para mim mesmo jamais voltar a pisar no MEC. O tempo passou e vi muitas coisas boas na política e pessoas extremamente corretas, o que me fez deixar em segundo plano o ocorrido. Voltei a rememorar o assunto somente com a repercussão das últimas matérias", disse ao g1.

Denúncias

Para o prefeito Kelton Pinheiro (Cidadania), da cidade goiana de Bonfinópolis (GO), o pastor Arilton Moura teria pedido R$ 15 mil.

Já o prefeito do município de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB) disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que o pastor Arilton Moura pediu ouro em troca do repasse de recursos.

Braga contou ainda que o pedido foi feito em meio a outros prefeitos. Ele afirmou que não aceitou o pedido de propina.

G1 / foto: reprodução/Facebook