RedeGN - Secretaria da Agricultura atua em diversas frentes para minimizar impactos da guerra no agronegócio da Bahia

Secretaria da Agricultura atua em diversas frentes para minimizar impactos da guerra no agronegócio da Bahia

A recente guerra entre Rússia e Ucrânia traz impactos variados pelo mundo. No caso do Brasil, dentre outras consequências, causa preocupação os desdobramentos que podem ocorrem na agropecuária. Para proteger esse importante setor da economia, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (SEAGRI) montou um grupo de trabalho para adentrar ao tema e procurar soluções, voltando os primeiros esforços para uma questão que vem se mostrando emergencial: restabelecer os estoques brasileiros de adubos e fertilizantes. Como ação inicial do grupo, a Seagri organizou o webinário de tema Possíveis impactos do conflito Rússia/Ucrânia no agronegócio do Brasil e da Bahia – Caminhos e ações pertinentes, dia 10 março (quinta-feira), das 14h às 15h30, transmitido pelo YouTube, com link disponibilizado pelas redes sociais e sites da secretaria.

O Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo, sendo que cerca de 23% dos adubos ou fertilizantes químicos importados em 2021 vieram da Rússia, segundo levantamento do Comex Stat, portal do Ministério da Economia que traz dados sobre o comércio exterior. Já material da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) oferece o dado de que 25% dos insumos para fertilizantes importados pelo Brasil vêm do Leste Europeu. Adotando-se qualquer dos parâmetros, a Rússia é a principal fornecedora desses insumos para o Brasil. Somente em 2021, nosso país importou da região em conflito cerca de 9,3 milhões de toneladas de fertilizantes para a produção agrícola.

A dependência internacional do Brasil para a aquisição de adubos e fertilizantes é conhecida, e muito criticada. Em fevereiro de 2020, o governo Jair Bolsonaro fechou a Fafen Fertilizantes, unidade de operação da Petrobras localizada em Araucária (PR), dentre outras ações nessa direção. Dessa forma, nesse setor, o Brasil foi se isolando no mundo. De todos os grandes exportadores de commodities agrícolas, como os grãos, o Brasil é o único país que tem grande dependência do exterior para adquirir insumos para a produção. Essa posição frágil, pelo que tudo indica, ficará explicitada agora, com as restrições de importação da Rússia.

Gerente de infraestrutura e agronegócios da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Luiz Stahlke diz que cerca de 65% dos fertilizantes utilizados no estado vêm do exterior. "Estamos atentos à situação e discutindo sobre saídas, possibilidades. No Oeste da Bahia, hoje temos soja e algodão plantados, então a ureia e o potássio necessários para essa safra em andamento já estão nas fazendas. O problema com essas culturas é o próximo plantio, a acontecer a partir e outubro e para esse ciclo o produtor tem que começar a comprar seus insumos (adubos, fertilizantes) agora. Quanto ao milho, que precisa de nitrogênio e potássio, o agricultor que não já adquiriu seus insumos já vai ter que encarar o mercado com preços mais elevados".

Desde que o conflito entre Rússia e Ucrânia começou, os preços dos fertilizantes vêm sofrendo elevações. Na semana em que a guerra eclodiu, os valores da ureia alcançaram suas máximas em 45 anos, no mercado de Nova Orleans, nos EUA. Logo na sequência das notícias do início da invasão russa, a ureia chegou a registrar altas de até US$ 150,00 por tonelada nos EUA e até US$ 180,00 por tonelada no Brasil. E o impacto no mercado brasileiro foi imediato.

Na última semana de janeiro, a média da ureia ficou em US$ 642 por tonelada no Porto de Paranaguá (PR), quase US$ 50 a mais do preço que vinha sendo comercializado, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Nessa mesma semana, a alta média dos fertilizantes que chegaram ao porto foi de 6%. E isso se acrescenta em um cenário já em alta, pois o acumulado dos fertilizantes ultrapassou, em média, os 100% em um ano.

"Houve um erro na política federal de incentivo à produção nacional de adubos e fertilizantes. Ficamos na mão das importações e isso não é bom, está longe de ser estratégico. Agora, com a guerra, esse fato externo, teremos que fazer uma arrumação de rota para minimizar os impactos em nossa agropecuária. Para isso, a SEAGRI já montou um grupo de trabalho para, junto com entidades e sindicatos de produtores, além do poder público, inclusive o federal, buscarmos saídas rápidas para esse impasse", diz o titular da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (SEAGRI), João Carlos Oliveira.

Aqui cabe frisar que a utilização de adubos e fertilizantes impacta tanto na agricultura quanto na pecuária. Na agricultura, por motivos óbvios: esses insumos são essenciais para o desenvolvimento e a saúde da produção. Quanto à agropecuária, o milho, por exemplo, é a base da ração disponibilizada para bovinos, suínos, caprinos, ovinos e aves. Então, o aumento do valor dos produtos utilizados na alimentação dos animais também eleva os custos de produção do setor e encarece, ao final, o preço da carne e dos ovos. Ou seja, a questão dos adubos e fertilizantes é essencial no tangente ao agronegócio.

Em entrevistas recentes, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Tereza Cristina, afirmou que o país tem estoques de passagem (uma quantidade mínima reservada para o próximo período de plantio) para suprir sua demanda de fertilizantes, ao menos por enquanto. Ela também revelou que o governo federal já conversa com o setor privado, na busca por outros países que possam fornecer o insumo, como o Irã.

Somado a tudo isso, o agronegócio também é diretamente impactado pela alta nos combustíveis. O preço do barril de petróleo, no mercado internacional, não para de crescer. No dia 24 de fevereiro, o preço do barril de petróleo chegou a US$ 103.78. Foi a primeira vez que o valor passou dos US$ 100, desde 2014. Segundo previsões do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), caso a guerra continue, o barril de petróleo pode chegar a US$ 150 ou US$ 200. Isso impacta diretamente no preço dos insumos e no transporte da produção, encarecendo ainda mais os insumos e dificultando os mercados para os produtores.

Nota da Anda 

A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), que atua no mercado desde 1967, emitiu, ontem (03), nota esclarecendo que o Brasil "possui atualmente estoque de fertilizantes para os próximos três meses". A nota segue explicando que a atual situação quanto às dificuldades de importação de produtos da Rússia fica ainda mais complexa ao serem somadas as sanções anteriores impostas à Bielorrússia, de onde vinha cloreto de potássio para o Brasil. As sanções internacionais à Belorrússia devem-se "ao posicionamento de seu governo, contestado pela maioria das ações", como esclarece a nota da Anda.  A Belorrússia é governada desde 1984 por Alexander Lukashenko, que acumula ações consideradas autoritárias.

A nota da Anda também levanta questões sobre possíveis restrições bancárias, a nível internacional, que possam atrapalhar transações bancárias de negócios, assim como destaca problemas quanto à logística marítima, "por conta das restrições que inibem temporariamente o fluxo de navios à região do conflito, acarretando dificuldades para transportar os insumos, como registrado nas operações no Mar Negro".

Da Redação RedeGN / foto: Pixabay