Projeto Som da Pele: Batuqueiros do Silêncio. Música para quem não ouve

O Som da Pele é uma experiência de inclusão e capacitação de pessoas surdas.O som que não acontece no ouvido, mas que ganha vida na pele. Assim é o projeto "Som na Pele", pensado pelo professor e músico Irton Silva.  Como se desenhasse uma orelha no mapa do Brasil, o músico e educador pernambucano Irton Silva, o Mestre Batman, recorta o Nordeste do país ensinando alunos surdos a tocarem instrumentos de percussão.

Ontem o casal foi destaque em programa de televisão veiculado em Rede Nacional atravez de um quadro do Programa Domingão do Hulk, transmitido na TV Globo. Projeto Som da Pele, tem 13 anos e surgiu em Recife Pernambuco. O projeto deu origem ao grupo Batuqueiros do Silêncio.

“O som dos bombos e o bater de latas sempre me chamaram atenção e me envolveram desde criança. Ainda pequeno, comecei a perceber que meu vizinho surdo sempre ficava de fora. A sua mãe não o deixava participar, porque ele não acompanhava o ritmo dos demais meninos da idade. Por que ensinar música a quem não ouve?”, conta Batman, sobre suas maiores motivações. 

Ainda de acordo com ele, o filme O resto é silêncio (2015), de Mabel Lopes, foi o seu grande gatilho para analisar os sons. Levado pela memória de infância e o gosto pela música, ele passou a idealizar projetos em prol dos deficientes auditivos.

“Eu sempre me identifiquei com quem sofria exclusão e destinei meus trabalhos com pessoas em situação de vulnerabilidade social ou tratamento psiquiátrico, sempre usando a música”, explica. Atualmente, além do projeto itinerante, o Mestre Batman concentra, em São Paulo, as atividades do Instituto Som da Pele, entidade sem fins lucrativos fundada por ele, com a proposta de difundir música para a comunidade surda.

Para trabalhar com os surdos, mestre Batman buscou meios para se comunicar com eles e acabou desenvolvendo uma dinâmica de percepção corporal, uma espécie de alfabeto musical visual, atribuindo sinais às figuras de tempo – técnica muito usada por quem estuda música.

Quem ajuda a entender o que dizem os batuqueiros é a intérprete Jaqueline Martins, que trabalha com a Linguagem Brasileira de Sinais
(Libras).

Para o educador, o primeiro passo para conectar com a música é senti-la na pele. Em seguida, vem a aula de teoria musical, quando os alunos conhecem os símbolos da notação musical moderna: colcheias, claves, mínimas, pausas… Além das duas etapas, percebeu que também é possível usar os olhos como condutores do ritmo. 

“A ideia é trabalhar a autoestima dos alunos e mostrar que a música pode fazer parte da cultura surda”, destaca.

A partir de um alfabeto musical formado por sinais visuais, Mestre Batman ensina as crianças e jovens surdos a identificar as figuras
de tempo da música, que ele chama de metodologia MusiLibras. 

“Para o som acontecer, alguma coisa vibrou. Não é preciso ouvir para sentir a vibração que o tambor emite”, pontua. Além disso, o educador desenvolveu um metrônomo visual, instrumento que mede tempo e andamento musical a partir de quatro canais de cores. A adaptação do som para o visual funciona com lâmpadas de cores - azul representa o som forte; e o verde, o som mais fraco - e tamanhos diferentes, possibilitando trabalhar a intensidade e duração do som.

Para cada ritmo, há uma sequência. “No começo, eu usava só lâmpadas brancas e conseguia trabalhar o pulso musical, mas aí percebi que, se colocasse outras cores, abrangeria muito mais coisas. Então agora, com quatro canais, a gente trabalha a intensidade do som e também consegue coordenar a figura de tempo musical: o som preso e o som aberto”, explica.

O equipamento foi reconhecido como uma tecnologia assistiva na educação musical brasileira. Batman também é responsável pelo Batuqueiros do Silêncio, que já formou mais de 150 pessoas surdas e hoje atua com cerca de dez. O grupo já se apresentou por várias cidades do Brasil, com destaque para a Cerimônia de Encerramento das Paraolimpíadas no Rio de Janeiro, em 2016. 

De acordo com a professora do Atendimento Especia Luciana Lopes, o projeto abriu a mente dos alunos. "Os estudantes entenderam que podem ser o que quiserem, não importando as dificuldades. Alguns deles não tinham respeito por outros colegas que também tinham deficiência, mas depois das aulas, isso mudou", relata.

Redação redeGN Foto Divulgação