Uma a cada quatro mulheres sofreu violência por parceiro íntimo, diz estudo

Uma em cada quatro mulheres sofreu violência doméstica ao longo da vida. O índice preocupante é de um estudo publicado no periódico científico The Lancet.

As novas estimativas, que consideram dados até 2018, antes da pandemia de Covid-19, indicam que 27% das mulheres de 15 a 49 anos, que já tiveram um relacionamento, sofreram violência física ou sexual de um parceiro íntimo durante a vida. Sendo que um em cada sete (13%) casos de violência por parceiro ocorreu nos últimos 12 meses da pesquisa.

Os pesquisadores utilizaram informações do banco de dados global da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a Prevalência da Violência Contra as Mulheres, que abrange 90% das mulheres em todo o mundo.

A pesquisadora Claudia García-Moreno, da OMS, autora principal do estudo, alerta que os fatores associados à violência contra a mulher se agravaram durante a pandemia. Ela destaca que a violência entre parceiros íntimos afeta a vida de milhões de mulheres, crianças e famílias em todo o mundo.

“Embora este estudo tenha ocorrido antes da pandemia de Covid-19, os números são alarmantes e pesquisas mostraram que a pandemia agravou questões que levam à violência por parceiro íntimo, como isolamento, depressão e ansiedade e uso de álcool, além de reduzir o acesso a serviços de apoio. Impedir que a violência entre parceiros íntimos aconteça em primeiro lugar é vital e urgente”, disse Claudia, em um comunicado.

Impacto global da violência contra a mulher

A violência por parceiro íntimo de mulheres que já estiveram em um relacionamento (como mulheres que são ou foram casadas, coabitam ou têm um parceiro sexual de longo prazo) refere-se a comportamentos físicos, sexuais e psicologicamente prejudiciais no contexto do casamento, coabitação, ou qualquer outra forma de união.

O estudo destaca que a agressão pode ter grandes impactos de curto e longo prazo nas saúdes física e mental da vítima, levando a custos sociais e econômicos substanciais para governos, comunidades e indivíduos.

A Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento Sustentável pede pelo fim da violência contra as mulheres em seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Na análise, os pesquisadores fornecem estimativas de base para a violência praticada por parceiros íntimos contra mulheres nos níveis global, regional e nacional. Além de contribuir para a formulação de políticas públicas e programas de prevenção, o estudo também tem com o objetivo ajudar os governos no monitoramento do progresso em direção a essa meta da ONU.

Panorama

As primeiras estimativas globais e regionais sobre a prevalência de violência física ou sexual por parceiro íntimo e violência sexual por não parceiro foram publicadas pela OMS em 2013, considerando dados de pesquisas existentes até 2010.

À época, foi constatado que uma em cada três mulheres sofria violência física ou sexual dentro ou fora dos relacionamentos. Quase uma em cada três (30%) das mulheres sofreu esse tipo de violência apenas por parte dos parceiros.

No estudo publicado na Lancet, foram utilizadas pesquisas de base populacional, com uma melhor qualidade de dados e métodos atualizados para fornecer as estimativas atuais de prevalência desse tipo de violência em todo o mundo até o ano de 2018, período pré-pandemia.

Os achados apontam que uma em cada quatro mulheres que já viveram um relacionamento sofreram violência exclusivamente dos parceiros. O estudo estimou apenas que as violências física e sexual e o trabalho em andamento pela OMS para fortalecer as medidas de denúncia de comportamentos psicológicos prejudiciais por parte dos parceiros.

A análise indica que os governos não estão alinhados para cumprir as metas de erradicação da violência contra as mulheres. “Embora tenha havido progresso nos últimos 20 anos, ainda é grosseiramente insuficiente para atingir a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de eliminar a violência contra as mulheres até 2030”, diz Claudia.

Os dados usados na pesquisa, coletados do Banco de Dados Global da OMS, incluem mais de 300 pesquisas e estudos realizados entre 2000 e 2018. O conjunto de informações abrange 161 países e áreas, representando 2 milhões de mulheres com 15 anos ou mais e cerca de 90% da população global de mulheres e meninas.

A análise estatística permitiu estimar a prevalência de violência por parceiro íntimo em diferentes faixas etárias, regiões e faixas de tempo a serem calculadas. Globalmente, estima-se que 27% ou aproximadamente uma em cada quatro mulheres com idades entre 15 e 49 anos já sofreram violência por parceiro íntimo pelo menos uma vez na vida desde os 15 anos.

As estimativas sugerem que, em 2018, até 492 milhões de mulheres de 15 a 49 anos sofreram violência por parceiro íntimo, considerando o período de 12 últimos meses do estudo – o que equivale a 13% ou uma em cada sete mulheres.

No entanto, os pesquisadores alertam que a prevalência de violência pode ser ainda maior, devido às limitações do estudo, realizado com base em experiências relatadas pelas próprias mulheres. A natureza sensível e o estigma da questão pode ajudar a encobrir uma série de casos.

O estudo também chama a atenção para os altos níveis de violência por parceiro vivenciada por meninas adolescentes e jovens. Na grupo de mulheres mais jovens, de 15 a 19 anos), estima-se que 24% ou quase uma em cada quatro sofreram violência por parceiro íntimo.

A prevalência de violência recente por parceiro íntimo foi mais alta entre meninas adolescentes e mulheres jovens de 15 a 19 e de 20 a 24 anos, com 16% ou uma em cada seis vítimas de violência por parceiro em 2018, também considerando os últimos 12 meses do levantamento.

“O alto número de mulheres jovens que sofrem violência por parceiro íntimo é alarmante, pois a adolescência e o início da vida adulta são fases importantes da vida, quando são construídas as bases para relacionamentos saudáveis. A violência que essas jovens sofrem tem impactos duradouros em sua saúde e bem-estar”, afirma a pesquisadora Lynnmarie Sardinha, da OMS.

Lynnmarie defende a criação e o investimento em intervenções comunitárias e escolares como reforço para a prevenção à violência.

Distribuição regional

No estudo, variações regionais apontaram que a prevalência de violência por parceiro íntimo entre mulheres de 15 a 49 anos foi mais alta na Oceania (49%) e na África Subsaariana Central (44%). As regiões com as menores estimativas foram a Ásia Central (18%) e a Europa Central (16%).

“Essas descobertas confirmam que a violência contra as mulheres por parceiros íntimos masculinos continua sendo um desafio global de saúde pública. Os governos não estão no caminho certo para cumprir as metas de erradicação da violência contra as mulheres até 2030″, afirma Claudia.

Os autores pedem investimentos urgentes em intervenções em diversos setores da sociedade e uma resposta de saúde pública fortalecida para enfrentar o problema, especialmente no contexto da pandemia.

CNN / foto: reprodução