Seja quem for o candidato à Presidência da República em 2026 — Lula, Bolsonaro ou algum de seus herdeiros políticos —, é provável que o pleito reproduza a lógica da divisão entre “nós e eles”, “petralhas” contra “bolsominions”, “esquerdistas” versus “direitistas”. O Brasil atravessa uma das fases mais polarizadas de sua história republicana. Embora a polarização não seja fenômeno novo em nossa trajetória política, ela já foi sustentada por projetos de país — como o nacionalismo, o desenvolvimentismo, o trabalhismo. Hoje, a disputa é personalizada: fulanos contra sicranos. O conteúdo cede lugar ao confronto de identidades.
A polarização contemporânea assume a forma de uma guerra simbólica, em que os adversários não buscam se vencer por meio de ideias, argumentos ou propostas, mas sim por meio de rótulos e estigmas. A linguagem política atual tende a negar a humanidade do outro, reduzindo-o a caricatura. Por isso, falamos em desumanização da política — um ciclo marcado pela intolerância, pelo ódio e por práticas discursivas que transformam o adversário em inimigo moral.
Sob essa lógica, o antagonista é visto como ser inferior, indigno de respeito, numa retórica maniqueísta em que “os bons” enfrentam “os maus”. A crítica política dá lugar à demonização do outro, tornando inviável qualquer forma de diálogo ou construção conjunta. Esse fenômeno está presente em muitos regimes democráticos, onde cresce a preocupação com o esvaziamento ético da vida pública...