O texto “Quadrilha”, de Lívia Natália faz parte do projeto “Poesia nas Ruas”, foi aprovado pelo Fundo de Cultura. O “Poesia nas Ruas” tem também poemas de Nelson Maca, Alex Simões, Mel Adún. Os versos foram estampados em outdoors na cidade de Ilhéus, sul da Bahia. O poema de Lívia recebeu críticas da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares do Estado da Bahia (Aspra), e o outdoor foi removido, segundo o site Bahia Notícias.
A censura gerou manifestações de apoio à professora Lívia Natália nas redes sociais, sites e blogues. A poetisa desabafou no Facebook: “Este é mesmo o País que se diz fora do regime militar e sem censura? Eu e as pessoas que fizeram o projeto Poesia nas Ruas tivemos o nosso direito à liberdade de expressão vetado!”
O poeta Jorge Augusto, em matéria no site Bahia Notícias, analisou o poema: “O poema propõe pensarmos a subjetividade interditada desse corpo negro, (quando rompe a cadeia amorosa que remete a intertextualidade com o poema de Drummond), sinaliza o abandono em que, muitas vezes, é condenada a mulher negra, denuncia, ao mesmo tempo, a violência com que a PM pratica seu genocídio contra o povo negro. É o amor, a subjetividade desse ser-negro, pensado, pelo Estado, sempre como um corpo suspeito que é tema. Maria não teve tempo de amar João. E o assassinato pela PM é apenas uma das formas pela qual essa subjetividade do negro brasileiro foi interditada, pela violência, e o poema usa dela para denunciar essa interdição, esse amor que não chegou a ser”.
Valdeck Almeida de Jesus, jornalista e poeta, postou em seu perfil no Face: “Meu apoio público a Lívia Natália e ao poema. Nada a retificar. Interditar o outdoor é interditar a livre expressão. E o poema não diz nada diferente do que as estatísticas já dizem há muito tempo. Ratifico o artigo do professor Jorge Augusto. É necessário que todos nós, poetas, escritores, artistas em geral, nos manifestemos contra a retirada do outdoor com o poema de Lívia Natália.”
O projeto Fala Escritor postou “Eu apoio Lívia Natália! Vamos mostrar a força que a poesia, a literatura e a cultura baiana têm contra a truculência da PM. Cada um vai marcar cinco poetas ou pessoas ligadas à poesia, à literatura e à cultura, compartilhando essa postagem. Censurar Lívia Natália é censurar a poesia baiana. Compartilhem.”
Aqui o poema:
“Quadrilha
Maria não amava João.
Apenas idolatrava seus pés escuros.
Quando João morreu,
assassinado pela PM,
Maria guardou todos os sapatos.”
(“Correntezas e Outros estudos Marinhos” (Editora Ogum's Toques Negros, Salvador-BA, 2015).
Resta a todos nós lutarmos contra esta censura. Com a palavra: escritores, poetas, jornalistas, ativistas culturais, pesquisadores, professores, mediadores de leitura, grupos e coletivos culturais, associações, academias de letras e o povo em geral.
Fontes:
http://www.galinhapulando.com/visualizar.php?idt=5511685
http://galinhapulando.blogspot.com.br/2016/01/poema-censurado-na-bahia.html
Por Valdeck Almeida de Jesus - Jornalista
10 comentários
16 de Jan / 2016 às 13h24
Joãozinho... era só sorrisos até o dia em que Homens negros identificaram seu pai num coletivo, seu pai era PM e o final do poema todos sabem
16 de Jan / 2016 às 14h16
Só aqui nesse brasil,com b minúsculo mesmo, país onde varias pessoas anda se arrastando... é cultura,e isso é poema?
16 de Jan / 2016 às 15h06
E se no outdoor o poema estivesse escrito assim: "Maria amava o PM,e o PM foi morto pelo o negro! Será que não iriam dizer que foi essa poetisa estava cometendo um ato de racismo? Pimenta nos olhos dos outros é refresco!
16 de Jan / 2016 às 15h28
Esse João poderia ser morto por tanta coisa por ex: um branco,descarga elétrica, erro médico, atropelado por um professor e etc... Mas escolheu justo a PM isso é procurar problema com quem nas horas das dificuldades é quem os protegem!
16 de Jan / 2016 às 17h37
Não tenho nada contra essa poeta, mas ela deveria fazer um sobre realmente o que é a marginalidade, quantas joãos e marias, não foram assassinados, por bandidos, porque se negou a dar um celular, um carro etc. Mas dizer que os Policiais são assassinos isso foi um erro, sou policial, sou pai e sou negro. Mas não me chame de assassino, sou apenas um trabalhador, e trabalho em prou da sua segurança, Sra poeta! A senhora devia fazer um poema em homenagem aos muitos pais que perdem seus filhos para o trafico. Fica meu repudio a esse poema!
16 de Jan / 2016 às 17h44
Pq o poema não foi mais objetivo: Maria ( vagabunda marmita de preso) não amava João (traficante e homicida), Apenas Idolatrava seus pés de Fumo (maconha ), Quando João morreu Numa troca de tiros com os guerreiros da PM, Maria guardou todos os seus sapatos (fuzis na gíria do crime)
16 de Jan / 2016 às 19h48
Meu querido vá procurar o que fazer...vá que isso nunca foi poesia e sim intolerância policial.
17 de Jan / 2016 às 08h31
Isso tudo só pega mal de novo pra PM! Órgão revestido de músculos, truculência, chumbo.. e pouco cérebro, pouca ação social e boa vontade ao bem comum.
17 de Jan / 2016 às 09h06
E VOÇÊS DIZEM QUE ISSO É CULTURA, ME POUPE
17 de Jan / 2016 às 09h46
Dá pra ver que o povo não é mas besta. Muito bem Santos, vc sintetizou o pensamento de muitos, assim como o Gato Mestre.