O açude da Fazenda Boa Esperança, região de Patamuté, interior de Curaçá-BA, foi construído em meados do século XVIII por iniciativa do fundador da comunidade, o senhor Paulo da Cunha, um pecuarista e senhor de escravos que na época, exercia influencias junto ao governo imperial. Essas informações e tantos outros relatos acerca dessa obra secular, estão vivos na memória de antigos moradores da região como de dona Maria Eneide da Cunha, a "Dona Nenzinha", descendente direta do homem que idealizou a obra.
Dona Elvira da Cunha, que hoje reside em São Paulo e que também é descendente do fundador da comunidade, lembra que seus avós sempre lhe contaram histórias relacionadas ao açude construído com mão de obra dos escravos. Ela diz que durante meses e utilizando materiais e equipamentos rústicos, muitos negros escravizados eram mal tratados especialmente quando transportavam a pé, as pedras e outros materiais para edificar reservatório, muitas vezes indo até a região de Senhor do Bonfim, numa viagem dura penosa que durava dias.
O artesão juazeirense, Afonso da Cunha, mais conhecido por "Afonso Conselheiro", também descendente da família que mantém viva essa história, diz que a construção do reservatório proporcionou o povoamento da comunidade de Boa Esperança, Sitio Alexandre, Santana, Imbiraçu, Saco do Umbuzeiro, Tramecho e outras que surgiram ao longo dos anos.
Na tentativa de manter viva esse patrimônio histórico de Curaçá, a comunidade de Boa Esperança e demais comunidades do entorno, fizeram um abaixo assinado solicitando principalmente das autoridades locais, que movam esforços do sentido de que esse açude seja tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Mas, a comissão que está a frente desse movimento, já chama atenção também dos gestores de Curaçá, para que façam antes, uma restauração e limpeza no reservatório que hoje se encontra assoreado e com vazamentos porque suas paredes estão deterioradas; para a comunidade, se essas obras não forem feitas e o açude não for restaurado, poderá ocorrer um enorme prejuízo para a história e memória do lugar e de sua gente.
Por Raimundo Fábio
2 comentários
22 de Jul / 2019 às 11h23
Se realmente foi construido com tanto sofrimento do Povo Negro, o certo era deixar em ruínas, com uma grande placa destacando-se " AQUI HOUVE GRANDE SOFRIMENTO HUMANO"
22 de Jul / 2019 às 18h31
Nonato dos Santos, realmente foi uma construção realizada com mão de obra escrava, mas que faz parte da História e memória de um povo, deixar que um açude que serve a comunidade se destrua por falta de ação do poder público é impor, de uma outra forma claro, o sofrimento a esse povo. A memória precisa ser preservada, não para ser usada como muro de lamentações, mas para ser problematizada.