Um amplo leque de possibilidades de uso e conservação do Bioma Caatinga está sendo evidenciado pela pesquisa científica e pelas experiências da sociedade civil. Os trabalhos realizados pelas mais diversas instituições vêm mostrando que é possível utilizar os recursos naturais, gerar renda e ainda preservar a natureza, além de recuperar as áreas já degradadas.
Todas essas alternativas foram apresentadas e debatidas durante o II Simpósio do Bioma Caatinga (Sibic) e VI Workshop de Sementes e Mudas da Caatinga, realizado entre os dias 30 de Julho e 3 de Agosto, no Polo Petrolina-PE/Juazeiro-BA. O evento reuniu mais de 400 participantes, entre pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação, técnicos, produtores e outros interessados, oriundos de sete estados do Nordeste, além de outras regiões.
O evento teve sua primeira edição no ano 2000, quando foi chamado de Workshop do Bioma Caatinga. Embora ainda em menor proporção, seus resultados foram significativos. A partir dos debates realizados entre os participantes, foi elaborado um mapa de prioridades, no qual foi apontada a necessidade de proteção de uma das últimas áreas de Caatinga contínua preservada, o Boqueirão da Onça, no norte da Bahia. Com este subsídio, deu-se início à discussão com o poder público para delimitação das áreas.
Dezoito anos depois, foram destacados na abertura do evento temas como o recente estabelecimento do Parque Nacional do Boqueirão da Onça como unidade de conservação e proteção integral, em abril deste ano, e os esforços para a reintrodução da ararinha-azul na natureza, que deve começar a acontecer em 2019.
A ave é uma das espécies mais ameaçadas de extinção em todo o mundo. Ela é exclusiva da Caatinga e atualmente existem somente cerca de 160 exemplares vivos, todos em cativeiro. O trabalho de conservação da ararinha-azul, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conversação de Aves Silvestres (Cemave/ICMBio), foi uma das experiências de convivência do homem com a fauna do bioma apresentadas durante o Sibic, ao lado de projetos com répteis, anfíbios e carnívoros da Caatinga.
De acordo com a coordenadora do Simpósio, a pesquisadora da Embrapa Semiárido Lúcia Kiill, outros temas apresentados pelos palestrantes, como a agricultura biossalina e a inteligência territorial, começaram como projetos de pesquisa dentro da Embrapa e hoje já viraram políticas públicas ou ferramentas para essas políticas. Ela cita ainda o aplicativo Webambiente, que foi apresentado durante a palestra de abertura do evento e que hoje já está servindo como referencial para as ações relacionadas ao Novo Código Florestal. "Outras pesquisas estão sendo finalizadas, a exemplo dos serviços de polinização e dos potenciais dos bioativos, e esperamos que em um futuro bem próximo possam também virar ações de políticas públicas ou subsidiar ações nesse sentido", ressalta.
Para Lúcia Kiill, o evento trouxe um ganho considerável não apenas na parte técnica, com palestrantes de diversas instituições abordando temas inovadores e até então poucos discutidos, mas também na inserção da apresentação dos resumos e dos relatos de experiências, que não ocorreram na edição passada. "Com muita propriedade os temas foram apresentados pelos produtores, professores, estudantes ou por integrantes da sociedade civil, mostrando que há uma sensibilização dessas pessoas para as questões da nossa Caatinga, e que essa não é só uma preocupação das instituições em diferentes níveis, mas também da sociedade civil como um todo", avalia.
Exemplo dessa preocupação com uma convivência equilibrada do homem com a natureza, também apresentado no Simpósio, é o projeto de Recaatingamento, promovido pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) com patrocínio do projeto Petrobrás Ambiental. Nele, entre outras ações, produtores rurais de comunidades Fundo de Pasto são capacitados para atuarem como agentes ambientais, visando conservar as áreas em que a Caatinga ainda está preservada e recuperar as áreas já fragilizadas.
O prêmio é concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em parceria com o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) e a Embrapa.
Outros trabalhos técnicos e científicos em temáticas específicas relacionadas ao bioma foram abordados ao longo da programação do Simpósio, como as pesquisas e a produção de sementes e mudas de plantas nativas, os potenciais dos micro-organismos da Caatinga, a economia circular e outras experiências da sociedade civil com tecnologias voltadas para o Semiárido, além das ações de fomento e a atuação de instituições públicas em pesquisa, ensino e extensão.
Já as mesas redondas abordaram temas mais amplos, como as alternativas para recuperação de áreas degradadas, a conservação da biodiversidade do bioma pelo seu uso, a utilização da água no contexto de restrições hídricas do Semiárido, a valoração de serviços ambientais, como a Agricultura de Baixo Carbono (ABC), e as experiências da FAO/ONU em outras regiões semiáridas do mundo. O Sibic contou ainda com uma feira de saberes e sabores, que levou ao público uma variedade de alimentos produzidos com matéria prima regional e artesanatos com temáticas do sertão e da Caatinga.
O II Simpósio do Bioma Caatinga foi realizado pela Embrapa Semiárido em parceria com a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e contou com o patrocínio do Ministério do Meio Ambiente, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), Universidade de Pernambuco (UPE), Prefeitura Municipal de Petrolina, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Monsanto, Mineração Caraíba S/A, Plante Bem, Agropodas, Brotar, Rede de Sementes da Caatinga, Isla Sementes e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Petrolina (STTR).
Fonte: Embrapa Semiárido Foto: Regina Lima Cruz
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