"Wright Mill disse, certa vez, que o nosso mundo é uma galera onde todos remam com vigor, imprimindo velocidade cada vez maior ao barco. Só que ninguém tem ideia alguma da direção para onde ele está indo. Achei essa uma boa metáfora para a situação do Brasil, com apenas dois acréscimos. Primeiro: há um rombo no porão, a água sobe rapidamente, o casco se inunda, vai haver naufrágio. Segundo: na cabine de comando ninguém parece se preocupar com isso.
O comandante faz seguidos discursos tranquilizantes, denunciando os boatos alarmistas que sobem dos porões e garantindo que não há razões para pessimismo. A viagem, ele reassegura, transcorre segundo o previsto, o que permite que as festas continuem sem interrupção nos salões de baile. Enquanto isso, parece que os oficiais têm uma única preocupação na cabeça: o que fazer para subir um degrau na hierarquia do poder. No fundo, todos desejariam ocupar a posição do comandante. Para conter a gritaria que sobe lá de baixo, gritos que mais parecem com gargarejos, gargantas já inundadas de água, o comando despacha para baixo suas forças de segurança, com a missão de restabelecer a ordem – como se o perigo estivesse nos gritos do que se afogam e não na água que vai entrando.....