Situação epidemiológica está controlada, mas covid-19 continua preocupando especialistas

A pandemia de covid-19, que assola o globo há três anos, ainda preocupa especialistas no País, em um momento em que a situação epidemiológica está sob controle. Dados do governo confirmam que, desde ontem (6), são quase 10 mil novos casos e 79 óbitos no Brasil. No mundo, foram contabilizados, no dia 5, 100 mil e 800 novos casos e 560 óbitos. 

Essa preocupação decorre do fato de variantes e subvariantes – como a XBB.1.5, subvariante da ômicron, que causou o recente pico nos casos – ainda estarem em circulação e aparecendo a cada dia. A baixa vacinação em algumas faixas etárias, notavelmente entre os mais jovens, também é um fator de alerta. 

O primeiro caso de covid-19 no Brasil foi confirmado no dia 26 de fevereiro de 2020, em São Paulo. Desde lá, o País viveu momentos sombrios, de fechamento de escolas, mudança do regime de trabalho presencial para o on-line e muitas mortes. Agora, a situação está controlada. “Acho que nós estamos no ponto de transição para a fase endêmica, mas ainda permanecemos na situação pandêmica”, prevê o professor Eliseu Waldman, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP. Por isso, a situação ainda merece cuidado.

Estamos protegidos?
Waldman traz à luz um ponto determinante da pandemia até o momento: a grande variação sazonal definida em qualquer situação viral que, por conta da alta circulação, tem ocasionado o surgimento de um grande número de variantes. “E essas variantes, quando têm características de alta transmissibilidade, determinam epidemias”, ele explica.

Mesmo sendo epidemias de menor intensidade, causam preocupação. Isso porque, mesmo que uma parcela menor da população desenvolva casos graves e, posteriormente, venham a óbito, a meta é evitar todo tipo de sofrimento, o que justifica a preocupação e a manutenção do estado de emergência pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O epidemiologista pontua que essa diminuição decorre do fato de grande parte da população ter imunidade. 

Ele ainda diz que “agora os dados sugerem que a gente está num ponto de inflexão, provavelmente no correr deste ano a gente terá uma diminuição contínua de casos de óbitos. Mas vai depender muito das características das variantes que surgirem”.

A vacinação com a vacina bivalente da Pfizer, que protege contra o vírus original, a variante ômicron e suas subvariantes, deve começar a ser aplicada no dia 27 deste mês, de acordo com a nova campanha de vacinação do Ministério da Saúde. A vacina chega em um momento em que mais de 19 milhões de pessoas não completaram o esquema vacinal contra a covid-19. 

“A vacina continua sendo a grande arma contra a covid”, diz Waldman. Segundo ele, a meta é de 95% a 100% de cobertura para a diminuição dos casos graves e óbitos. Atualmente, a preocupação do Ministério é com a cobertura básica, que é baixa nos jovens. “Agora, nós precisamos incentivar a adesão da população à vacina. Ainda que a gente tenha conseguido taxas acima da média mundial, elas estão aquém do desejável”, lembra. 

A situação epidemiológica está melhor, mas o vírus ainda circula. A tendência, segundo o professor, é de uma dose anual, algo que o Ministério da Saúde já planeja fazer. A estratégia de vacinação para covid-19, porém, ainda é incerta e existem dúvidas a seu respeito. 

A característica de transmissão respiratória e as variantes têm determinado a distribuição da doença durante o ano todo, diferente do que acontece com a influenza, por exemplo. Geralmente a população vacinada no pico tem bons níveis de anticorpos, mas, no caso da covid, não há essa certeza. 

A estratégia vacinal não está determinada, ainda, por conta do comportamento do vírus e da composição da vacina. “A grande vantagem da bivalente é que ela traz na sua formulação cepas da variante ômega, portanto, uma vacina com maior semelhança com o vírus que mais circula na atualidade”, diz Waldman. Para isso, é necessário aguardar o comportamento da doença na fase endêmica. “Tudo indica que vai predominar também no inverno”, finaliza o professor. 

 

Jornal da USP