"Existe uma necessidade latente em formar jornalistas especializados em mudanças climáticas", diz pesquisadora

Existe uma necessidade latente em formar jornalistas especializados em mudanças climáticas. A ideia é defendida pela jornalista, fotógrafa e documentarista especializada na cobertura de temas socioambientais Juliana Arini. “A especialização dos jornalistas em mudanças climáticas é crucial porque é uma realidade cada vez mais presente no nosso cotidiano”, afirmou a profissional, que é colaboradora do Infoamazonia, National Geographic Brasil e O Eco.

Juliana participou da Mesa Desafios Ambientais do Brasil, realizada semana passada. O evento faz parte do V Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental, promovido pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (GPJA-UFRGS). A programação contou ainda com a participação de Fernando Aristimunho, integrante do Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa e pecuarista familiar. A mediação foi do jornalista e professor Roberto Villar Belmonte.

A fala de Juliana faz contraponto a uma triste realidade do Brasil: o meio ambiente não é uma pauta constante dentro das grandes mídias tradicionais. “Esse é um tema muito reativo e que incomoda por que passa por interesses econômicos e políticos”, disse. No entanto, as mudanças climáticas são uma realidade urgente e que precisa ser pautada dentro das redações.

 “Como eles vão fazer isso sem jornalistas especializados é o grande desafio”, lamentou Juliana. Mas existe uma pequena luz no fim do túnel, que é o surgimento de veículos segmentados independentes. Para a jornalista, que mora no Mato Grosso, nesses casos, o desafio é conseguir furar a bolha.

 Juliana defende que o discurso jornalístico precisa ser mais carregado de emoção e não somente dados: “Eu estou em um estado onde tem 10 cabeças de boi por habitante e as pessoas estão indo à fila do osso. É esse discurso que as pessoas precisam ouvir”. Fernando Aristimunho concorda com Juliana ao dizer que o grande desafio do Jornalismo Ambiental no Brasil é alcançar os rincões do país. Inclusive, esse é um dos temas apresentados pela Coalizão pelo Pampa, que defende, entre outras pautas, a implementação de políticas públicas de comunicação sobre os campos nativos do bioma. 

Além de uma imprensa especializada sobre questões ambientais, a Coalizão também requer a efetivação dos processos de regularização dos territórios tradicionais, cumprimento e regulamentação da legislação ambiental vigente na proteção do bioma Pampa e a valorização das cadeias produtivas dos ecossistemas. Essas medidas decorrem da questão agrária preocupante na região. Em 2018, existiam apenas 33,6% de área de vegetação no bioma, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados também mostram que 125 mil hectares do bioma foram transformados em lavouras entre 2012 e 2018.

"A produção agrícola não respeita o zoneamento e vem avançando em áreas da vegetação campestre nativa", explicou Aristimunho. Ele também relembrou que recentemente a “lei dos agrotóxicos” do Rio Grande do Sul, Lei 7747/1982 pioneira no Brasil, foi flexibilizada pelo Pacote do Veneno, como ficou conhecido o Projeto de Lei 260/2020, sancionado em 27 de julho do ano passado.

Atualmente, há pelo menos cinco projetos de lei que alteram as regras de proteção de territórios, favorecendo a formação de latifúndios em terras públicas e minando a reforma agrária. E boa parte do Congresso Nacional não tem compromisso com o meio ambiente. "Quem comanda a Amazônia é o agronegócio", disse Juliana Arini.

Segundo a jornalista, quem assumir os governos em 2023 vai herdar demandas ambientais enormes e um orçamento apertado. “Nós estamos vivendo os maiores desafios ambientais de todos os tempos - economia, mudanças climáticas e produção de alimentos - porque todos os problemas foram agravados e todas as soluções foram descontinuadas”, afirmou.

O V ENPJA, realizado pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (UFRGS/CNPq) e pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS), contou com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRGS, do Curso de Jornalismo da UFSM/FW e do Curso de Jornalismo da UniRitter. As gravações de todas as mesas estão disponíveis no canal do GPJA no YouTube.

* Danielly Oliveira é estudante de Jornalismo r e teve a supervisão do seu professor e jornalista responsável Roberto Villar Belmonte

Danielly Oliveira