ARTIGO 175 – UMA HISTÓRIA “LAMBUZADA”

Manifestante joga torta na cara de Genoíno, então Presidente do PT, em 2003, em Porto Alegre

A política brasileira praticada nos últimos 70 anos, cuja trajetória começou ao final da ditadura de Getúlio Vargas ou Estado Novo, em 1945, reservou um lugar especial na história do Brasil pelo extenso volume de variáveis que passou a oferecer a quantos se habilitaram a participar ou a entender o processo político nacional. O conceito preliminar que inspira a constituição de um Partido, tem como pressupostos fundamentais a existência de um Programa definido e a observância das tendências políticas dos cidadãos que se filiam à nova legenda, além, obviamente, de se subordinar ao comando de uma liderança política.

Assim, surgiram em 1945, no pós-guerra, partidos integrados por proeminentes líderes políticos da época, que marcaram território por duas décadas: UDN-União Democrática Nacional (Brigadeiro Eduardo Gomes, Juarez Távora, Otávio Mangabeira, Artur Bernardes); o PTB-Partido Trabalhista Brasileiro (Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola, este fundou depois o PDT); PSD-Partido Social Democrático (Juscelino Kubitscheck, Eurico Dutra, Marechal Lott), esses três partidos os mais fortes e representativos; o PSP-Partido Social Progressista (Ademar de Barros) e o PRP-Partido da Representação Popular (Plínio Salgado). O PCB-Partido Comunista Brasileiro, foi fundado em 1922, mas teve uma história marcada por longos períodos de clandestinidade. Os que viveram nesse tempo, devem se recordar das paixões políticas com que udenistas, pessedistas e petebistas defendiam as suas siglas...! Com o Golpe Militar de 1964, houve a imposição do bipartidarismo sem o uso do nome “Partido”, passando a existir apenas a ARENA-Aliança Renovadora Nacional e o MDB-Movimento Democrático Brasileiro, que duraram por 20 anos. Após o movimento das “Diretas Já” e o retorno da democracia, em 1984, outros partidos foram criados com denominações e composições diferentes.

Essas preliminares, contudo, não indicam a pretensão de qualquer estudo histórico da vida dos partidos políticos em suas diversas fases. Mas, se torna evidente uma atitude nostálgica quanto à seriedade como foram criados os acima citados, cujos vínculos dos seus integrantes tinham a marca da fidelidade a ideias e princípios, e não o que atualmente se presencia, ou seja, a avalanche excessiva de 35 partidos existentes e outros mais sendo criados a todo momento. Na sua maioria são apelidados, pejorativamente, de “Nanicos”, cujo compromisso maior é priorizar a negociação dos interesses dos seus fundadores, às vezes mantendo o governo como refém de certas exigências.

Só para ilustrar como tudo está diferente, lembro que o Governador de S. Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), interessado em atrair a simpatia do MST-Movimento dos Sem Terra, visando a campanha de 2018, sancionou Lei Estadual que faculta a transmissão de terras a herdeiros de assentamentos rurais, além de acesso a meios de financiamento. Na ocasião, bandeiras, bonés e camisas com os símbolos do movimento foram deixados de lado pelos sem-terra, sintomático de que lutam por interesses...!  

Outro detalhe que merece destaque, é que o político anoitece num partido e amanhece já transferido para outra sigla, demonstrando a inexistência de qualquer compromisso ideológico. Recentemente, o Senador Álvaro Dias, que transparecia firmes convicções político-partidárias no Senado Federal, ontem era do PSDB e hoje já é Senador do PV-Partido Verde, com cuja sigla não tem qualquer identidade ideológica!

O mundo político é sempre muito rico de fatos que ocupam espaço relevante no noticiário, com impactos positivos e negativos. O mais recente e que criou uma forte convulsão partidária interna no PT, foi a declaração feita em entrevista pelo ex-governador Jaques Wagner, atual Ministro-Chefe da Casa Civil, um dos fundadores e figura de proa do petismo nacional, expressão digna de particular realce pela importância das verdades ditas a respeito do seu partido, em entrevista nacional: “QUEM NUNCA COMEU MELADO, QUANDO COME, SE LAMBUZA”. Foi criticado e quase execrado do partido pelos seus correligionários, somente não ocorrendo face ao papel que ora desempenha ao lado da Presidente da República. Indignado, o ex-Ministro Tarso Genro, disse que a declaração do Ministro Wagner “foi profundamente infeliz e desrespeitosa, porque generaliza e não contextualiza”. Ora, a sua intenção não foi atingir nenhum correligionário, individualmente, mas o conjunto da obra, ou seja, o partido que não teve respeito pela sua história e jogou no lixo todo o seu ideário de lutas.

Sabendo-se o quanto dói a verdade “nua e crua”, talvez o único pecado cometido pelo Ministro foi ter oferecido à oposição o termo ou frase que esta tanto desejava para melhor definir o desempenho do PT nestes últimos anos: O PARTIDO QUE SE “LAMBUZOU” COM O PODER! Diria que, em respeito à sua militância, o PT ainda poderá se recuperar, NO FUTURO, desde que aprenda o exemplo deixado pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek: “COSTUMO VOLTAR ATRÁS, SIM. NÃO TENHO COMPROMISSO COM O ÊRRO”.

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público.