Patrimônios históricos resistem ao descaso e ao abandono. Dá tristeza ver construções sem atividade, inerte, com portas fechadas

A reportagem abaixo faz pensar sobre o prédio sede da Sociedade 28 de Setembro,localizado em Juazeiro, imagem do abandono em pleno centro da cidade .A valorização do patrimônio cultural parece condenado a ficar de fora dos planos das autoridades brasileiras.

Uns perderam as janelas; outros, as portas, e há aqueles cujas paredes desabaram, deixando apenas arcos de pedra. Patrimônios históricos resistem ao descaso e ao abandono. Dá tristeza ver a construções sem atividade, inerte, com portas fechadas 

Ficaram na memória os varridos do mapa das cidades pela ação humana e, muitas vezes, alvo das forças da natureza, especialmente nos períodos de chuva. Mas, na paisagem de Minas, resistem heroicas construções dos tempos coloniais, imperiais ou dos primórdios republicanos. Até quando, não se sabe.

Neste ano em que o Brasil celebra o bicentenário da Independência e perde joias arquitetônicas como o Casarão Baeta Neves, em Ouro Preto, destruído por um deslizamento de terra em 13 de janeiro, primeiro prédio neocolonial de Ouro Preto, do fim do século 19, passa da hora de preservar seculares testemunhas da história, marcos da vida em sociedade e ícones do patrimônio cultural.

Em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o imponente Solar da Baronesa, na Rua Direita, no Centro Histórico, faz belo contraste com o céu, agora, azulado num janeiro de tantas chuvas. No melhor estilo “quem vê cara não vê coração”. O sobrado que foi residência, colégio, sede da prefeitura municipal, esteve na mira de ser o Museu da Mulher Mineira e, recentemente, sediava a Secretaria Municipal de Cultura, encontra-se vazio.

Dá tristeza ver a construção do século 19 sem atividade, inerte, com portas fechadas e algumas bandeiras de janelas que balançam ao vento. “O Solar da Baronesa é testemunha da escravidão, da arte, das relações sociais e de muitos outros fatos históricos. O médico Márcio de Castro Silva (1931-2015), ex-presidente da Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia, dizia que o casarão guarda o DNA da nossa cidade”, diz o atual dirigente da entidade, Adalberto Andrade Mateus.

O Solar da Baronesa foi a principal referência do arraial de Santa Luzia no século 19. “Quando os viajantes europeus aqui chegavam, apresentavam suas credenciais aos barões luzienses. Perder a edificação por falta de ação será um fracasso após tantas lutas pela preservação do patrimônio cultural local. Em 2006, a Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia entregou o prédio completamente restaurado à comunidade, após o investimento superior a R$ 1 milhão”, completa Adalberto Mateus.

 Na mesma rua, distante cerca de 400 metros, na Praça da Matriz, há um exemplo positivo de preservação. Trata-se da obra de restauração em andamento (estrutura e cobertura) do Solar Teixeira da Costa/Casa da Cultura-Museu Aurélio Dolabella, imóvel com tombamento federal, estadual e municipal.
"Perder a edificação por falta de ação será um fracasso após tantas lutas pela preservação do patrimônio cultural local"

A Prefeitura de Santa Luzia informou que a intervenção no imóvel, todo cercado com tapumes, vai durar dois anos e meio, com recursos do município. A primeira etapa, que inclui reforço estrutural, custará R$ 2,1 milhões e a execução deve se estender por nove meses.

Segundo a Prefeitura de Santa Luzia, o Solar da Baronesa está em fase de licitação. Em nota, as autoridades informam que “o projeto aprovado, neste momento, no Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e no Conselho Municipal de Cultura, é o escoramento estrutural”.

Entre os imóveis que estariam numa espécie de “CTI do Patrimônio”, há construções públicas e particulares, com estrutura de pedra ou de pau-a pique, demandando, sempre, cuidados e atenção urgentes. Em Sabará (RMBH), uma das primeiras Vilas do Ouro de Minas, as chuvas causaram mais danos às ruínas do Casarão Melo Viana, na Rua Professor Francisco Lopes de Azeredo (antiga Rua da Ponte Pequena), no Centro Histórico.

Propriedade particular, o terreno está coberto pelo mato, mas impossível não reverenciar a beleza da estrutura de pedra e viajar ao passado observando as fotos antigas.

“A partir de meados do século passado, Sabará perdeu construções importantes dos séculos 18 e 19. Infelizmente, muitas que ficaram de pé estão abandonadas, num cenário que desvaloriza nosso patrimônio cultural”, afirma o pesquisador da história local, José Arcanjo do Couto Bouzas, morador de Sabará e especializado em arte e cultura barroca.

Redação redeGN com informação Jornal Estado de Minas