ARTIGO: Na briga entre Globo e Flamengo, quem perde é futebol brasileiro

Você pode estar pensando que na luta travada recentemente entre Rede Globo e Flamengo, apenas uma das partes será afetada. Engano seu. O temor é que o futebol brasileiro possa sofrer e muito com o desenrolar desta briga. Porque? A gente explica.

Tudo começou quando o Flamengo, se sentindo no direito de valorizar suas cotas com a Rede Globo, tentou renegociar seu contrato com a emissora, mas sem sucesso. As partes não chegaram a um acordo e desde então, os jogos do time de Jorge Jesus não são exibidos na grande tela.

Com torcida e diretoria chateadas com a situação, Rodolfo Landim, presidente do clube e sua cúpula, visitaram o presidente da República, Jair Bolsonaro, na expectativa de colocar em prática uma medida provisória alterando a Lei Pelé, fazendo com que a negociação dos direitos de transmissão fique restrita, para cada partida, aos clubes mandantes. Isto significa que uma emissora ou uma empresa de streaming, para transmitir uma partida, não precisa mais ter acordo com os dois clubes participantes, apenas negocia diretamente com o mandante do jogo.

MP aprovada, mesmo com a Globo recorrendo e perdendo na justiça, o Flamengo transmitiu o jogo contra o Boa Vista na última quarta-feira (01) pela FLA TV, apenas no youtube, sem o envolvimento da emissora global. Com este acontecimento, a Rede Globo emitiu uma nota no dia seguinte à partida, afirmando que não irá mais transmitir nenhum jogo até o fim do campeonato Carioca. O sinal de alerta acendeu.

Esse episódio pode ser o ponto de partida para o fim dos estaduais, desvalorização dos campeonatos nacionais e o pior, enfraquecimento dos clubes menores tanto do Rio, quanto de outros estados se essa moda pegar. Mas, você nos pergunta, por que essa briga pode gerar tanta confusão?

Vamos lá, não é novidade para ninguém que a Rede Globo “segura a onda” do futebol brasileiro a muitos e muitos anos. As cotas televisivas “sustentam” os grandes e os pequenos clubes do nosso país, com raríssimas exceções, como o Flamengo, isso hoje em dia, por que anos atrás, os valores repassados pela televisão tiravam o time do vermelho. Além disso, estádios esvaziados, dificuldade de prospectar patrocínios, incapacidade de gerar receita com seu próprio torcedor, fazem com que a esmagadora maioria dos clubes precisem e recorram ao dinheiro da Rede Globo.

Se fizermos um pequeno exercício ou se nos deixarmos levar pela emoção de alguns torcedores e entusiastas das transmissões do futebol pela internet, veremos que se a Globo deixar o futebol brasileiro, competições como Brasileirão Sub-17, Sub-20, Brasileiro Feminino, Série B, C e D e todos os estaduais desapareçam do calendário, por que, não se engane, a Globo não tem altíssimos lucros com estas competições. Elas vem de “lambuja” quando a emissora negocia com a CBF campeonatos mais atrativos como Série A do Brasileiro e Copa do Brasil. Tipo assim: “Rede Globo, você transmite nossos melhores campeonatos (Brasileirão e Copa do Brasil), mas terá que incentivar, valorizar e levar para os telespectadores, outras nossas competições que não são tão rentáveis, ok?” e aí a emissora que tem anos de parceria com a entidade, disponibiliza todo seu know-hall e tecnologia para isso.

Qual outra emissora de TV aberta ou até mesmo fechada, terá cacife para bancar todos estes campeonatos com a qualidade que a Globo dispõe? Como viverão os times pequenos de todos os estados sem verba da TV? Como ficarão os torneios da base e feminino após esse rompimento?

A internet brasileira ainda não está pronta para transmissões ao vivo, boa parte da nossa população não tem acesso suficiente para carregar jogos online, o que se comprova através dos números. A partida do Flamengo diante do Boa Vista teve 2 milhões de torcedores simultâneos, enquanto o Botafogo e Portuguesa, um dia antes, mesmo tendo sido transmitido para apenas cinco estados, teve 3,9 milhões de espectadores na tv. Apesar de ser saudável a busca pela inovação e que muito em breve se tornará indispensável, não estamos ainda neste momento.

O Flamengo tem todo direito de se valorizar, ainda mais no seu momento atual. A Rede Globo também tem total direito de barganhar no investimento. Resta agora, ambos abaixarem os ânimos, deixar o orgulho e a política de lado, e pensarem no futebol brasileiro como um todo.

Por Bruno Lopes