Vídeo da reunião de Moro com Bolsonaro chega ao STF

A Advocacia-Geral da União (AGU) entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, citada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro como prova do depoimento que deu à Polícia Federal no inquérito que apura suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro na corporação. O ex-juiz afirma que, naquele encontro, o chefe do Executivo solicitou a troca no comando da superintendência da instituição no Rio de Janeiro, além de acesso a relatórios de inteligência. O ministro Celso de Mello, relator do inquérito no Supremo, colocou o material sob sigilo.

O arquivo foi entregue em um HD externo na Secretaria Judiciária do Supremo e, de acordo com a AGU, não foram feitos cortes ou edições. No documento que confirma o encaminhamento do material, o advogado-geral da União, José Levi, afirma que apresenta “referido HD externo, na forma que lhe foi apresentado pela Presidência da República” e que o arquivo “contém o inteiro teor, sem qualquer edição ou seleção de fragmentos, da gravação mencionada (…).”

O governo havia pedido ao ministro Celso de Mello — relator do inquérito aberto no Supremo para investigar as denúncias de Moro — que fosse reconsiderada a decisão de entregar o vídeo, ou que fosse autorizada a apresentação apenas de um material editado, do qual seriam retirados trechos que se referem a conteúdo “sensível ao Estado”. O magistrado pediu manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), em até 24 horas. No entanto, o prazo para o conteúdo ser apresentado terminava ontem.

Na segunda-feira 11, os investigadores vão colher os depoimentos de Valeixo e de Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que Bolsonaro tentou nomear diretor-geral da PF, mas foi impedido por decisão de Alexandre de Moraes, ministro do STF (leia reportagem abaixo). Ricardo Saadi, ex-superintendente da PF no Rio de Janeiro, também será ouvido.

Valeixo atuou na corporação após Bolsonaro assumir o governo. Ele chegou ao cargo por indicação de Moro. Já Ramagem é próximo da família de Bolsonaro e teria conversado com o presidente sobre a troca no comando da corporação. No caso de Saadi, outro citado pelo ex-juiz, os investigadores querem saber se ele sofreu algum tipo de pressão por parte do governo e se tem informações adicionais que possam colaborar com as autoridades.

Os delegados serão ouvidos pelo Serviço de Inquéritos Especiais (Sinq), grupo da PF responsável por inquéritos em andamento no STF. Na quarta-feira também está prevista a coleta dos depoimentos de mais três delegados: Carlos Henrique de Oliveira Souza, Alexandre da Silva Saraiva e Rodrigo de Melo Teixeira.
 

Correio Braziliense