Coronavírus e bolsonarismo: “E agora, quem poderá nos defender?”

Diante de uma pandemia que trouxe uma crise econômica e política sem precedentes nas últimas décadas, muitos líderes ao redor do mundo têm tomado medidas protetivas para atenuar os efeitos do coronavírus em suas economias, mas buscando sempre resguardar a população trabalhadora.

O que mais se vê falar, hoje, nas grandes potências econômicas mundiais, é o oferecimento de subsídios, de isenção de taxas e cobranças de serviços básicos para a subsistência do povo.

Tal cenário pôs em xeque o velho discurso de que o Estado mínimo salvaria a economia do caos. Discurso, este, que foi e continua sendo uma das pautas do controverso governo Bolsonaro. Contudo, nesse momento de crise, eximir o Estado de oferecer qualquer tipo de seguridade social à população, principalmente à classe trabalhadora, que depende do salário para subsistir, é fazer o país padecer duplamente: de um lado, com um povo sitiado sob a ameaça de um vírus que mal conhecemos; e, de outro, com a ameaça da fome e das contas que não param de chegar.

Nesse momento, tentamos entender que tipo de vírus se faz mais ameaçador: o capitalismo selvagem ou o vírus advindo lá dos confins da China? Qual deles teria, então, o potencial mais destrutivo? E sendo ambos altamente fatais e ameaçadores, quem, agora, poderá nos defender de tais males?

Todos os países estão trilhando o caminho inverso do governo brasileiro e ampliando o poder do Estado para auxiliar a população nesse momento de crise. À revelia das medidas tomadas no mundo todo para salvaguardar a população, o bolsonarismo parece competir com o coronavírus para saber quem mata o maior número de pessoas em menos tempo.

Quem nos há de salvar e defender desse caos? Certamente não é o Guedes, nem a mão invisível (e manchada de sangue) do mercado, e muito menos as instituições de ensino superior privadas… Quem dera houvesse um Chapolin Colorado à vista!… No entanto, com esse cenário atual, só vem à mente uma versão mal escrita de um romance distópico de H. G. Wells sem deus ex machina para resolver o problema.

Se, na Guerra dos mundos, nosso planeta foi ameaçado por seres desconhecidos advindos de outro lugar com alto poder destrutivo – e que, depois, como num passe de mágica, foram destruídos por uma bactéria -, na nossa realidade, um vírus, ao demonstrar a sua letalidade, revela outra: o sadismo de um governo que, dia após dia, castiga e condena à morte a classe trabalhadora da qual a economia depende também para subsistir. Eis aí um tiro no pé por simples despreparo ou um genocídio em massa premeditado?

Nem H. G. Wells, nem nenhum outro escritor de ficção científica poderia prever que, para além da ameaça das máquinas, de zumbis ou de extraterrestres, seria o próprio ser humano a vítima e o algoz de si mesmo e de suas escolhas (na vida e nas urnas). O que temos diante de nós agora é um “povo prascóvio”, que reza a cartilha de um político genocida travestido de populista. De fato, como dizia Riobaldo, diante de tal situação, “diabo não há… Existe mesmo é o homem humano” e seu poder de autodestruição assistida.

Leticia Raiane dos Santos é doutoranda em Teoria da Literatura (UFPE), mestra em Teoria da Literatura, bacharela em Letras com ênfase em estudos literários e professora de Literatura e de Língua Portuguesa.