ESPAÇO DO LEITOR: Armas - Um debate de muito calor e pouca luz

No final do século XVIII, após o fim do domínio inglês na América, os pais fundadores dos EUA acreditavam que o cidadão americano possuiria, sim, o direito à defesa pessoal: “Uma milícia bem regulamentada, sendo necessária para a segurança de um Estado livre, o direito do povo de possuir e portar armas, não devem ser infringidos” assim diz o texto da emenda constitucional.

É um erro muito comum que se confunda defesa pessoal com segurança pública, no que se refere à posse de armas. Seria o mesmo que cobrar a não utilização de extintores de incêndios porque existe o corpo de bombeiros. Quem relega sua própria defesa ao Estado, estará sujeito à toda sorte do serviço de segurança pública. O que convenhamos, é uma temeridade.

Dois fatos sobre a relação das armas e os EUA precisam ser divulgados nesse debate:

a) Um estudo realizado em 2016 pela Heritage Foundation mostrou que em 54 casos de tiroteios em massa naquele país, 37 teriam ocorrido nas chamadas “guns free zones”, que são aqueles locais onde o sujeito não pode portar armas de fogo. Dos outros 17 ataques, em 5 oportunidades (29%) os tiroteios foram impedidos ou cessados por pessoas que, igualmente, portavam armas naquele momento. É evidente que qualquer atirador vai buscar realizar seu ato em locais que, por ventura, oferecerão pouca resistência;

b) Quando ocorre um atentado em solo americano, o debate sobre as armas surgem com os mesmos clichês de sempre. Entretanto, quando civis, portando armas, impedem ou diminuem a gravidade dos ataques, não vemos uma nota de rodapé na mídia. Ou seja, só se noticia aquilo que é conveniente à narrativa.

Não é de hoje que o senhor Roberto Malvezzi presta um grande desserviço aos leitores da região e ao debate público de forma geral, onde sempre omite dados e aspectos daquilo que escreve. Não seria exagero algum chamá-lo de agente de desinformação, pois, é assim que o mesmo tem agido nos seus escritos. O que o seu texto “A violência vai crescer na classe média” publicado aqui neste blog, não diz (propositalmente) é que o atirador de Campinas possuía uma arma com numeração raspada, comprada ilegalmente e, que, se não fosse pela rápida atuação da polícia, a tragédia poderia ter sido bem pior. Aliás, se o propósito de alguém ao adquirir uma arma é cometer algum crime, porque o sujeito vai se submeter aos trâmites da lei? Seria uma incoerência absurda.

Certamente a frase mais dita quando o assunto é o porte de armas no Brasil, é a famigerada “O brasileiro não possui cultura para possuir armas”. Além de preconceituosa, essa frase nos coloca em situação animalesca comparada às outras culturas, como se americanos, suíços, e paraguaios, fossem os arautos da civilização, enquanto nós, seríamos animais que, desprovidos do mínimo de civilidade, não deveríamos nada aos selvagens que vivem isolados.

Observemos o caso do país vizinho, Paraguai. Lá eles possuem o IDH, taxa de analfabetismo, 32% da população vive abaixo da linha da pobreza e tem pouco grau de instrução. Todos esses dados são inferiores, se comparados ao Brasil. Ou seja, por esse raciocínio, o paraguaio tem menos “cultura” que o brasileiro, e a taxa de homicídios é a terceira menor da América Latina, mesmo, vejam só, que o país tenha uma lei bastante liberal, se tratando do porte e da posse de armas.

Em todos os regimes totalitários do mundo, a primeira ação dos ditadores foi de proibir que a população tivesse acesso às armas de fogo. As chances de um regime opressor se perpetuar no poder com uma população armada é ínfima. Isso ocorreu na Turquia em 1911, na URSS em 1929, na Alemanha em 1938, na China em 1935, na Guatemala em 1964, na Venezuela chavista, em Uganda nos anos 70, e, recentemente na Austrália, onde o número de crimes sobe a cada dia.

A história já nos mostrou por várias vezes: Desarmamento é genocídio. Em um país onde apenas 8% dos homicídios são resolvidos, textos como desse senhor me levam a acreditar que existe um esforço para manter o cidadão, possuidor do direito de sua defesa, a mercê de 92% dos homicidas que nunca irão para a cadeia. Por fim, deixo aqui algumas obras bibliográficas e informações para o leitor que se interesse em entender a questão, mas que dispõe apenas de mídias tendenciosas e de agentes de desinformação que, por motivos ideológicos e partidários, não conseguem escrever uma frase que não seja desconexa da realidade.

“Se você não quer ter uma arma para se defender, problema seu! Se você acha que não deve reagir para se defender, direito seu! Se você acha que o seu direito de escolha deve se sobrepor aos dos outros, aí o problema é nosso.”

Sem liberdade não há democracia!

Livros:

* Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento (Bene Barbosa e Flávio Quintela)

Este livro trata de forma bem didática e introdutória a questão do desarmamento no Brasil e os enormes índices de homicídios que se seguiram a cada ano. Como o título já diz, o livro fala sobre os mitos inventados na sociedade brasileira sobre o assunto. A abordagem contida no livro pode soar superficial, mas o suficiente para destroçar a argumentação deficiente de qualquer palpiteiro sobre o assunto;

* Preconceito Contra as Armas. Por que Quase Tudo o que Você Ouviu Sobre o Controle de Armas Está Errado (Jonh Lott Jr.)

Economista e um dos maiores especialistas do mundo em armas, Jonh Lott Jr. mostra nesse livro um estudo minucioso acerca de crimes envolvendo armas de fogo, onde o autor busca sempre se distanciar de discursos ideológicos, atentando-se aos dados estatísticos e a realidade, sobretudo, da cultura americana.

* Hitler e o Desarmamento (Stephen P. Hallbrook)

Neste histórico livro, o autor apresenta a relação do desarmamento ocorrido na Alemanha nazista e, consequentemente, as perseguições e deportações ocorridas antes da Segunda Guerra Mundial. O ensaio mostra que o desarmamento civil é um pilar de todo regime totalitário.

Alex Fonseca – Coordenação da ACONs (Associação Nacional dos Conservadores Juazeiro/Ba).