Cultura: Fundação Joaquim Nabuco tem o maior acervo de músicas do Nordeste

Interpretações originais de Luiz Gonzaga, Manoel G. Barreto e Jackson do Pandeiro, gravações de histórias da época de Agamenon Magalhães e discursos de Miguel Arraes, ambos ex-governadores de Pernambuco. Essas são algumas das obras que compõem a maior coleção fonográfica do Nordeste – e uma das maiores do Brasil –, pertencente ao acervo sonoro da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Recife.

As produções abrangem diferentes contextos históricos, tendências e estilos musicais. São aproximadamente 11 coleções de suportes de diversas épocas, divididos em discos de 78 rotações, gravados de 1902 até a década de 1960; LPs, que compõem uma coleção de discos de 33 rotações; compactos, de sete rotações; fitas cassetes, fitas rolos, partituras e arranjos. 

O reconhecimento de arquivos sonoros como patrimônio cultural é relativamente recente. Em Pernambuco, o pioneiro foi o pesquisador Renato Phaelante, responsável pela fonoteca da Fundaj desde 1981. Na época, ele mantinha a coleção apenas com arquivos de gravações de seminários e congressos da casa. Com experiência em rádio e apurada sensibilidade para música, começou a organizar o acervo. O trabalho contribuiu para que, posteriormente, os áudios fossem reconhecidos como documentos. 

 “O que Renato fez foi ousado, pois o Instituto de Documentação tinha um olhar muito hermético sobre o que era considerado documento“, avalia a assistente de ciência e tecnologia da Fundaj, Elizabeth Carneiro. Ao longo dos anos, com o empenho do pesquisador, foram acumulados em torno de 33 mil documentos. O material chegava à Fundaj por meio de doações de coleções pessoais e de outras emissoras pernambucanas, como a Rádio Olinda e a Rádio Jornal do Commercio. 

 “O acervo, não só pela coleção de música popular, que traz uma ampla esfera de conteúdos políticos, sociais e históricos, mas também por fonogramas que remetem a histórias importantes, é um aliado à preservação da história brasileira”, explica Elizabeth. Ela cita como exemplo o jingle Ele vem aí, composto por Manoel G. Barreto na década de 1960 e que remete a temas contemporâneos – a peça menciona a eleição de Jânio Quadros e aborda a corrupção. “Também temos as obras de Luiz Gonzaga e Rosil Cavalcanti, que revelam a dificuldade no cotidiano nordestino em termos da superação do povo”, conta a assistente. 

Além das obras, outra memória presente nos arquivos é a da própria evolução dos registros em áudio. A ampla coleção de suportes, por mais valiosa que seja, enfrenta uma dificuldade: a tecnologia que lhes dá acesso está se tornando obsoleta.

“Toda digitalização tem um impacto de preservação, porque deixamos de manusear os originais”, analisa o coordenador do Centro de Documentação e Pesquisa da fundação, Lino Madureira. ”No caso do sonoro, boa parte do acervo tem essa característica muito forte da fragilidade.”  A digitalização é feita a partir de licitações e separada por época de acordo com os suportes.  Atualmente, estão sendo digitalizados 4,6 mil discos de vinil de 33 rotações. 

Mesmo com a assistência da tecnologia, o acervo original continua sendo preservado. O processo de digitalização nunca se fecha por completo, pois a instituição constantemente recebe novos documentos.  “Algumas tiragens continuam sendo feitas da forma tradicional, mas isso vem sendo reduzido significativamente”, informa o coordenador. “Este projeto é uma ação contínua que fazemos em parceria com a equipe de TI [Tecnologia da Informação] da fundação, e procuramos sempre renovar. O acompanhamento disso é o nosso próximo desafio.”

Ascom Fundaj