A rua! A rua é do povo como o céu é do condor. Será mesmo?

10 de Feb / 2018 às 12h00 | Espaço do Leitor

Parafraseando, Castro Alves, teimo em dizer que, infelizmente, parte da rua não foi do povo durante o período da festa momesca na nossa cidade, conforme licitação estabelecida pelo poder público municipal, há uma ou algumas empresas privadas para realizar o carnaval de Juazeiro, assim como não será, em Petrolina.

São o que diz os fatos. Vejamos: milhares de pessoas compareceram a orla II de Juazeiro no intuito de acompanhar os artistas e músicos que lá iriam apresentar os seus shows. Essas mesmas pessoas levaram consigo copos, com variados tipos de bebidas, qual não foi a sua surpresa, quando foram impedidas de adentrar no espaço público com os copos, cooler ou isopores, tendo que jogar os seus pertences no lixo para terem acesso à festa ou retornarem para casa com seus objetos. Chamado a se pronunciar, o coordenador do carnaval informou a blogs da região que a intenção era a preocupação com a “segurança do evento”.

Nada mais falacioso, pois, desde quando portar um copo de plástico ou se apresentar com um cooler colocaria a integridade física de alguém em perigo? O fato é que se tivessem interesse em, realmente, barrar instrumentos cortantes na entrada dos eventos, fariam conforme a polícia militar, em Salvador/BA, apresentando barreiras em diversos portais de entrada da cidade do carnaval, onde todas as pessoas passam por revista e assim contribuem com a diminuição das estatísticas de violência nos corredores do carnaval.

Como se isso não bastasse, a empresa licitada para fazer o carnaval da cidade, além de não permitir a entrada de copos e cooler no circuito da orla II, sob a alegação supramencionada, determinou que fosse cobrada uma taxa extorsiva dos ambulantes, comerciantes e não comerciantes de bebidas alcoólicas, praticamente inviabilizando o trabalho daqueles que, ao tentar investir no empreendedorismo, ao invés de ingressarem no mundo do crime, resolveram ganhar o pão vendendo bebidas licitamente, depois de devidamente licenciados.

Ademais, a empresa que venceu o processo licitatório, compelia os ambulantes, donos de bares e quem tivesse interesse em vender cerveja no circuito do carnaval, a pagar taxas exorbitantes que variava de R$ 125,00 (cento e vinte e cinco reais) a R$ 800,00 (oitocentos reais) para terem o direito de comercializar tais produtos nos locais da festa, além de obrigar, os microempresários, a comprar tais produtos na empresa que venceu a licitação. Mas sobre isso, o Município não se pronunciou, ou se o fez, não chegou ao nosso conhecimento.

O fato concreto é que, a definição da orla II como ponto de carnaval, não é uma decisão que tem sido tomada para beneficiar o povo, mas uma questão de rentabilidade, de dividendos, de lucro garantido a setores que poderiam, sim, ter participação na festa, viabilizando a instalação de camarotes onde existiam antigamente, já que o povo se esgoela para assistir a uma atração, naquele circuito, que acabou por esvaziar a Carmela Dutra e a rua Juvêncio Alves.

Engraçado! A moda pega. A prefeitura de Petrolina resolveu, não só copiar a mesma sistemática apresentada na Orla II de Juazeiro pelos organizadores do carnaval local, como também, decidiram por ampliar a decisão de não permitir a entrada de pessoas portando bebidas, nem tão pouco, isopores ou bolsas térmicas, caixas térmicas, bolsas ou qualquer outra forma de armazenar e transportar quaisquer tipos de bebida, seja alcoólica ou não. Essas medidas, segundo os gestores, seriam para evitar filas e aglomerações nos pórticos de entrada da festa, na hora da revista pessoal, bem como armas de fogo e vasilhames de vidro, entre outros.

A mim, não convence tais decisões, visto que a motivação para proibir tais atos, não deve estar associada a segurança, mas ao fato de dificultar a vida daquelas pessoas que possuem recursos mínimos para comprar a sua bebida, levarem um cooler e tomarem a sua bebida no período da referida festa. No caso da festa, da vizinha cidade, vejo como inovador o fato de colocar pórticos de entrada, com a intenção de fazer a revista pessoal, mas daí proibir a entrada da bebida do povo, vejo como a transformação das ruas em camarotes privados, destinados àqueles que podem pagar o seu consumo no percurso do carnaval.

É a chamada camarotização do carnaval, sob a alegação de contribuir com a segurança das pessoas. É a separação de classes gritando para todos os cantos; é a segregação dos tempos modernos, justamente num momento em que o sistema diz estar em crise; é que eles suspendem a chibata, visando excluir os pés descalços e os desprovidos de cifrões para participar de tais eventos.

Diante desses fatos, seria nobre e salutar por parte dos prepostos dos municípios, que repensem a confecção dos referidos carnavais, pois a proposta de se colocar policiamento para fazer a revista das pessoas nos portais de entrada dos polos do carnaval, como será feito em Petrolina, no intuito de revista pessoal, é importante. Todavia, a proibição de entrada de copos, bolsas térmicas, isopores e outras similares, têm como medida maior, não a defesa da segurança pública, mas evidencia a camarotização do carnaval que sempre foi do povo.

Afinal, quando o assunto é o povo, diz Mahatma Gandhi: “A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.

Edimário Alves Machado

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