120 anos após fim da guerra de Canudos participação indígena no conflito ainda é menosprezada

05 de Nov / 2017 às 13h00 | Variadas

O fim da guerra de Canudos completou 120 anos neste mês de outubro, marcando o aniversário do que foi o maior massacre da história da nossa república. O conflito, que foi travado entre 1896 e 1897 teve entre homens, mulheres e crianças, cerca de 35 mil mortos, dos quais pelo menos 500 seriam índios pertencentes à etnia Kiriri.

De acordo com o antropólogo Edwin Reesink, professor da UFPE, há relatos até mesmo de índios vindos da vila de Mirandela lutando com arcos e flechas. Segundo o pesquisador, os índios já haviam sido convertidos ao cristianismo no século XVII pelas missões jesuítas, mas acabaram se juntando à luta de Canudos devido tanto ao carisma de Antônio Conselheiro quanto aos problemas sociais que enfrentavam: “Os kiriri estavam no ponto baixo de sua história, com problemas com os brancos, sofrendo opressão e discriminação.”

Um episódio que teria sido crucial para a adesão dos Kiriri a Antônio Conselheiro seria a expedição em busca de madeira ao sul do território indígena para a construção da igreja de Canudos. Com grande número de homens saído de Belo Monte, o próprio conselheiro, a quem os indíos conheciam como “Bom Jesus”, teria atravessado mais de 100 quilômetros para buscar a madeira..

O pesquisador afirma que além da madeira, os índios enviaram para a igreja de Belo Monte a imagem da Nossa Senhora da Assunção, santa padroeira de sua aldeia, indo ficar junto à imensa galeria de santos que Antônio Conselheiro colecionava. “Havia um contágio de religiosidade para ir a belo monte”, disse o professor. Foi “a maior alegria do mundo” quando conselheiro passou por ali, “um contágio de entusiasmo”, acrescentou.

Confirmando a máxima profética do filósofo francês Frédéric Bastiat, de acordo com a qual “Se bens não cruzarem fronteiras, tropas o farão”, a guerra de Canudos começa em junho de 1896, após Antônio Conselheiro ter encomendado madeira na cidade de Juazeiro, para a construção da sua igreja. Apesar de Conselheiro ter pago a encomenda, o material não foi entregue, o que gerou pavor em autoridades da república, que temiam que o beato fosse buscar a madeira à força, usando jagunços como escolta.

O que acontece então é a pior chacina da história do Brasil: mais de 35 mil pessoas mortas em conflito. Os jagunços rendidos, mulheres e crianças que resistiam em Belo Monte eram degolados. A cidade inteira fora devastada, sem nenhuma edificação deixada de pé. Nas palavras de Euclides da Cunha, “Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam depois, nas duas bordas da estrada, as cabeças, regularmente espaçadas, fronteando-se, faces volvidas para o caminho.”

 

Rodrigo Esteves Lima, O Estado de S.Paulo

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