ARTIGO – BRASIL: LAMA PRA TODO LADO!

12 de Mar / 2017 às 23h00 | Espaço do Leitor

Cada leitor que assistiu ao noticiário da última semana viu a dor de milhares de caminhoneiros com os seus caminhões atolados, com carga às vezes perdida ou em longa fila de espera na Rodovia Transbrasiliana, mais conhecida como Belém-Brasília, hoje oficialmente denominada de Rodovia Bernardo Sayão - justa homenagem ao seu primeiro engenheiro -, ou ainda uma infinidade de denominações de BRs que integram o seu percurso total de 4.355 quilômetros de extensão do Norte ao Sul do país, certamente sentiu uma sensação de tristeza e abatimento diante de tanto descaso e abandono. Prejuízos diários avaliados em dez milhões de reais!

Considerada como a quarta maior rodovia do Brasil, ligando a cidade de Marabá (PA) ao município de Aceguá (RS), por essa rodovia a cada safra anual são escoadas milhões de toneladas de grãos de soja e milho para exportação através do Porto de Santarém, no Pará, de grande impacto em nosso comércio externo de grãos. Mas, as péssimas condições de tráfego nos trechos ainda hoje sem pavimentação asfáltica, determinam a perda de grande quantidade de toneladas, seja nas filas dos atoleiros ou mesmo porque não chegam, se quer, a ser colhidas pelos heroicos produtores rurais da região centro-oeste e norte, face à inviabilidade de remoção dessa extraordinária produção.

Não é possível fazer uma análise desse sofrido cenário, sem voltar a 60 anos atrás (1956), para recordar e fazer justiça àquele que iniciou tudo isso como um exemplo raro de político de respeito e estadista que esse país já teve: Presidente JUSCELINO KUBITSCHEK! A partir de um fantástico e audacioso projeto de desenvolvimento ele lançou um Plano de Metas para realizar 50 ANOS EM 5. Com projetos de grande envergadura implantou a indústria de automóveis e fabricação de navios, a construção de Brasília, além do desejo de construir uma rodovia que ligasse o país desde o Norte até o Rio Grande do Sul.

Ainda que a sua trajetória tivesse de passar centenas de quilômetros por dentro da Floresta Amazônica, sujeitando os seus 5.000 operários desbravadores às intempéries mais absurdas, seja com o assédio hostil dos indígenas ou a morte pela febre amarela, corretamente ele visualizou que essas duas grandes obras iriam promover a interiorização do desenvolvimento e o povoamento urbano do centro-oeste/norte do país, fato que efetivamente se concretizou. Ao contrário disso, ao passar o tempo aconteceu uma total inversão de valores, em que a política de geração de trabalho e crescimento foi sendo trocada por um modelo populista/clientelista/egocentrista, onde não só faltam Metas à maioria dos governantes, como, às vezes, conseguem destruir 50 anos de história em 5! Estamos de olho...!

Outro fato absolutamente inacreditável e inconcebível ocorreu no município de Formoso do Araguaia-TO, onde o prefeito candidato à reeleição em 2016 teve como meta derrubar uma ponte sob a justificativa de que no seu governo seria construída uma nova! Enquanto essa promessa eleitoreira não se concretiza, até hoje, imagens deprimentes mostram crianças atravessando o rio nos ombros dos pais para irem à escola, e idosos passando por dentro do rio com intensa correnteza, ou perigosamente por uma estreita pinguela colocada recentemente. É doloroso ver crianças e idosos chorando apavorados nessa louca travessia! O povo foi ingenuamente iludido, e o irresponsável do candidato... reeleito!

Esses dois exemplos mostram à sociedade a distância de caráter e diferença de propósitos entre os dois perfis de políticos, nos dois tempos diversos, evidenciando que há um processo de deterioração progressiva nos níveis de vocação política e respeito com a vida do cidadão. Enquanto um projetava e construía para um futuro melhor, o outro usou do engodo e da mentira para realizar a sua conquista pessoal.

Embora a Belém-Brasília tenha sido um sonho de Juscelino que se tornou realidade, faltou compromisso e vontade aos que o sucederam nos últimos 60 anos para concluir a pavimentação asfáltica dessa rodovia na parte norte do país. Quem sabe, talvez a LAMA que hoje predomina nos trechos não pavimentados tenha ficado para justificar, de forma emblemática, a LAMA da indecência que se alastrou no país, emporcalhando a vida pública nacional e envergonhando a tudo e a todos!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).

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