União Brasileira de Mulheres emite nota sobre o dia da mulher: "Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós."

08 de Mar / 2017 às 19h00 | Variadas

Hoje, apesar de ser um dia memorável, não há o que comemorar no dia da mulher! Não há o que comemorar, quando à cada 11 minutos uma mulher é estuprada no nosso país, e a maior parte da população ainda acha que a culpa é da vítima. Não há o que comemorar, se à cada 7 minutos uma mulher é agredida no Brasil (baseado em dados das denúncias, pois a maioria não denuncia por medo ou incompreensão da violência sofrida).

Não há o que comemorar, se diariamente milhares de mulheres morrem em clínicas clandestinas de abortos (a maioria negra e pobre), enquanto por aí homens abortam filhos já nascidos e nada acontece.
Não há o que comemorar quando é o Estado que define o que a mulher deve fazer com o seu corpo, e se ela deve ou não ter filhos. Não há o que comemorar se quando uma mulher é agredida, a maior parte
da sociedade acredita que ela "gosta de apanhar" ou "pediu por isso". Não há o que comemorar em meio a uma sociedade que julga mais fácil acreditar que uma mulher é "louca" ou "vingativa", ao invés de
acreditar que ela sofreu violência doméstica.

Não há o que comemorar, se hoje, nesse exato momento, milhares de mulheres, crianças e adolescentes sofrem abuso sexual, e a maior parte de seus algozes são de familiares, pais ou padrastos. Não há o que comemorar se a maior parte das mulheres é marginalizada no mercado de trabalho por ser mãe, e simplesmente por ser mulher, seu reconhecimento e remuneração é bem abaixo do que os homens que ocupam o mesmo lugar no mercado, exercendo as mesmas funções. Não há o que comemorar se mais de 90% das universidades públicas não possuem políticas de assistência estudantil que atendam as mães, para que estas possam ter com quem deixar seus filhos para estudar, ou tenham condições financeiras para se manter na universidade. A maioria inclusive é humilhada ao ter de levar seus filhos na universidade, pois este acaba se tornando mais um espaço excludente das mães. Não há o que comemorar se os homens vêem o corpo da mulher como sua propriedade.

Não há o que comemorar se hoje, diversas mulheres fazem o papel duplo, de pai e mãe, provendo todas as necessidades emocionais, físicas e financeiras de seus filhos, enquanto ao mesmo tempo são julgadas pela sociedade por serem "mãe solteira" (lê-se mãe solo), enquanto aqueles que deveriam assumir suas responsabilidades de pai, simplesmente se eximem  por ter ao seu lado a impunidade necessária para que o "aborto" seja legalizado para os homens. Não há o que comemorar se,  diversas  mulheres, mesmo após denunciar seu agressor, o vê livre, infringindo a medidas protetivas e ameaçando-as, enquanto essas seguem se escondendo e privadas da liberdade.

Não há o que comemorar após termos visto uma presidenta ser deposta e sua imagem ser associada a loucura e histeria pelo fato de ser mulher, e em seu lugar ocupar o governo mais misógino e antidemocrático dos últimos tempos, que insiste em tentar colocar a mulher no lugar onde julga ser o seu, que segundo eles, não é na política. Não, não temos o que comemorar. Hoje, apesar de reconhecer os resultados que tivemos com muita luta e sangue derramado de nossas mulheres, empoderadas e batalhadoras, nos libertando de muitas amarras que nos amordaçavam no passado, tenho a consciência de que hoje veremos uma sociedade "pró mulher", promovendo textões de apoio e valorização da mulher, e entregando rosas por aí, mas amanhã, veremos novamente todo o machismo e misoginia impressa na cara da sociedade e sentiremos na pele os diversos tipos de violência que sofremos todos os dias. Então não, hoje não há o que comemorar...

Não queremos feliz dia da mulher, não queremos abraço, não queremos rosas. Hoje, assim como todos os outros dias, queremos justiça e paz, queremos andar nas ruas Sem Temer, queremos que a sociedade destrua dentro de si, ao menos um pouco do machismo que vitimiza milhares de mulheres todos os dias. Hoje, homens, não queremos textão, queremos a sua compreensão de que a mão machista é a base de apoio para a mão que assassina, estupra e assedia milhares de mulheres diariamente. Queremos a compreensão de que o seu xingamento, a sua voz exacerbada e as suas palavras duras ferem como um tapa, e que violência psicológica também mata, mata a alma e destrói o que a mulher é. Queremos a compreensão de que somos donas do nossos corpos, das nossas vidas e por isso dela possamos fazer o que quisermos, sem significar um convide pra qualquer coisa que seja. Hoje estamos em greve, porque se nossas vidas não têm valor, que produzam sem nós!
E assim como todos os dias, queremos respeito, dignidade e seguir Sem Temer!

Bruna Barbosa
União Brasileira de Mulheres (UBM), Juazeiro-BA

Ascom

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