ARTIGO – SÓ DEPOIS DO CARNAVAL... (II)

22 de Jan / 2017 às 23h00 | Espaço do Leitor

O país convive anualmente com um ciclo do calendário que se repete sempre sem muitas alterações - e com o qual todos já estão acostumados -, configurado pelo estado de “maresia” que atinge todo o sistema nacional, desde quando se inicia o recesso dos Poderes Legislativo e Judiciário no final de dezembro, com o consequente desaquecimento dos fatos políticos mais retumbantes, tanto os positivos como os negativos, até que se ultrapasse o período das festas do tradicional Carnaval brasileiro, em fevereiro.

Uma exceção a essa regra, ultimamente, vem sendo caracterizada pela permanente vigilância e incansável atuação das autoridades incumbidas da Operação LAVA JATO, que continuam tirando o sono de muita gente face o compromisso de varrer a sujeira dos crimes de corrupção que vem destruindo a vida nacional. E por aí estão chegando novas delações premiadas – virou moda nacional! –, instituto jurídico cuja restrição maior é o fato de reduzir o tempo de prisão desses marginais do colarinho branco. A propósito, só tenho a lamentar a perda trágica do Ministro Teori Zavascki, na semana passada, exatamente o Relator dos processos ligados à LAVA JATO e à homologação dos Acordos de Delações...! Acidente?!

É bem perceptível esse espírito de acomodação nesse estágio de tempo, quando só se pensa em desfrutar das férias com o calor do verão, e as reivindicações maiores que esperem pela quarta-feira de cinzas! Ainda bem que aqueles que gostam de adotar em Brasília certas decisões na “calada da noite”, e sempre em benefício próprio, também estão usando das benesses do recesso, senão seria o período propício para decisões sem dó nem piedade, diante do silêncio dos cidadãos.

Em 16/02/2014, aqui neste Blog, tratei desse tema em “SÓ DEPOIS DO CARNAVAL...” e hoje resolvi mesclar alguma coisa mais e reutilizar o mesmo título com o indicativo de “II”, por estar atual mesmo três anos depois:

“Os ditados populares têm um extraordinário poder de influenciar as pessoas no dia a dia, pois na sua grande maioria encerram verdades fundamentais que exercem certo fascínio no comportamento do brasileiro, em geral. Passados os períodos de festejos natalinos e de final de ano, é visível que as atividades parecem encontrar certa dificuldade em engrenar o ritmo no novo ano e o marasmo começa a encontrar explicação no ditado popular que diz que “o Brasil só começa a funcionar depois do Carnaval”. Em princípio, seria bom se fosse verdade. Muitos devem se recordar do tempo em que o Carnaval começava na sexta-feira à noite e ia até terça-feira, e a quarta-feira era conhecida como “quarta-feira de cinzas”, dia que marcava o início da quaresma”. Mas, vejam o que acontece aqui na Bahia...

“[...] O irrequieto Carlinhos Brown cria o “Arrastão do Brown na Quarta-feira” e o carnaval obtém mais um dia, completando um ciclo de sete dias, porque já foi antecipado o início para quinta-feira! Aqueles que acharam que seis dias foram insuficientes decidem colocar o emprego em risco e acompanham o “arrastão”. Tudo bem. Acabou e volta tudo à normalidade. Ledo engano! Inventaram a “Ressaca do Carnaval” logo no sábado seguinte! Aqueles que escaparam da demissão pelo “arrastão” da quarta-feira, ainda têm uma chance de conquistá-la no sábado, no oitavo dia”! O italiano diria: “Mamma mia”!

Assim é o nosso Brasil. Convivemos com uma crise de desemprego e muitos nem pensam nessa hora em preservar o que tem. Uma economia com graves dificuldades, e com Estados e Prefeituras chorando no pé do caboclo e decretando estado de emergência financeira, enquanto as festas populares e as Bandas contratadas a peso de ouro não refletem essa realidade. Como exemplo, o Réveillon de Salvador foi ampliado para cinco dias, competindo com o já extenso Carnaval.

Embora muitos não concordem com ela, a PEC do TETO DE GASTOS precisa chegar aos Estados e Municípios...! A cobrança contra os desvios e irresponsabilidades na governança em nível Federal é justa, mas tem de haver coerência das demais Unidades Federativas, eliminando-se os excessos que não trazem benefício à sociedade, nem à economia.

Que fique bem claro não ter nada contra o carnaval, ou os feriados há tempos determinados e não sou eu quem vai mudar nada, mas, sinceramente, que a máxima dita de que SÓ DEPOIS DO CARNAVAL daqui a pouco poderá ser SÓ DEPOIS DO INICIO DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL, disso eu não duvido!

Quem paga por tantas folgas, inércias, papo para o ar, e pela fantasia que se ver na foto desse texto, eu acho que sei... E você, certamente, também sabe!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).

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