Artigo: Pela Cultura de Juazeiro (1)

03 de Jan / 2017 às 21h00 | Espaço do Leitor

“Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Jonas 1:2

A cultura

A maior riqueza de um povo é e será sempre o próprio povo. O que caracteriza a diversidade de um povo é a sua cultura, o que coloca este segmento como um dos mais importantes para um desenvolvimento social de face critica.

A cultura e a arte revelam o lado mais intrínseco da sociedade, suas qualidades, seus defeitos, e o próprio tempo. Mesmo na era das cavernas os primeiros homens sentiam essa necessidade inefável de retratar o mundo ao seu redor. É impossível pensar a história da humanidade sem considerar o fator cultural, ele nos trouxe até aqui. Mas afinal, o que é cultura?

A ciência cética define cultura como “cultivo de células ou tecidos vivos em uma solução contendo nutrientes adequados e em condições propícias à sobrevivência”, ora, essas células vivas somos nós seres humanos em busca dos nutrientes que formam  o  nosso caráter, a cultura não é o mistério do planeta nem muito menos da raça humana.

A Arte

O filosofo alemão Friedrich Nietzsche defende que “a arte existe para que a realidade não nos destrua”. E que realidade cruel a que nos encontramos no Brasil de 2017. É sabido que não é e nunca foi fácil ser artista nesse país. O sujeito que se dedica a esse oficio tem que lutar contra o emburrecimento de massa proposto pela grande mídia, tem que lutar por um mísero espaço pra mostrar seu trabalho e de quebra também precisa lutar pela valorização da arte que produz, é mais fácil viver de politica do que de arte, os meandros são outros...

Situação cultural de juazeiro

Qualquer cidadão da minha amada Juazeiro, desde o mais rico até o mais pobre, opina sobre a situação cultural do município. Cada um tem a sua  referência, seja um cordão de penitentes, um samba de véio do Rodeadouro, ou ainda a burguesia bossanovista, ou mesmo aqueles que timidamente se consideram novos baianos. A cultura do nosso povo é vasta e rica, se alastra desde às margens do Rio São Francisco à sombra do nego d’água até os limites da cidade, nos muitos distritos culturalmente abandonados.

A cultura do nosso povo se deteriora junto com as paredes da antiga estação de Piranga e definha nos casarões da antiga companhia de navegação, ambos prédios antigos com suas raízes fundidas às raízes da nossa terra, ambos relegados ao lixo e à marginalidade, assim como toda a parte de baixo da nossa orla fluvial. Quem leva o nome de uma cidade para o mundo não são os seus políticos, são os artistas, os grandes porta-vozes da identidade de uma região. Isso Galvão, João Gilberto e Ivete Sangalo fizeram com maestria, ninguém pelo mundo afora saberá dizer quem gerou mais cargos comissionados em Juazeiro, no entanto, a música de João emancipou Juazeiro. Ou não?

A desastrosa gestão cultural do município

Não é segredo para ninguém que as secretarias voltadas para o desenvolvimento cultural de Juazeiro se tornaram cabides de emprego. Em oito anos de gestão do PC do B, nenhum novo evento foi calendarizado, restando aos plebeus apenas o carnaval e o festival Édesio Santos da Canção. Seria cômico se não fosse trágico que a referida gestão se vangloria de ter inaugurado um estátua cuja única serventia é fazer pose pra foto, não criaram nenhuma fundação de apoio aos artistas locais, não criaram uma escola de música pública que ensinasse bossa nova (ou qualquer outro estilo musical) às crianças do município, não criaram nada! Não há incentivo a publicação de livros, nem à produção de documentários que retratem, resguardem ou emancipem as culturas aqui produzidas, sabemos que dinheiro não falta, sabemos que dinheiro volta porque não foi gasto, sabemos que o problema é gestão e falta de respeito com aqueles que constroem a essência da cidade e sabemos acima de tudo que esse não é o ideal socialista.

Apelo construtivo

Rogo àqueles que fazem a gestão municipal de Juazeiro, nos respeitem, nos escutem, não nos enfiem secretário goela abaixo. Nós que produzimos cultura no município queremos ter voz ativa, queremos escolher o mais competente, queremos escolher um gestor que conheça a realidade cultural do município, que tenha a mínima relação com os artistas da terra. Nós não queremos saber dos conchavos políticos de vocês, fiquem com as outras secretarias, nós só queremos o fortalecimento cultural da terra em que nascemos, da terra que amamos, lembrem, que vocês estão gerindo, mas o recurso é da coletividade, se não puderem fazer nada disso, sejam pelo menos comunistas, coisa que vocês não foram nos últimos oito anos de gestão.

Reativem a secretária de cultura, deixem que os artistas escolham o gestor, isso sim é gestão popular, escutem as criticas construtivas antes que cheguem as destrutivas.

João Gilberto Guimarães Sobrinho é arte-educador, editor, gráfico, artesão, diretor e fundador do Círculo Literário Analítico Experimental (CLAE) que há dez anos produz literatura, de juazeiro para o mundo, sem nunca ter recebido qualquer apoio ou incentivo do governo municipal.

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