ARTIGO – PRESIDÊNCIA EM DOSE DUPLA?

20 de Mar / 2016 às 23h00 | Espaço do Leitor

As manifestações públicas que vêm acontecendo no país, como expressão maior de um descontentamento que cresce com grande velocidade, reflete um amadurecimento ideológico que somente os políticos e autoridades envolvidas não conseguem captar o recado das massas. Em razão de não interpretarem com fidelidade a legitimidade desse sentimento de revolta, apresentam justificativas que buscam dar um cunho partidário aos protestos, quando deveriam ler as mensagens contidas nas faixas e ouvir as palavras indignadas dos seus participantes, sempre direcionadas à revolta contra a corrupção impregnada em todos os setores da vida brasileira e a necessidade de acabar com a impunidade histórica no país. Por uma questão óbvia atinge determinadas pessoas e segmentos partidários que estão nas páginas do crime já a algum tempo...!

Nos movimentos anteriores os organizadores mandaram recados que não queriam a participação de lideranças partidárias, exatamente para evitar a sua exploração política, bem como combateram a atuação dos vândalos. Felizmente o movimento do último dia 13 veio reafirmar a seriedade dos objetivos de quantos participaram – adultos, crianças, jovens, idosos, famílias inteiras - visto o caráter ordeiro como se desenrolaram os protestos em 26 Estados e 505 cidades do país, com um total de comparecimento superior a cinco milhões de pessoas em todo o Brasil. Uma prova inconteste da pureza dessas intenções, é que o Governador Alkmin, o Senador Aécio Neves e outros políticos do PSDB foram hostilizados ao participarem da caminhada em São Paulo, aos gritos e palavrões, visto o evidente propósito de pretenderem extrair dividendos eleitoreiros de um movimento social que não tem qualquer fundamento ou cor partidária, mas insurgente contra a roubalheira oficializada, a imoralidade instalada e a falta de respeito com a sociedade brasileira que trabalha e produz.

Tenho repelido sempre com indignação em minhas crônicas, a frequência com que políticos, governantes, simpatizantes ou militantes sectários, bem como alguns analistas cujo pensamento é radicalizado, pela forma como utilizam o recurso da defesa do status quo que aí está, citando erros cometidos por governos passados, como forma de se justificarem e se defenderem, quando deveriam combater e reprovar, com firmeza, tantos absurdos que só aniquilaram a economia e a imagem do país.

Fala-se tanto em golpe, ultimamente, tentando intimidar com a acusação os que se opõem ao sistema político instalado, que, de repente, do fundo da cartilha esquerdista editada pela “escola bolivariana” foram encontrar a saída para o principal líder do esquema fugir aos rigores de uma justiça independente, consagrando-o como um simulacro de Ministro de Estado! Sim, apenas uma enganosa imagem para blindá-lo do julgamento pela 1ª. Instância da Justiça em Curitiba, ou leia-se Sérgio Moro. Na verdade, golpearam os 54,5 milhões de eleitores que votaram na Dilma para a Presidência da República e agora vão vê-la cumprindo ordens, enfraquecida e escanteada! Quem será capaz de imaginar que ela terá personalidade e autonomia para contrariar o Lula – que passaria a presidente de fato! – Criador dessa Criatura, certamente passando a mandar no país “por debaixo dos panos”? Com certeza terá carta-branca e poderes para intimidar a Polícia Federal, Juízes, testemunhas e delatores, e para valorizar os empresários corruptos que foram os parceiros na desmoralização das nossas instituições... Criaram no país uma PRESIDÊNCIA EM DOSE DUPLA, sem alterar a Constituição Federal?

Essa não deixa de ser uma rota de fuga alternativa que tanto poderá salvar esse governo debilitado, que investe na capacidade política inegável do ex-presidente, como ampliar a sepultura que vem sendo aberta pelas próprias mãos dos seus membros. Mas vale raciocinar que, em outras circunstâncias, em Estados ou Municípios, seria impensável que alguém sendo acusado e investigado por suposto envolvimento em vários tipos de denúncias, ainda que sem processo condenatório, pudesse ser cogitado para o exercício de qualquer função pública, principalmente como Secretário Municipal ou Estadual, sem que os arautos da lei protestassem para que tal fato não viesse a acontecer! Pelo andar da carruagem não é de duvidar que os familiares envolvidos também serão alçados aos cargos que asseguram o foro privilegiado e assim fiquem à distância do Sérgio Moro!

Causou estranheza que o Ministro do STF, Marco Aurélio Melo, um dos mais respeitáveis e competentes da Suprema Corte, tenha dado declaração ao “O Globo”, externando o seu pensamento pessoal sobre a notícia: “Eu vejo o deslocamento (de Lula para um Ministério) como uma tábua de salvação para o Executivo Nacional. [...] Ela não tem penetração política alguma em termos do Congresso Nacional”. Surpreende, como Juiz da Suprema Corte, porque o episódio da nomeação, certamente, gerou um fato jurídico a ser avaliado pelo STF, e assim a Corte terá, a bem da moralidade e da decência, a oportunidade de consolidar bons exemplos perante a sociedade em geral.

E como bem diz a ilustração, um País com a nossa dimensão e importância não pode, jamais, ficar dependente de jararacas e tucanos... 

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Salvador - BA).

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