Médico sobrevivente de ataque no Rio teria levado 14 tiros e passou por cirurgia de 10 horas

06 de Oct / 2023 às 09h00 | Variadas

Único médico do grupo de ortopedistas que sobreviveu ao ataque nessa quinta-feira na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, passou por uma cirurgia que durou quase 10 horas no Hospital Municipal Lourenço Jorge. Ele teria levado14 tiros, sendo dois de raspão, que provocaram 24 perfurações em seu corpo.

Sonnewend teve lesões no tórax, intestino, pélvis, mão, pernas e pé. Dois projéteis ficaram alojados em seu corpo e um foi retirado pelos médicos, que vão encaminhar o material para a Polícia Civil, que deve analisar o projétil. Ele continua com uma bala alojada na escápula, próximo ao ombro.

O médico está estável, foi transferido para um hospital particular lúcido e respirando sem ajuda de aparelhos. Após ser baleado, ele foi socorrido ao Hospital municipal Lourenço Jorge, que fica a 10 km de onde foi atingido, e foi para a sala de cirurgia 14 minutos após dar entrada na unidade. O tempo de atendimento foi crucial para ele sobreviver ao ataque. A cirurgia teve a participação de 18 profissionais: quatro ortopedistas, quatro anestesistas, quatro cirurgiões gerais, um cirurgião vascular, dois enfermeiros e três técnicos de enfermagem.

O Lourenço Jorge possui uma "sala vermelha" dentro da sala vermelha convencional. O espaço tem equipamentos encontrados em UTIs e que permitem realizar procedimentos de emergência para traumas, em especial, o tratamento de hemorragias - uma das principais causas de morte de baleados que chegam com vida aos hospitais. Por causa da perda de sangue, durante a cirurgia o médico precisou receber transfusão. Uma das lesões mais graves foi no intestino, pois o projétil atingiu uma artéria.

É urgente que, na chegada do paciente, seja iniciado o ABCDE do trauma — termo que vem das iniciais em inglês de cinco passos para essas situações, como a checagem das vias aéreas e da coluna cervical, o controle de hemorragia e a avaliação do estado neurológico.

Além de buscar estabilizar o paciente e tratar as perfurações, os médicos precisam buscar por lesões em áreas próximas ao local atingido pelo projétil. A dissipação e transformação da energia produzida pelo disparo forma o que se chama de cavidade temporária, que pode causar ferimentos em regiões próximas. Um paciente sobrevivente ao ferimento por arma de fogo também precisa ser monitorado de perto pelo risco de infecções causados por detritos, como pequenos pedaços de roupa e poeira que podem entrar no ferimento no momento que o projétil atinge a pele.

Os médicos executados no Rio de Janeiro, na madrugada desta quinta-feira, foram baleados, cada um, com cerca de cinco tiros, a maioria no peito. Eles estavam no Quiosque Naná 2, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, quando homens desceram de um carro branco na Av. Lúcio Costa, próxima à orla da praia, e efetuaram os disparos. A ação durou 25 segundos, nenhum pertence foi roubado. A Polícia Civil acredita que o crime pode ser engano, já que uma das vítimas, o ortopedista Perseu, tem aparência semelhante ao do miliciano Taillon, que mora naquela vizinhança.

A única vítima que levou tiro acima do pescoço foi Marcos de Andrade Corsato, de 62 anos. Ele era diretor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Nos vídeos das câmeras de segurança do quiosque, é possível ver que Marcos é o único que morre sentado em uma das cadeiras do local.

Um funcionário do quiosque afirmou que os médicos haviam pago a conta e aparentavam estar de saída do local. As câmeras de vigilância marcavam 0h59 desta quinta-feira quando um carro estacionou sobre a faixa de pedestres: com a luz de freio acionada, três homens armados desembarcaram, um por cada porta, e miraram no grupo de ortopedistas: Marcos de Andrade Corsato, de 62 anos; Perseu Ribeiro de Almeida, de 33; Diego Ralf Bomfim, de 35, e Daniel Sonnewend, de 32 anos.

Como aconteceu o ataque?
Por volta de 0h59, um carro branco para em frente ao estabelecimento e três bandidos armados descem do veículo atirando em direção as vítimas. Com os disparos, dois homens que faziam um lanche conseguem correr. Já quase em direção ao carro para fugir, o trio retorna e faz mais disparos contra as vítimas caídas no chão. Em seguida, eles entram no carro e fogem.

Os ortopedistas estavam no Hotel Windsor, que fica localizado em frente ao Quiosque Naná 2, onde o crime aconteceu, para assistir a um congresso da especialidade médica que acontece de quatro em quatro anos.

Os médicos chegaram na última quarta-feira num voo de Congonhas para o Santos Dumont. Segundo a TV Globo, os homens teriam ido ao quiosque assistir ao jogo do Fluminense. Dois deles apareciam com camisas de time. Os criminosos dispararam 33 tiros de pistolas 9mm.

Diego Ralf Bomfim, de 35 anos, é irmão da deputada federal pelo PSOL Sâmia Bomfim e cunhado do também deputado Glauber Braga, do mesmo partido. O médico chegou a ser levado para o Hospital Lourenço Jorge, mas não resistiu aos ferimentos.

Uma nota assinada pela deputada Fernanda Melchionna, que foi escolhida para falar em nome da família, afirma que Sâmia "está devastada nesse momento terrível de perda e dor, assim como o seu companheiro Glauber Braga, que a acompanha neste momento". Os parentes de Diego Bomfim prestaram solidariedade com os familiares de todas as vítimas do que chamaram de "crime bárbaro", agradeceram as mensagens de apoio que receberam e cobraram rigor nas investigações.

O Globo

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