Frente Parlamentar em Defesa da Gestão e Revitalização do Rio São Francisco é criada oficialmente

14 de Sep / 2023 às 20h30 | Variadas

Ao som do Hino Nacional, mas também de lamentos de viola caipira e clássicos regionais como “Asa Branca” e “Riacho do Navio”, ambas gravadas pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga e interpretadas no evento pelo músico mineiro Cowboy Estradeiro, foi criada oficialmente em Brasília, na quarta-feira (13), a Frente Parlamentar em Defesa da Gestão e Revitalização do São Francisco. Ao tom dessas lamentações pela situação de abandono do Velho Chico foram acrescidas promessas de ação e muitas acusações de agressões ao chamado Rio da Integração Nacional.

“Ele (o São Francisco) sofre e muito com a poluição, com o uso indiscriminado de agrotóxicos, com despejos de esgotos domésticos e industriais”, denunciou o deputado federal Paulo Guedes (PT/MG), escolhido para presidir a entidade. “Para piorar, há as ações desordenadas de mineradoras e garimpos, o desmatamento, a retirada de matas ciliares e o corte de nada menos que 47% da vegetação de toda a extensão de sua bacia – que equivalente a 8% do território nacional”, comentou o parlamentar.

Ele é natural de Manga, no Norte de Minas, e explicou que a frente vai estudar e discutir todas as questões relacionadas à recuperação, proteção e preservação do rio. Guedes reclama também da monocultura de eucalipto e pastagens desordenadas às margens do curso, das queimadas que secam e provocam a queda de barrancas e sedimentam e aterram o leito. Por isso, pediu a criminalização do desmatamento desordenado e a criação de programas de saneamento básico que ponham fim à poluição por esgotamento sanitário.

Maciel Oliveira, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) – instituição que há anos defende a criação da Frente -, festejou o fato. “Sonhávamos com essa oportunidade”. Segundo ele, “o envolvimento efetivo do parlamento brasileiro nessa ação servirá para mais do que uma recuperação ambiental do rio e suas bacias, mas para uma reabilitação social, cultural, tradicional dos povos que vivem ao seu entorno”, comentou Oliveira. Em seguida, pôs toda a experiência técnica, diversidade social e cultural, planos, projetos, Câmaras Técnicas do CBHSF à disposição dos parlamentares e seus assessores.

O vice-presidente da Frente, o deputado Pedro Campos (PSB-PE), comentou que o São Francisco oferece uma grande lição à vida política e social brasileira: a integração como exemplo, a partir de seus canais e afluentes, sem levar em conta disputas regionais menos relevantes, como divisas estaduais ou municipais – ou mesmo regionais. Também ressaltou a força das comunidades locais, elogiando, por exemplo, a campanha Vire Carranca, que desperta o orgulho e valoriza as tradições e culturas locais.

Ele também cobrou que os recursos oriundos da privatização da Eletrobras, já liberados para uso, na faixa dos R$ 350 milhões, sejam imediatamente aplicados nesse processo de revitalização e de melhoras no sistema de adutoras que levam a água a outros estados nordestinos, como Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. “É necessário que a água chegue às torneiras, não apenas aos canais de distribuição”, reforçou ele.

Otto Alencar, senador do PSD baiano, demonstrou grande conhecimento sobre os efeitos da degradação do São Francisco. “Já fiz várias expedições e visitas e sei que todos os biomas, da Mata Atlântica (em Minas) ao Mangue (na foz de Alagoas e Sergipe) estão comprometidos”. “Então devemos especial atenção ao primeiro, em Minas Gerais, onde o rio nasce, na Serra da Canastra. Para revitalizar um rio é fundamental fazer isso com as nascentes, com afluentes. Hoje, Belo Horizonte joga 30% do esgoto in natura no Rio das Velhas, que desemboca no São Francisco”, denunciou ele.

O evento também contou com a presença de vários órgãos federais, como Marinha do Brasil, Codevasf, Ministério do Desenvolvimento Regional, entre outros.

OPARÁ-Na língua indígena, o rio se chama Opará, o rio-mar: na época da sua descoberta, em 1501, ele entrava cerca de 10 quilômetros mar adentro; hoje, o mar o invade por cerca de 12 quilômetros. Ele passa por cinco estados e 521 municípios, nascendo em Minas Gerais e deságua na divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas, drenando uma área de 641 mil quilômetros quadrados. Sua bacia integra as regiões Nordeste e Sudeste do país, alcançando também municípios de Goiás e o Distrito Federal, no Centro-Oeste. Com o Projeto de Integração com outras bacias do Nordeste, suas águas também garantem segurança hídrica para 12 milhões de habitantes, em 390 municípios, nos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

CHBSF

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