Integração da natureza no cotidiano escolar permite novo olhar sobre questões ambientais

31 de Mar / 2023 às 13h00 | Variadas

O contato com a natureza promove diversos benefícios à saúde, o que não é nenhuma novidade. E atividades atreladas ao plantio, a vivências ao ar livre, por exemplo, contribuem para o bem-estar e podem, inclusive, ser boas aliadas da educação. Inserir práticas ligadas à natureza nas escolas pode apresentar benefícios didáticos, além de influenciar positivamente na preparação dos jovens para a vida. 

Foi o que aconteceu com a estudante de Publicidade e Propaganda, Sofia Essado, de 19 anos. “Durante a escola eu já tive várias aulas ligadas à natureza. Aula de artes, de dança, até de matemática e de geografia, aula de jardinagem”, conta. Sofia descreve que já teve diversas experiências pedagógicas atreladas à natureza como, por exemplo, pintar em aquarela e carvão observando sons, animais e paisagens na aula de artes.

Ela também teve a oportunidade, na escola, de observar e esculpir pássaros em argila e, em uma viagem na aula de matemática, sua turma foi a uma fazenda estudar os ângulos da natureza local. Também teve experiências com o plantio de árvores, frutas e verduras, colheita, poda etc.

Para ela, essas abordagens foram fundamentais em seu desenvolvimento pessoal e educacional. “Agregaram em minha formação fazendo com que eu tivesse outro olhar para minhas atividades, tanto para fazer um desenho quanto para prestar mais atenção em uma aula”, declara. 

Além disso, a estudante ressalta que experiências como essas durante a fase escolar permitem que os alunos tenham pensamentos mais aflorados. “Ajuda bastante, falando por experiência própria. Dá uma aliviada na cabeça, você consegue colocar melhor suas ideias no lugar”, pontua. 

Para o professor Marcelo Marini Pereira de Souza, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFLCRP) da USP, especialista na área de Política Ambiental, a integração da natureza no cotidiano dos estudantes permite a formação de um novo olhar sobre questões ambientais. “Inserir valores ambientais permite que as crianças adquiram esses valores, mudando o seu comportamento. A educação formal e não formal é a única maneira de você mudar seu comportamento”, aponta o professor. 

Segundo ele, o intuito é que a sociedade tenha um olhar, um comportamento diferente para as questões ambientais, sobre a biodiversidade, sobre a manutenção de áreas naturais, sobre o direito à vida dos não humanos que partilham o planeta. “E isso é dado pelas práticas e por esse cotidiano nas escola”, assegura.

O professor José Marcelino de Rezende Pinto, especialista em Políticas Educacionais, também da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, concorda sobre a essencialidade dessa integração e aponta como deve ser aplicada. “É fundamental, mas não pode entrar como uma matéria, um conteúdo. Tem que haver uma imersão da formação dessa criança no ambiente natural. Para isso, é fundamental que as escolas tenham muitas árvores, muito verde, que desenvolvam projetos, como uma horta de verduras, formação de mudas para arborização, uma praça próxima à escola ou no entorno, por exemplo. É fundamental que realmente seja algo associado à prática dessas crianças, porque senão vira mais um conteúdo escolar.”

ENSINO PARA A VIDA: Apesar de ser favorável, Pinto diz que a implementação desse tipo de ensino não é muito comum no Brasil, principalmente no ensino médio. “Nosso ensino médio é uma tragédia. E a universidade se torna responsável por isso porque existe um artigo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que diz que as instituições de educação superior devem sempre avaliar o impacto que os conteúdos dos processos seletivos exercem sobre o ensino médio e, no Brasil, é essa tragédia, porque todo o ensino médio é voltado para o vestibular”, argumenta.

De acordo com ele, o objetivo do ensino médio deveria ser mudado. “No mundo inteiro, ele é focado na preparação da pessoa para a vida. No Brasil, o ensino médio tem como referência preparar o futuro da juventude para uma prova extremamente limitada”, explica Pinto. “É um empobrecimento muito forte de uma formação de três anos que poderia ter outra visão de mundo, de formação básica. É a última etapa da formação básica e nós a transformamos em um cursinho. O nosso ensino médio hoje é um grande cursinho”, finaliza.

Jornal da USP

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