Livro revisita a cena musical de Zé da Flauta

08 de Mar / 2023 às 22h30 | Variadas

Músico, compositor e produtor cultural, Zé da Flauta também é um bom contador de histórias. Tempos psicodélicos e outros tempos, a ser lançado pela Cepe Editora, comprova tal habilidade.

No livro, ele conduz o leitor a fatos importantes da música pernambucana ocorridos nos últimos 50 anos. Alguns dos momentos já mereceram dissertações e teses, mas o autor faz o resgate com diferencial de quem participou ativamente deles, de maneira leve e, às vezes, com uma pitada de humor.

O lançamento será no dia 10 de março, às 19 horas, na loja Passa Disco, Espinheiro.

Em 300 páginas, os relatos do autor reúnem dados autobiográficos e da história política e cultural recente. O ponto de partida do livro, o primeiro do músico, são os efervescentes anos 1960, estendendo-se até a década passada. Entre os destaques, os anos 1970, período em que Zé da Flauta se junta a nomes como Lailson de Holanda (1952-2021) e Paulo Rafael (1955-2021) - com os quais fundou a banda Phetus -, Lula Côrtes (1949-2011), Zé Ramalho, Flaviola (1952-2021), Alceu Valença e a bandas, a exemplo de Ave Sangria, no Udigrudi pernambucano. Este, um movimento influenciado pela psicodelia do festival Woodstock, realizado em 1969 nos Estados Unidos.

O livro é resultado de cerca de uma década de anotações. "A ideia estava na minha cabeça há muito tempo. Então, abri uma pasta no computador e fui anotando o que gostaria de escrever", revela. A escrita se deu em curto tempo: dois meses. Zé da Flauta detalha que escreveu todos os textos entre outubro e novembro de 2020, em plena pandemia da covid-19, e com o propósito de mostrar o lado de alguém que viveu o movimento cultural pernambucano.

Zé da flauta lembra que existem muitas, e boas, teses acadêmicas sobre o movimento psicodélico nordestino. Os estudos, enfatiza, são focadas "em múltiplos ângulos, entre eles os culturais, históricos e sociológicos", mas que ele, o autor, sentia falta "de algo que pode concorrer para jogar um pouco mais de luz sobre essa 'agitação artística' ocorrida na década de 1970, que, de tão espontânea, não teve nem manifesto".

Assim, ao abordar os fatos, o autor traz detalhes dos fatos vividos por ele e desconhecidos do público, a exemplo do que se passou no I Parto da Música Livre do Nordeste, festival que reuniu bandas de rock e Luiz Gonzaga no Teatro de Santa Isabel, no Recife, e atraiu a imprensa local e nacional. O evento prometia muito, diz Zé da Flauta. "Seria uma noite de experimentalismo e rebeldia, mas não se limitava a isso. Tinha também o objetivo de aproximar ainda mais a nova cena musical do Recife com o regionalismo". Em meio aos gritos, performances e visuais excêntricos, no entanto, o Rei do Baião deixou o teatro de fininho.

"É claro que ele (Luiz Gonzaga) estava bem assessorado. Ou seja, pessoas que o acompanhavam entraram no teatro para verificar o clima predominante e devem ter dito a ele algo do tipo: a previsão é de muitos raios e trovões", descreve. No meio da "tempestade", completa o autor, Flaviola - poeta, cantor, compositor recifense e um dos principais nomes da cena musical psicodélica local - fez uma performance explicitamente homossexual, o que rendeu ao artista um convite para, no dia seguinte, dar umas explicações à Polícia Federal. Vivia-se a ditadura militar (1964-1985).

A experiência de Zé da Flauta como músico inclui trabalhos com o Quinteto Violado e Alceu Valença. Ao integrar o Quinteto, fez shows com Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Anastácia, a Banda de Pífanos de Caruaru, Jackson do Pandeiro, entre outros. "Eram encontros maravilhosos. Eu estava conhecendo pessoalmente e tocando com artistas dos quais há vários anos eu comprava os discos e admirava bastante", acrescenta.

No livro, Zé da Flauta resgata sua participação nas gravações dos discos Coração Bobo, Cinco Sentidos e Cavalo de Pau de Alceu Valença, bem como em turnês internacionais e festivais, como Rock in Rio (1985). "Eu não só tocava flauta, também compunha e colaborava nos arranjos. Foi no disco Cinco Sentidos que gravei minha primeira parceria com Alceu", diz. A música era Fé na perua. Depois vieram Escorregando no pífano e Rajada de vento.

Produção cultural-Sobre a condição de produtor, o autor detalha no livro experiências que contribuíram para alavancar a carreira de Lenine e do alagoano Carlos Moura, compositor e intérprete de Minha Sereia, e bandas como Cascabulho e Querosene Jacaré. Entre as produções de caráter único, cita uma em que o grupo Hanagorik, da cidade de Surubim e com visibilidade internacional, dá uma roupagem de rock a gravações de Alceu Valença.

Outras produções singulares, datadas de 1981, foram os quatro LPs dos forrozeiros Toinho de Alagoas, Zé Orlando, Heleno dos Oito Baixos e Duda da Passira. Dois dos quatro discos, os de Toinho e Zé Orlando, foram lançados, mas pouco sucesso fizeram. Por anos, os dois discos lançados ficaram esquecidos nas prateleiras da gravadora Vison (RJ), sendo descobertos pelo norte-americano Gerald Seligman, consultor musical das gravadoras Rounder Records, dos Estados Unidos, e Globstyle, da Inglaterra. Seligman gostou do que ouviu e também das fitas de Heleno e Duda e juntou tudo no CD Brazil Forró, que rendeu a indicação como finalista ao Grammy, na categoria Tradicional Folk. O primeiro lugar não veio, mas o reconhecimento mundial ao trabalho de José Vasconcelos de Oliveira, nome de batismo de Zé da Flauta, sim.

Serviço: Lançamento do livro Tempos psicodélicos e outros tempos

Quando: 10 de março, sexta-feira

Horário: 19h

Onde: Loja Passa Disco

Endereço: R. da Hora, 345 - Espinheiro - Galeria Hora Center

 Entrada franca

Ascom

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